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24/03/2003 - 05h01

"Tim Maia Racional" pirata ganha as lojas

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S. Paulo

Lojas de discos de São Paulo estão vendendo, a R$ 25, os raríssimos volumes 1 e 2 de "Tim Maia Racional", condensados num só CD -e pirateados. Panfletários, os discos refletiam a breve adesão de Tim (1942-98) à Cultura Racional, em meados dos anos 70.

Pouco depois, ele se retirou do que chamou de "seita", com pesadas críticas à instituição estabelecida em Nova Iguaçu (RJ). Vetou, até sua morte, a reedição dos LPs.

Apesar de advogarem a origem humana numa extraterrestre "planície racional", os LPs eram também verdadeiros tratados de soul e funk brasileiros. Os Racionais MC's dizem que se chamam assim por sua influência.

Pois agora o "Tim Maia Racional" pode ser encontrado numa versão aparentemente oficial, com capa plastificada e rótulo avisando que os direitos do disco são reservados ao produtor fonográfico. Quem é o produtor? O CD não dá nenhuma indicação.

Ainda assim a Folha encontrou o CD em lojas convencionais da rua Augusta, da rua Pamplona, do largo do Paissandu e em vários pontos das Grandes Galerias, na av. São João. Numa loja da Augusta, o responsável disse que os CDs são entregues pelo "distribuidor", que ele não quis identificar.

Carmelo Maia, 28, filho e herdeiro de Tim, afirma desconhecer a existência do produto. "O que é do meu conhecimento é que há pirataria do "Racional", mas não em loja, com nota fiscal, parecendo um CD verdadeiro", diz.

Afirmando que vai tomar medidas judiciais, Carmelo diz que tem planos de reeditar oficialmente o "Racional", cujos direitos seriam dele, mas não o fez até agora devido aos vários processos judiciais deixados pendentes por seu pai.

Segundo ele, a ex-secretária de Tim, Adriana Pereira da Silva, que pleiteava parte da herança dizendo-se ex-mulher do cantor, já perdeu judicialmente tais direitos. Adriana não foi localizada.

Na sede da Cultura Racional no centro de São Paulo, a reportagem não encontrou exemplares do disco. Um funcionário afirmou que a organização não tem nada a ver com o CD pirateado. Atna Jacintho Coelho, líder fluminense da Cultura Racional, não respondeu a pedidos de entrevista.

No subsolo das Grandes Galerias, tomado por lojas de música black, ninguém assume a responsabilidade pela prensagem do disco. Um lojista que não quis se identificar afirma que quando o disco chega, vem numa leva e todas as lojas adquirem exemplares.

KL Jay, o DJ dos Racionais, que mantém no local a loja 4P, em sociedade com o rapper Xis, diz que não comercializa o "Tim Maia Racional". Mas dá sua opinião:

"O Brasil é um país que não preserva as culturas. Existe uma lavagem cerebral para que o povo esqueça, não mantenha raiz. Aí não existe mais o "Racional", os caras fazem o pirata. A pirataria é errada? É, está errada, não pode fazer. Mas não há outra opção".

Ele completa: "Mesmo sendo contra, preciso tentar entender o porquê da pirataria também. Ora, por que quem tem o direito do "Racional" não faz uma edição limitada? Ia estar colaborando para a cultura. Agora já era, os caras têm máquina de fazer CD em casa. Não tem mais jeito".

De fato, os CDs estão mesmo espalhados pelas lojas, e para todos os efeitos o "Tim Maia Racional" foi finalmente relançado. Mas quem gastar R$ 25 nele provavelmente vai ouvir as faixas finais pulando no leitor ótico do toca-CDs. Três cópias testadas pela Folha tinham esse defeito.
 

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