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03/04/2003 - 03h10

Peça evoca amor entre Nelson Rodrigues e atriz

PEDRO IVO DUBRA
da Folha de S.Paulo

Nos anos 70, Beth Goulart, 42, tentou produzir a peça "Dorotéia". Não conseguiu. Tempos depois, buscou montar a sexta criação teatral rodriguiana, sob a batuta do encenador Gerald Thomas, mas, do encontro, emergiu "Electra com Creta".

Após as duas investidas malbaratadas, a atriz volta à carga, por outro caminho. "Dorotéia Minha" estréia hoje para convidados e amanhã para o público, no Teatro do Centro da Terra. Antes, esteve no Rio, onde debutou em fins de 2002, e em João Pessoa.

Não se trata do texto de Nelson Rodrigues, mas da primeira incursão da atriz pela dramaturgia. Neta de Eleonor Bruno -a primeira intérprete da personagem, em 50-, filha de Nicete Bruno -que trabalhara na montagem original de "Anjo Negro", dois anos antes-, Goulart construiu um solo que costura a saga da prostituta que dá título à obra ao romance vivido por sua avó e pelo escritor -casado-, nos anos 40.

"Quando resolvi produzir o texto pela primeira vez, encontrei o original na casa de minha mãe, com a dedicatória à minha avó [entre outras coisas, Nelson Rodrigues afirmou a ela que "Dorotéia" era "a peça que escrevemos juntos'], aí minha irmã falou de bilhetes, cartas", diz Beth Goulart.

A idéia de fazer o material render teatro se corporificou só em 2001, quando a atriz foi convidada para executar uma performance no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto. Resolveu expandir a duração do espetáculo e chamou Victor Garcia Peralta, 43, com quem já havia trabalhado em "Decadência", para dividir a direção com ela.

No texto, a personagem, indefinida, um pouco atriz, um pouco cantora, um pouco meretriz, no plano do presente, narra a paixão vivida por Ele e Ela, depois de ter encontrado a correspondência amorosa do par. Os amantes evocam Nelson e Nonoca, mas não se faz menção direta a eles.

"Isso não me interessava. Parti do pessoal para atingir o universal. Retrabalhei os escritos, só cito um trecho da dedicatória."

Porém não foi apenas "Dorotéia", segundo a neta de Eleonor, que surgiu da relação. "No tempo em que estiveram juntos, Nelson escreveu "Valsa Nº 6", para a minha mãe. Só que minha avó e ele terminaram antes. Minha mãe tinha 15 anos, a idade da personagem. Mas eles se distanciaram e aí quem fez o monólogo foi a irmã dele [Dulce Rodrigues]."

Peralta conta que há semelhanças entre "Decadência", que rendeu a Beth Goulart o prêmio Shell carioca de melhor atriz, em 2000, e "Dorotéia Minha".

"O processo é parecido no plano da imaginação da Dorotéia de Beth, a linguagem é minimalista, entra a sugestão de ações. Lembra a outra peça." O cenário é sintético, um banquinho, um palco nu.

Quinze músicas, entre elas "Inútil Paisagem" e "Besame Mucho", integram a trilha sonora. Beth Goulart, além de interagir com o público -e em São Paulo o espetáculo começa no lounge do teatro-, canta. Assina a direção musical Zé Nogueira.

Em tempo: Eleonor Bruno não chegou a ver a estréia do texto inspirado em sua biografia. "Ela pegou o começo do processo. Quando estava mais lúcida, achou bacana a idéia, mas não viu a montagem. Quem assistiu, e de alguma forma a substituiu, foi a minha mãe", diz Goulart.

DOROTÉIA MINHA
Texto e interpretação:
Beth Goulart
Direção: Victor Garcia Peralta e Beth Goulart
Onde: Teatro do Centro da Terra (r. Piracuama, 19, SP, tel. 0/xx/11/3675-1595)
Quando: estréia hoje para convidados, às 21h; sex. e sáb., às 21h30, e dom., às 19h; até 1º/6. 60 min. Quanto: R$ 25 (sex. e dom.) e R$ 30 (sáb.)
 

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