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19/03/2003 - 08h07

Cesar Camargo Mariano faz show no Sesc Vila Mariana

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Mesmo com disco e show na praça, o paulista Cesar Camargo Mariano, 59, é um homem de bastidor. Era músico acompanhante quando Wilson Simonal era o artista mais popular do Brasil. Foi marido e diretor de Elis Regina durante um de seus auges, nos anos 70. Hoje, acompanha com estudada distância Maria Rita Mariano, sua filha com Elis.

"Gosto de tocar piano e compor, mas o grande barato para mim é lá atrás. A paixão da minha vida é fazer arranjos, é o bastidor", confidencia já ao final de entrevista à Folha, na antevéspera de tomar a boca do palco em São Paulo, nos shows de hoje e amanhã, no Sesc Vila Mariana.

Não consegue explicar claramente se também vê a semelhança entre a filha e a ex-mulher, que tem assombrado o público do minúsculo Supremo Musical, em que ela tem aparecido.

"Como profissional e membro da família, acho que é natural o que está acontecendo com ela, por ser filha da Elis. O público sente vontade de matar saudades da mãe, o que também acho natural", explica.

Logo em seguida, ele faz as ressalvas: "Mas fico na esperança de que tudo isso leve à descoberta das virtudes e do grande poder próprio dessa nova artista que ela é. Incomoda a nós da família a expectativa sobre em que hora vão olhar para ela, somente para ela".

A seguir, Mariano fala sobre os filhos (entre os quais o cantor Pedro Mariano e o diretor da gravadora Trama João Marcello Bôscoli, criado por ele apesar de ser filho do ex-marido de Elis Ronaldo Bôscoli). E sobre Elis, e (com lágrimas nos olhos) sobre Simonal.

FILHOS - "É diferente cantar em casa e no palco. Em casa não dava para perceber a grande musicalidade que meus filhos têm. Eles cresceram no colo de Milton Nascimento, de João Bosco, no meu. É inevitável, é isso mesmo. Eu fico à distância, mesmo, no que se refere a filho. Na fase da descoberta do talento, do dom, me afasto, por respeito. O saudável é eles estarem com a turma deles, isso é terrivelmente saudável."

MARIA RITA - "O trabalho de Maria Rita precisa ter cara nova, jeito novo, som novo, até roupa nova. Não pode andar para trás. Sei que tenho experiência e vivência suficiente para atuar em qualquer gênero, independentemente de época. Eu faria um trabalho com ela? Faria, mas não é o caso, porque a linguagem fica com menos sotaque se eu não puser a mão. Se lá no meio quiser o pianinho do velho, então vamos lá. Mas aí é porque existe uma razão, não porque a gravadora quer."

FILHOS E AMIGOS - "Os filhos de Simonal (Wilson Simoninha e Max de Castro) também são como filhos para mim. O trabalho que todos eles têm feito é fruto em primeiro lugar da profunda amizade deles. Em segundo lugar é decorrência natural, sintonia de conceitos. Peço encarecidamente a eles que preservem a amizade profunda que eles têm. Venho de uma geração em que sempre houve muito respeito, mas faltou coleguismo e amizade. Hoje essa é a ponte que há entre eles."

AUTODIDATAS - "O que diferenciou Elis foi seu tremendo bom gosto, sua cultura musical. Mas ela era autodidata, como eu também fui. Nunca estudei música com professor. Com Simonal era a mesma coisa, mas ele era idolatrado pelos músicos profissionais. Para os músicos não existiam essas diferenças ideológicas, existia o trabalho bom e o trabalho ruim. E eles tinham Simonal lá em cima, ele era muito musical."

PILANTRAGEM - "Aquele gênero que criamos, da pilantragem, era um sambão com um algo mais, com harmonias legais. A pilantragem era o superficial. Cansei de ver Edu Lobo e Chico Buarque assistindo à gente, fascinados. Eu me realizei como ser humano ali, naquela época. Pilantra, na linguagem 'simonalesca', era um cara fantástico, era um auto-elogio. Quando ele dizia 'vou deixar cair', a natureza disso era que ia fazer muito direitinho, organizado. 'Bacana' para ele era pejorativo, chamava alguém de bacana quando queria criticar. Era a linguagem do morro, que era a dele."

DERROCADA DE SIMONAL - "Quando ele falou que era 'amigo dos homens' da ditadura, estava longe do abuso de poder. Achava bacana ser amigo dos homens, muito pouca gente tinha noção do que estava acontecendo naquele regime. Até onde sei era no sentido mais inocente possível. Ele foi o bode expiatório. Foi tudo um absoluto engano de muita gente, dele também. Isso ficou meio provado loguinho, mas ninguém quis se comprometer. Anistiaram todo mundo no Brasil, menos ele."

ELIS, PAÍS - "Elis foi quem me ensinou um pouco muito (ri da expressão que usou) a querer trazer coisas que acrescentem ao Brasil. Só sei tocar piano, então tem que ser assim minha contribuição. Amo profundamente o Brasil e reconheço cada vez mais o tamanho dessa encrenca: é a melhor música do mundo, o país mais musical. A cultura aqui é natural, mas é um país que precisa de muito desenvolvimento ainda. A emoção que senti quando mostrei o novo show no Rio (na semana passada) é enorme. Me empolgo, fico excitado com a resposta das pessoas. Moro fora, mas nosso sonho não é mostrar o que está fazendo para a mãe da gente?"
 

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