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14/02/2003 - 02h30

"Quem Sabe?" interroga significados do cinema e do amor

SILVANA ARANTES
da Folha de S. Paulo

Entre todas as dúvidas sobre o amor, essa não é a mais comum: "Saber quem eu amo me ajuda a entender quem eu sou?".

Quem formula a pergunta é a atriz francesa Jeanne Balibar. Mas quem se debate com a questão é Camille, sua personagem em "Quem Sabe?", novo filme de Jacques Rivette, 74.

É, no entanto, nos assuntos alheios ao amor que a atriz enxergou o maior atrativo da obra. "O que mais me interessou nesse filme é que ele não trata apenas de relações afetivas", diz.

De fato, o romance permeia "Quem Sabe?", mas cada um de seus personagens busca muito mais que um par.

A trama gira ao redor de uma trupe teatral italiana, que chega a Paris em turnê com uma montagem de Pirandello ("Come Tu Mi Vuoi"). A volta à França é a oportunidade para Camille reavaliar o fim de um antigo amor que deixou na cidade e descobrir se o homem com quem viveu mantém seus metódicos hábitos, agora ao lado de outra mulher.

A temporada francesa é oportunidade também para Ugo (Sergio Castellitto), atual marido de Camille e diretor da peça, vasculhar arquivos e bibliotecas, atrás de uma sonhada pequena jóia, um texto inédito do dramaturgo Carlo Goldoni (1707-1793).

Uma vez diante de seu achado, Ugo estará de volta ao começo da busca _um debate interior que envolve o valor monetário e o alcance simbólico da arte.

Além do triângulo formado pelo diretor, sua atriz e o ex-marido dela, o filme acompanha outra série de personagens, com seus próprios embates. Na busca por Goldoni, Ugo conhecerá uma jovem apaixonada por livros e bibliotecas e sua família. A nova mulher do ex de Camille também terá suas questões particulares.

Teatro

"Quem Sabe?" pendula entre o teatro _de Pirandello, "com uma mise-en-scène deliberadamente enfática", ressalta Balibar_ e o cinema de Rivette.

"Não interpretávamos para uma platéia, e sim para a câmera. O que importava nas cenas teatrais não era propriamente a peça, mas o que acontecia aos personagens durante o seu trabalho", afirma a atriz.
Realizador de filmes como "A Religiosa", "Paris nos Pertence", "Bela Intrigante" e "Jeanne La Pucelle" (sobre Joana d'Arc, com seis horas de duração), Rivette é um dos mais renomados cineastas franceses.

Com "Quem Sabe?" fez outro filme no gênero a que pertence _o do cinema de autor. Mas teve de transigir um pouco mais na adaptação desse trabalho aos padrões de viabilidade comercial.

O filme que estréia hoje no Brasil (e que concorreu à Palma de Ouro em maio do ano passado, em Cannes) tem 154 minutos. Um "Quem Sabe?" mais extenso, com quatro horas de duração, foi exibido durante um mês em uma sala de Paris, sob a senha "versão do diretor". É a que Balibar prefere.

"Na versão longa, o papel de Camille é mais bonito, mais complexo e mais caótico, como, aliás, todo o filme. Na versão curta, Camille é sempre sombria, melancólica, está do lado da Lua", diz.

A atriz conta que o filme foi reduzido por exigência de seus produtores, mas Rivette não se entristeceu. "Ele acabou ficando muito satisfeito de haver conquistado, pela primeira vez, um público de 350 mil espectadores."

"Quem Sabe?" é o 16º longa-metragem na carreira do diretor e o 21º na de Balibar, 33. A atriz diz que, depois de ser dirigida pelo cineasta, teve "a sensação de que poderia parar de fazer cinema".
"Foi tão bom, tão fácil e tão exatamente o tipo de coisa que tenho vontade de fazer, que passei a me lixar para o resto", diz.

Não todo o resto. Ela filma agora com o inglês Michael Winterbottom o longa "Code 46". "Não sei se esse filme vai ser bom, mas aceitei porque queria muito interpretar a mulher de Tim Robbins."
 

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