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06/03/2003
-
07h16
Crítico da Folha de S.Paulo
A TV Globo cobriu os desfiles de Carnaval com a mesma moral cristã que lhe falta, segundo os mais pudicos, nos teledramas de rotina.
Contradições do sistema, como diziam os bravos comunistas de antanho.
Nessa cruzada, o derière nacional, tão abusado em outros verões, cedeu lugar às siliconadas comissões de frente - tendência da era Gisele Bündchen contra a nossa linda vocação para a "tanajurice" mestiça.
A sóbria narrativa de Cléber Machado -um anti-Galvão Bueno por excelência- e Maria Beltrão foi menosprezada pela falta de boas imagens (ou a escolha das imagens exibidas, sabe-se lá) pela emissora. O que obrigava a dupla, que tem informação, ao clássico enchimento de linguiça, o esporte mais antigo desse tipo de evento.
Restava falar sobre os famosos. Visto pela TV, o desfile não tem um desconhecido nem um banguela sequer. É uma grande aliança entre o Projac e a Ilha de Caras, com o patrocínio da cervejaria-mãe. Nesse mundo, até os anônimos são célebres, como no livro de Ignácio Loyola Brandão.
O camarote é o altar-mor do culto à fama e ao desequilíbrio. Seja no túmulo do samba, no Rio ou na "Triste Bahia" de Gregório de Mattos, onde sentou praça TV Bandeirantes. Com uns apresentadores viajando no dendê, caso de Leão, a maior audiência da emissora no momento, que mal sabia o batismo dos blocos.
Como o populacho fica fora da corda das ruas, área privatizada pela indústria do abadá, restou à Band uns planões genéricos da massa. E camarote. Haja camarote. Com direito ainda ao camarote do poder tropicalista, o Expresso 2.222 do ministro Gil, 16 toneladas de autoridades e xeleléus.
A Rede TV! não quis saber de arrodeios ou prosopopéias. Se televisão é circo, arriba com a lona, moçada. A Babilônia do grotesco. Ressuscitaram até o ET, aquela criatura que já ajudou o Gugu na guerra domingueira. O papel do medonho é levar cascudos e pontapés. O carrasco da vez é um tal de Dudu, mais insosso e sem graça que sopa de infartado.
O resto da equipe invadia os barracões das escolas bastidores, segundo as vinhetas, para mostrar as modelos/atrizes. Chegavam a pegar no tapa-sexo das mesmas. Também conferiam o que era original ou dádiva do silicone. Enfim, alguém para mostrar que, mesmo sendo de origem cristã, o Carnaval, essa farra de boêmios amadores, ainda se presta a algum tipo de sacanagem.
Carnaval é reunião do Projac e Ilha de Caras
XICO SÁCrítico da Folha de S.Paulo
A TV Globo cobriu os desfiles de Carnaval com a mesma moral cristã que lhe falta, segundo os mais pudicos, nos teledramas de rotina.
Contradições do sistema, como diziam os bravos comunistas de antanho.
Nessa cruzada, o derière nacional, tão abusado em outros verões, cedeu lugar às siliconadas comissões de frente - tendência da era Gisele Bündchen contra a nossa linda vocação para a "tanajurice" mestiça.
A sóbria narrativa de Cléber Machado -um anti-Galvão Bueno por excelência- e Maria Beltrão foi menosprezada pela falta de boas imagens (ou a escolha das imagens exibidas, sabe-se lá) pela emissora. O que obrigava a dupla, que tem informação, ao clássico enchimento de linguiça, o esporte mais antigo desse tipo de evento.
Restava falar sobre os famosos. Visto pela TV, o desfile não tem um desconhecido nem um banguela sequer. É uma grande aliança entre o Projac e a Ilha de Caras, com o patrocínio da cervejaria-mãe. Nesse mundo, até os anônimos são célebres, como no livro de Ignácio Loyola Brandão.
O camarote é o altar-mor do culto à fama e ao desequilíbrio. Seja no túmulo do samba, no Rio ou na "Triste Bahia" de Gregório de Mattos, onde sentou praça TV Bandeirantes. Com uns apresentadores viajando no dendê, caso de Leão, a maior audiência da emissora no momento, que mal sabia o batismo dos blocos.
Como o populacho fica fora da corda das ruas, área privatizada pela indústria do abadá, restou à Band uns planões genéricos da massa. E camarote. Haja camarote. Com direito ainda ao camarote do poder tropicalista, o Expresso 2.222 do ministro Gil, 16 toneladas de autoridades e xeleléus.
A Rede TV! não quis saber de arrodeios ou prosopopéias. Se televisão é circo, arriba com a lona, moçada. A Babilônia do grotesco. Ressuscitaram até o ET, aquela criatura que já ajudou o Gugu na guerra domingueira. O papel do medonho é levar cascudos e pontapés. O carrasco da vez é um tal de Dudu, mais insosso e sem graça que sopa de infartado.
O resto da equipe invadia os barracões das escolas bastidores, segundo as vinhetas, para mostrar as modelos/atrizes. Chegavam a pegar no tapa-sexo das mesmas. Também conferiam o que era original ou dádiva do silicone. Enfim, alguém para mostrar que, mesmo sendo de origem cristã, o Carnaval, essa farra de boêmios amadores, ainda se presta a algum tipo de sacanagem.
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