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16/08/2000 - 05h12

Para Globo, presença de artistas veteranos no Festival da Música Brasileira é casual

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da Folha de S.Paulo

Ao colocar a revelação de novos nomes da MPB como um de seus objetivos primordiais, a Globo é forçada a se defender da presença considerável de artistas já revelados e de veteranos no Festival da Música Brasileira versão 2000. "Se forem cinco em 48 é muito. Os outros são todos
desconhecidos", minimiza Roberto Talma.

Entre os autores concorrentes estão "velhos de guerra" como Walter Franco (será seu quinto festival desde 72), Toninho Horta (filiado ao clube da esquina dos 70), o sambista Moacyr Luz (parceiro de João Bosco), Zé Renato (ex-Boca Livre), os neotropicalistas dos 80 José Miguel Wisnik e Luiz Tatit, o dos 90 Chico César.

Entre os intérpretes, comparecem Dominguinhos, Premeditando o Breque, Olivia Byington (frequentadora do Festival MPB Shell 81) e Mônica Salmaso (já revelada algumas vezes, inclusive no Prêmio Visa de MPB de 99).

"Muita gente conhecida foi desclassificada. Os jurados selecionaram sem saber os nomes dos concorrentes, e não houve restrições a ninguém", diz Talma.

Nenhuma restrição? "Evitamos músicas ufanistas, músicas sobre o Descobrimento do Brasil", diz o coordenador Solano Ribeiro. "Há temas sociais, mas ninguém quer derrubar governante."

Walter Franco

Do outro lado do muro, um artista como o cantor e compositor paulistano Walter Franco, 55, também se vê forçado a justificar sua presença em mais um festival.

Para ele, classificar a canção "Zen" (dele sobre poema de sua ex-mulher, Cristina Villaboim, a ser apresentada neste sábado) tem sabor de componente a mais de nova fase de maré cheia em uma carreira inconstante.

Ele já trabalha com intensidade no primeiro álbum que lançará em 17 anos (não gravava desde "Walter Franco", de 82). Bancado pela jovem gravadora YBrazil?, será o sexto em 27 anos de carreira discográfica; está prometido, inicialmente, para outubro.

A retomada se iniciou, segundo ele, a partir da produção do documentário "Walter Franco Muito Tudo" (dos jovens Bel Bechara e Sandro Serpa), depois premiado na edição 2000 do Festival É Tudo Verdade. Por intermédio deles, chegou ao jornalista Alex Antunes e, por este, à YBrazil?.

Indiretamente, Franco atende ao rótulo: desde 72, quando causou polêmica ao apresentar no 7º Festival Internacional da Canção a radical (não) canção pós-tropicalista "Cabeça" -desclassificada sob o protesto de um júri que incluía Nara Leão e Rogério Duprat-, sua imagem tem dependido dos festivais para voltar à tona.

Dali em diante, ficou em terceiro lugar no Festival Abertura de 75, com "Muito Tudo"; em segundo no festival de 79 da Tupi, com "Canalha"; e participou do MPB Shell 81, da Globo, com "Serra do Luar" ("ficou entre as 12").

Afagando a classificação habitual de seu disco "Ou Não" (73) como um dos mais radicais da história da MPB, reflete sobre a aceitação de seu nome na mídia: "O mercado ficou limitado para artistas com proposta de participação, de experimentalismo. A alma do país foi colocada de lado em função da indústria imediatista. Fomos instados a pensar com o traseiro, não com a cabeça. Esta é uma geração muito sacrificada".

Desse veio ele tira o início da defesa de seu eterno retorno aos festivais: "Já que lidei diretamente com a censura política em 72, minha função hoje talvez seja lutar contra a censura estética".

"Me perguntam hoje sobre o festival como se o tempo tivesse parado, como se eu tivesse sido criogenado. Mas comecei do mais radical, falando em pleno governo militar "a cabeça pode, irmão/ a cabeça explode ou não", para depois chegar à simplicidade."

Seria esse o momento de agora, de "Zen"? "Venho me aperfeiçoando musicalmente e literariamente, para não soar musak, descartável. Hoje busco o humor, a ironia, a provocação, em um grau muito mais sutil, onde delicadeza e alegria se façam presentes."

Não seria parte de um círculo vicioso mais uma volta a um festival de exposição de novos talentos? "Minha trajetória não é só de participar de festival, tenho uma carreira sedimentada. Entrei para valer, não só para mostrar minha cara, mas para colocar meu trabalho em julgamento."

Mas um artista com sua bagagem precisaria se submeter a esse tipo de julgamento? "Qual seria minha alternativa, permanecer distante como quem se põe num degrau superior? Se eu tivesse perdido a coerência, aí sim... Não houve isso. Os consagrados deveriam ter a humildade de submeter seu trabalho com o dos iniciantes."
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

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