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23/02/2003 - 03h15

Documentaristas contam suas aventuras em busca de imagens para TV

FERNANDA DANNEMANN
da Folha de S.Paulo

Depois de dois dias filmando apenas os olhos dos crocodilos num pântano indiano onde havia aproximadamente 200 deles, o especialista Brady Barr, responsável pela série "As Aventuras do Dr. Croc", atualmente em sua segunda temporada no canal pago National Geographic Channel, decidiu tomar uma atitude drástica: entrou na água.

"O pântano estava escuro por causa da vegetação, e o guia advertiu para a rapidez do ataque. Armamos o equipamento, e, quando a água estava até os joelhos, um crocodilo veio de onde eu menos esperava e mordeu minha panturrilha direita. A dor foi lancinante, mas consegui sair dali antes de me transformar no lanche da tarde", diz Barr, que também já foi atacado por várias cobras -entre elas uma anaconda.

Garantia de audiência nos canais pagos National Geographic, Discovery Channel e Animal Planet -que não divulgam seus números- os documentários sobre o ecossistema na TV paga têm, na maioria do seu público, pessoas com mais de 18 anos e da classe média/alta.

Na Cultura, único canal aberto a ter um programa especificamente nessa linha, o "Planeta Terra", a audiência registra média de quatro pontos (cada ponto equivale a 47 mil domicílios na Grande SP) e é formada em aproximadamente 50% pela classe C.

Com orçamentos variando entre US$ 500 mil e US$ 2 milhões, esse tipo de documentário é uma perigosa aventura para as equipes, que passam de semanas a anos atrás das imagens.

A série "África Selvagem", co-produção da inglesa BBC e do Discovery Channel, veiculada pela Cultura em janeiro e fevereiro deste ano e que terá nova temporada no segundo semestre, é um exemplo de megaprodução: consumiu 1.500 rolos de filme, percorreu 22 países desbravados em 53 viagens, durou 18 meses e envolveu 140 cientistas, 26 cinegrafistas e 16 produtores.

"SuperCroc", do National Geographic, com Brady Barr -do "Dr. Croc"-, custou US$ 2 milhões e levou quase dois anos para ser produzido, na Índia, Austrália, Costa Rica, África e nos EUA.

Aventura

Para o produtor Andrew Murray, 35, que integrou a equipe do "África Selvagem", o pior lugar para trabalhar é a floresta tropical, embora no deserto a temperatura seja superior a 45 graus.

"Elas são escuras e úmidas, e para filmar acima das copas, onde a luz é boa, temos que subir com a câmera a 60 metros acima do solo", diz ele.

Segundo Murray, ser "forasteiro" em ambientes hostis é um dos grandes riscos do seu trabalho."Os fungos estão a um palmo da lente da câmera, e as doenças são um problema para nós. Às vezes, nos sentimos explorados por insetos", diz ele, lembrando que as dificuldades de locomoção também são extremas. "Para chegar a alguns lugares, a viagem leva mais de uma semana mesmo com carro, avião e canoa", afirma.

Produtor do programa "Jeff Corwin em Ação", do Animal Planet, Jud Cremata, 35, diz que seu trabalho é "exaustivo". "Acordamos às 4h e trabalhamos até a madrugada seguinte. Como os animais dormem à tarde, nós dormimos também, se a temperatura for suportável. Temos um dia de descanso para cada dez de trabalho."

No processo de captação das cenas, a equipe caminha silenciosamente pela selva, e todos pisam nas pegadas do primeiro da fila, para evitar as cobras. Mas Cremata diz que não há regras.

"Há dias em que corremos feito loucos atrás de um animal, como fizemos com um tamanduá-bandeira que encontramos: corremos, filmando, até que o tamanduá ou nós mesmos cansássemos."

Pesquisa

Os preparativos começam meses antes das viagens. Dirk Hoogstra, supervisor de produção do Discovery Networks International, afirma que pesquisa é a "palavra-chave".

"Raramente partimos para uma expedição sem as melhores informações possíveis. Também é fundamental contratar alguém que conheça o processo de passar o equipamento na alfândega do país para onde iremos."

Segundo Hoogstra, é impossível dizer o tempo médio de filmagem. "Já trabalhei em projetos de três e de 12 semanas; alguns levam até anos", afirma ele, que nunca foi atacado por nenhum animal. "Mas achei que fosse morrer nos oito minutos em que filmei na cabine do helicóptero que ergueu um mamute da permafrost [camada de solo quase impermeável impregnada de gelo] na Sibéria. Foram oito longos minutos", relembra.

Jud Cremata, da equipe de Jeff Corwin, lembra que conseguir permissão para filmar pode levar meses. "Já aconteceu de conseguirmos um dia antes de a equipe entrar no avião", diz.

Para Brady Barr, o especialista em crocodilos, é fundamental ter guias locais. "O público nos vê como Indiana Jones, e fico irritado com esse clichê pouco científico. Sem o apoio dos nativos -que nos ensinam quais os cuidados a tomar-, meu conhecimento científico não adiantaria nada", diz Barr.
 

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