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20/03/2003 - 07h05

Peça "Orgia" expõe embate entre a carne e o verbo

VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

O prólogo de "Orgia" enseja pistas e enigmas: "Acabei de morrer. O meu corpo pende de uma corda, estranhamente vestido", afirma um homem.

Em suspense ou em vertigem, são existências pendulares que sustentam os diálogos que acontecem sempre entre quatro paredes na peça do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini (1922-75), que ganha montagem inédita no país.

Em projeto do paulistano Ágora, Roberto Lage dirige a montagem protagonizada por Cássio Scapin, Inês Aranha (também tradutora) e Vanessa Bruno.

O espetáculo pré-estréia hoje em São Paulo, para convidados, no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil, e viaja para três apresentações no Festival de Teatro de Curitiba, a partir de segunda.

Para além do título-armadilha, "Orgia" mostra personagens que trazem à tona seus desejos reprimidos ou condicionados pela ordem cultural da sociedade ou pela formação judaico-cristã, por exemplo. São seis episódios em que o homem (Scapin) está acompanhado de uma mulher -sua companheira (Inês) ou uma garota de programa (Vanessa). Tudo se passa em um quarto, sobre ou ao redor de uma cama.

Guiados por instintos de prazer e morte, esses personagens promovem um embate entre a carne e o verbo, a ação e as idéias.

Amparado pelo seu Manifesto por um Novo Teatro, que lançou nos anos 60 (espécie de terceira via entre o teatro experimental e o teatro burguês), Pasolini faz com que a sociedade reflita-se no comportamento afetivo, amoroso e sexual. A questão da adaptabilidade e aceitação do indivíduo, uma constante na obra cinematográfica, também vai permear uma dramaturgia pautada pelo tremor, seja estimulado pelo poder do desejo ou da opressão.

"Os personagens são conscientes todo o tempo. O fato de ser consciente e lúdico em relação ao que está fazendo não quer dizer que você esteja navegando apenas por meio da sua razão. É uma transgressão lúcida", diz Inês, 37.

A peça pode ser entendida como uma tragédia contemporânea. "Por um pequeno espaço de tempo a personagem da mulher tem um conflito, mas durante a maior parte do tempo não existe conflito, sim uma fatalidade que se estabelece, e eu "compro" essa fatalidade, esse trajeto. Sem dúvida, é uma tragédia", diz Lage, 56.


ORGIA
De: Pier Paolo Pasolini
Direção: Roberto Lage
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112, centro, SP, tel. 0/xx/11/ 3113-3651)
Quando: pré-estréia hoje, às 19h30, para convidados, e a partir de amanhã para o público em geral; qui. a dom., às 19h30
Quanto: R$ 15. Até 13/4
Patrocinador: Banco do Brasil
 

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