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04/04/2003 - 04h37

"Dois Perdidos Numa Noite Suja" dilui crueldade do dramaturgo

JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha de S.Paulo

A peça teatral "Dois Perdidos numa Noite Suja", de 1966, é talvez o ápice a que chegou certa poesia da marginalidade que levou Plínio Marcos, seu autor, a ser visto como uma espécie de Genet brasileiro.

Na peça, dois pobres diabos, Tonho e Paco, vivendo no limiar entre o subemprego e a contravenção, se digladiam moralmente num cubículo imundo.

Ao enfrentar o espinhoso desafio de levar esse texto às telas, o cineasta José Joffily introduziu duas mudanças radicais: transformou o personagem Paco em mulher (Débora Falabella) e ambientou a ação em Nova York.

As duas inovações revelaram-se problemáticas. Para começar, é difícil acreditar em Débora Falabella fazendo-se passar por garotinho para iludir velhos pervertidos em banheiros públicos.

No palco, talvez um faz-de-conta desse tipo colasse, mas o cinema tem exigências de verossimilhança muito maiores, quando se trata de um filme realista.

Com a mudança, introduziu-se na relação entre os personagens um subtexto erótico que não foi desenvolvido plenamente.

Ao transferir a ação para Nova York, por outro lado, o filme sobrepôs ao conflito central o tema "externo" da imigração, o que acaba por diluir a tensão claustrofóbica do original.

Dizendo resumidamente: é como se uma das inovações (a da sexualidade) apontasse para dentro, para o núcleo da relação entre Paco e Tonho, e a outra (a da geografia), para fora, para o contexto social. Por não conjugar a contento esses dois movimentos opostos, o filme dá a impressão de ficar sempre a meio caminho, assustado com suas próprias ousadias.

Existe, por exemplo, um esforço em revelar a bondade inata do personagem Tonho (Roberto Bontempo), que chega a ser inverossímil em alguém que está há anos vivendo na sarjeta, limpando banheiros num país hostil.

Hipótese: talvez o humanismo de José Joffily e do roteirista Paulo Halm os tenha impedido de levar às últimas consequências a poesia cruel de Plínio Marcos.

Avaliação:

Dois Perdidos numa Noite Suja
Produção:
Brasil/EUA, 2002
Direção: José Joffily
Com: Débora Falabella, Roberto Bontempo
Quando: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco e Jardim Sul
 

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