Publicidade
Publicidade
07/03/2003
-
03h51
da Folha de S.Paulo
Um líder carismático que declama seus ideais, uma platéia hipnotizada e o espetáculo está montado. Fidel Castro ou Elvis Presley? Não são poucos os músicos que extrapolam as fronteiras entre um show de rock e um comício. Na longa tradição que mistura música e política, o grupo galês Manic Street Preachers divide opiniões desde que estreou, com "Generation Terrorists" (1992).
As causas para tal desconfiança não são poucas. Com um pé no puro marketing e outro no engajamento em causas diversas, os "pregadores maníacos da rua" vão compondo a trilha sonora dos tempos de sentimentos antibélicos e antiimperialistas.
Contradições acompanham o grupo: antes da estréia, declararam que toda banda deveria acabar após o primeiro CD; não só não o fizeram como lançaram o sétimo, a coletânea "Forever Delayed" (continuamente adiado). A despeito das críticas ao capitalismo, são bancados pela Sony.
"Quando éramos mais jovens, éramos niilistas, queríamos destruir tudo. Tivemos a chance de começar novamente, com mais otimismo para encontrar algumas respostas em nossa música", diz o vocalista James Dean Bradfield, 34, em entrevista à Folha.
"Não acho que realmente exista espaço para ideologias na música. Acredito que há espaço para um pouco de consciência. Como vim da classe trabalhadora, política tornou-se algo muito presente na música do Manics."
A fórmula faz sucesso: a canção "If You Tolerate This Your Children Will Be Next", de 1998 (se você tolerar isso, seus filhos serão os próximos -referência ao lema da Brigadas Internacionais que combateram o fascismo na Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 39) foi número um nas paradas britânicas. "Você deve pegar coisas que aconteceram no passado e que, de alguma forma, podem influenciar o futuro, colocar em discussão um assunto que faz falta."
Outras atitudes, como o histórico show que fizeram em 2001 no teatro Karl Marx, em Cuba -foi a primeira banda não-comunista a tocar em Havana desde 1979-, soam ambíguas. O encontro com o ditador Fidel Castro foi um encontro artístico ou marketing?
"Queríamos tocar num lugar onde não houvesse nenhum tipo de cultura rock ou pop, onde não houvesse preconceito em relação à nós. Queríamos nos comunicar apenas através de nossa música."
Se músicas como "Baby Elián", de 2001 (onde cantam: "América, o playground do demônio", sobre o garoto que tentou fugir de Cuba), fazem supor que Castro é um ídolo da banda, Bradfield nega. "Não queria ser usado como propaganda política. Ele não é um ídolo para mim, mas sim um ícone antiimperialismo, fato importante no sentido cultural. Fiquei surpreso ao ver como os sistemas de saúde e educação funcionam, apesar do embargo. Mas há questões difíceis de concordar, como a falta da liberdade de expressão."
O Manics -apelido da banda na Inglaterra- praticamente reconta sua história com "Forever Delayed". Antes de enveredar pela fase atual, mais melódica, o grupo representou, nos anos 90, uma das principais respostas britânicas ao grunge americano. Pode-se até dizer que eram o equivalente inglês da banda Nirvana, devido às semelhanças autodestrutivas entre seu vocalista Kurt Cobain (1967-1994) e o guitarrista e letrista do Manics, Richey James.
Em 1995, o Manics protagonizou um dos episódios mais folclóricos do rock. Cada vez mais magro e deprimido, James, após uma internação psiquiátrica, simplesmente desapareceu e até hoje não foi encontrado.
Seu carro foi localizado semanas depois, perto de uma ponte procurada por suicidas. Na polícia do País de Gales, o processo continua em aberto. Volta e meia circulam boatos sobre supostas aparições de James ao redor do mundo.
Causa surpresa que apenas uma música ("Faster") do disco "The Holy Bible" (1994), considerado o ápice criativo da banda, tenha sido incluído na coletânea. Bradfield, no entanto, nega que a intenção tenha sido apagar a influência sombria de James. "Ele está na capa. Senti, neste disco, como se ele ainda fosse um integrante. Apesar de não vê-lo há tantos anos, ainda sinto como se ele fosse um amigo próximo, afinal, há muitas músicas dele aqui."
