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18/03/2003 - 07h21

Fotógrafos levam o transitório ao cubo em exposição

EDER CHIODETTO
da Folha de S.Paulo

Revestida de preto, tal qual uma câmara escura, a Galeria Vermelho, em São Paulo, inaugura hoje, às 20h, exposição conjunta dos fotógrafos Cris Bierrenbach e Rogério Canella, fotógrafo da Revista da Folha, além de intervenções artísticas de Andrezza Valentin, Chiara Banfi e Clarissa Tossin ao som da DJ Maria.

O espaço externo do cubo branco, idealizado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha para delimitar o espaço expositivo da galeria, se tornou silencioso e quase ausente ao ser totalmente pintado de preto pela artista plástica Andrezza Valentin. Intervenção que busca sublinhar as obras expostas em detrimento do entorno, além de estabelecer uma relação direta com questões caras à fotografia, como o branco/negro, positivo/ negativo, ausência/presença sobre as quais os trabalhos de Bierrenbach e Canella discorrem no interior do mesmo cubo.

"O Lugar do Homem", de Canella, mostra imagens em grandes formatos que investigam áreas da cidade em processo de demolição e reconstrução. Essas edificações flagram o hiato de tempo entre o que está desaparecendo e o que está por vir. O vácuo espaço-temporal de um não-lugar. A argamassa esfacelada, os tijolos quebrados e o ferro retorcido denotam a idéia de morte/renascimento, passagem do tempo, vestígios das histórias do homem que habita a metrópole, esse cenário em ruínas.

Ao fotografar a mesma cena de dia e de noite, para construir seus dípticos, Canella cria uma sintaxe particular com dois enfoques narrativos que se complementam e se contradizem ao serem flagrados em situações distintas de luminosidade. "O Lugar do Homem" pode ser também um amontoado de lixo espalhado por uma calçada. Entre os dejetos, em meio àquilo que é descartado, que a ninguém mais interessa, o artista percebe e revela o transitório, a aceleração. A narrativa da obra de Canella tem sempre o homem como epicentro embora esse nunca apareça de fato.

Coube ao curador Eduardo Brandão sugerir a possibilidade de diálogo deste trabalho com "A Operação Ilegal", de Cris Bierrenbach. Pesquisadora obsessiva de antigas técnicas de fotografia, Bierrenbach apresenta uma série de daguerreótipos, processo que remonta à invenção da fotografia, em 1839, por Louis-Jacques Mandé Daguerre (1789-1851), pintor e físico francês.

No daguerreótipo a imagem é formada sobre uma fina camada de prata polida, aplicada sobre uma placa de cobre e sensibilizada em vapor de iodo, por exemplo. As delicadas imagens que resultam desse processo podem ser positivas ou negativas, dependendo do ângulo de visão e da incidência da luz.

Algumas das imagens de Bierrenbach foram colocadas nos cantos da galeria gerando uma imagem dentro da outra. Tal somatória resulta num jogo dialógico onde o observador pode ver na mesma imagem uma série de combinações que oscilam entre negativo e positivo, branco e preto, além de um alfabeto particular de gestos de mãos e braços.

Partindo de outro lugar e utilizando da metalinguagem, Bierrenbach alcança também o terreno do impermanente e do instável por onde seu trabalho e o de seu companheiro de espaço nos colocam diante da volatilidade do tempo.

Mas a inquietação da artista vai além. No andar superior da galeria, a fotógrafa apresenta a série "Retratos Íntimos (Fotografia Transparente)". São cinco radiografias que exibem a artista internamente da altura do estômago até os joelhos. Em cada uma delas, Bierrenbach introduziu pela sua vagina diferentes objetos cortantes e pontiagudos envoltos em vaselina, gerando imagens perturbadoras.

Diante de tais fotografias, emerge a sensação da existência de um campo magnético pelo qual o olhar é bruscamente capturado sem definir, no entanto, se a sedução se dá pela atração ou repulsão, justapostas em alta voltagem.

Abre-se mais uma possibilidade semântica, mais alguns binômios que irão desaguar no desejo, masculino/feminino, prazer/dor e tantas outras lutas internas que cabem tanto no espaço de um corpo como num cubo revestido de preto. Diante de tanta dialética, Octavio Paz dá uma dica: "... a luta se resolve no poema, com o triunfo da imagem que abraça os contrários sem aniquilá-los".

EXPOSIÇÃO CRIS BIERRENBACH E ROGÉRIO CANELLA
Quando: abertura hoje às 20h (de amanhã até 17 de abril, de ter. a sex., das 10h às 19h, e sáb., das 10h às 17h)
Onde: Galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350, Higienópolis, SP, tel. 0/xx/11/3257-2033)
Quanto: entrada franca (Obras de R$ 2.000 a 4.000)
 

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