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21/03/2003
-
02h45
colunista da Folha de S. Paulo
Em sua estréia no cinema, Eminem busca redimir a imagem de encrenqueiro preconceituoso e desbocado. Ou pelo menos justificá-la. Em "8 Mile", que no Brasil ganhou o insensato subtítulo de "Rua das Ilusões", ele revive suas origens desafortunadas e o caminho que o catapultou ao megaestrelato.
Há três anos, as paradas foram tomadas pelo CD "The Marshall Mathers LP", cuja letras ferinas pregavam morte a Ricky Martin, classificavam Britney Spears como "vadia retardada" e plantavam o ódio contra homossexuais e mulheres, ameaçando expulsar aos tapas os gays de sua cidade e justificando a violência contra as caras-metades.
Sua falta de humor também fez lenda. Exigiu na Justiça a retirada da revista britânica "The Face" das bancas por ter mudado para rosa a cor de sua camisa em uma foto. Com o tempo, seu veneno homofóbico acabou destilado pelo showbiz. Até Elton John perdoou sua língua solta em uma parceria musical. Estratégia de marketing ou o sucesso amansou o virulento repentista?
Um bom-mocismo disfarçado parece ser a tônica da nova fase de sua carreira. No filme, para tentar convencer sobre sua mudança de postura em relação aos homossexuais, seu personagem força a barra e defende um operário gay humilhado por colegas de fábrica. Um mea culpa por suas pisadas de bola anteriores.
Ainda não é possível avaliar se os olhares esbugalhados de Eminem revelam um canastrão ou um novo talento. Por ter conseguido cruzar a fronteira dos fãs de sua música e alcançado gorda bilheteria, recebeu como prêmio de consolação a indicação ao Oscar de melhor canção ("Lose Yourself").
Como representante bissexto do musical, "8 Mile" surpreende. Saí de casa preparado para detestar uma produção estrelada pelo preconceituoso Eminem e morrer de preguiça com uma temática tão específica. Mas preciso me render e fazer também meu mea culpa: até que o filme não é ruim...
André Fischer é colunista da Revista da Folha e organizador do festival Mix Brasil?
Eminem aparece em versão contida em "8 Mile"
ANDRÉ FISCHERcolunista da Folha de S. Paulo
Em sua estréia no cinema, Eminem busca redimir a imagem de encrenqueiro preconceituoso e desbocado. Ou pelo menos justificá-la. Em "8 Mile", que no Brasil ganhou o insensato subtítulo de "Rua das Ilusões", ele revive suas origens desafortunadas e o caminho que o catapultou ao megaestrelato.
Há três anos, as paradas foram tomadas pelo CD "The Marshall Mathers LP", cuja letras ferinas pregavam morte a Ricky Martin, classificavam Britney Spears como "vadia retardada" e plantavam o ódio contra homossexuais e mulheres, ameaçando expulsar aos tapas os gays de sua cidade e justificando a violência contra as caras-metades.
Sua falta de humor também fez lenda. Exigiu na Justiça a retirada da revista britânica "The Face" das bancas por ter mudado para rosa a cor de sua camisa em uma foto. Com o tempo, seu veneno homofóbico acabou destilado pelo showbiz. Até Elton John perdoou sua língua solta em uma parceria musical. Estratégia de marketing ou o sucesso amansou o virulento repentista?
Um bom-mocismo disfarçado parece ser a tônica da nova fase de sua carreira. No filme, para tentar convencer sobre sua mudança de postura em relação aos homossexuais, seu personagem força a barra e defende um operário gay humilhado por colegas de fábrica. Um mea culpa por suas pisadas de bola anteriores.
Ainda não é possível avaliar se os olhares esbugalhados de Eminem revelam um canastrão ou um novo talento. Por ter conseguido cruzar a fronteira dos fãs de sua música e alcançado gorda bilheteria, recebeu como prêmio de consolação a indicação ao Oscar de melhor canção ("Lose Yourself").
Como representante bissexto do musical, "8 Mile" surpreende. Saí de casa preparado para detestar uma produção estrelada pelo preconceituoso Eminem e morrer de preguiça com uma temática tão específica. Mas preciso me render e fazer também meu mea culpa: até que o filme não é ruim...
André Fischer é colunista da Revista da Folha e organizador do festival Mix Brasil?
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