Manic Street Preachers recontam sua história
BRUNO YUTAKA SAITOda Folha de S.Paulo
Um líder carismático que declama seus ideais, uma platéia hipnotizada e o espetáculo está montado. Fidel Castro ou Elvis Presley? Não são poucos os músicos que extrapolam as fronteiras entre um show de rock e um comício. Na longa tradição que mistura música e política, o grupo galês Manic Street Preachers divide opiniões desde que estreou, com "Generation Terrorists" (1992).
As causas para tal desconfiança não são poucas. Com um pé no puro marketing e outro no engajamento em causas diversas, os "pregadores maníacos da rua" vão compondo a trilha sonora dos tempos de sentimentos antibélicos e antiimperialistas.
Contradições acompanham o grupo: antes da estréia, declararam que toda banda deveria acabar após o primeiro CD; não só não o fizeram como lançaram o sétimo, a coletânea "Forever Delayed" (continuamente adiado). A despeito das críticas ao capitalismo, são bancados pela Sony.
"Quando éramos mais jovens, éramos niilistas, queríamos destruir tudo. Tivemos a chance de começar novamente, com mais otimismo para encontrar algumas respostas em nossa música", diz o vocalista James Dean Bradfield, 34, em entrevista à Folha.
"Não acho que realmente exista espaço para ideologias na música. Acredito que há espaço para um pouco de consciência. Como vim da classe trabalhadora, política tornou-se algo muito presente na música do Manics."
A fórmula faz sucesso: a canção "If You Tolerate This Your Children Will Be Next", de 1998 (se você tolerar isso, seus filhos serão os próximos -referência ao lema da Brigadas Internacionais que combateram o fascismo na Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 39) foi número um nas paradas britânicas. "Você deve pegar coisas que aconteceram no passado e que, de alguma forma, podem influenciar o futuro, colocar em discussão um assunto que faz falta."
Outras atitudes, como o histórico show que fizeram em 2001 no teatro Karl Marx, em Cuba -foi a primeira banda não-comunista a tocar em Havana desde 1979-, soam ambíguas. O encontro com o ditador Fidel Castro foi um encontro artístico ou marketing?
"Queríamos tocar num lugar onde não houvesse nenhum tipo de cultura rock ou pop, onde não houvesse preconceito em relação à nós. Queríamos nos comunicar apenas através de nossa música."
Se músicas como "Baby Elián", de 2001 (onde cantam: "América, o playground do demônio", sobre o garoto que tentou fugir de Cuba), fazem supor que Castro é um ídolo da banda, Bradfield nega. "Não queria ser usado como propaganda política. Ele não é um ídolo para mim, mas sim um ícone antiimperialismo, fato importante no sentido cultural. Fiquei surpreso ao ver como os sistemas de saúde e educação funcionam, apesar do embargo. Mas há questões difíceis de concordar, como a falta da liberdade de expressão."
O Manics -apelido da banda na Inglaterra- praticamente reconta sua história com "Forever Delayed". Antes de enveredar pela fase atual, mais melódica, o grupo representou, nos anos 90, uma das principais respostas britânicas ao grunge americano. Pode-se até dizer que eram o equivalente inglês da banda Nirvana, devido às semelhanças autodestrutivas entre seu vocalista Kurt Cobain (1967-1994) e o guitarrista e letrista do Manics, Richey James.
Em 1995, o Manics protagonizou um dos episódios mais folclóricos do rock. Cada vez mais magro e deprimido, James, após uma internação psiquiátrica, simplesmente desapareceu e até hoje não foi encontrado.
Seu carro foi localizado semanas depois, perto de uma ponte procurada por suicidas. Na polícia do País de Gales, o processo continua em aberto. Volta e meia circulam boatos sobre supostas aparições de James ao redor do mundo.
Causa surpresa que apenas uma música ("Faster") do disco "The Holy Bible" (1994), considerado o ápice criativo da banda, tenha sido incluído na coletânea. Bradfield, no entanto, nega que a intenção tenha sido apagar a influência sombria de James. "Ele está na capa. Senti, neste disco, como se ele ainda fosse um integrante. Apesar de não vê-lo há tantos anos, ainda sinto como se ele fosse um amigo próximo, afinal, há muitas músicas dele aqui."
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice