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07/04/2003 - 04h28

MPB rende tributo misto a "doutor do baião"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Tributos à sabedoria do baião têm sido comuns na discografia brasileira, mas quase sempre focalizam sua figura central, o pernambucano Luiz Gonzaga (1912-89). Agora o disco-tributo "O Doutor do Baião", do selo independente carioca Biscoito Fino, pega o contorno e fecha questão no mais importante parceiro de Gonzaga, o cearense Humberto Teixeira (1916-79).

O elenco é "all star", com Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa e Sivuca, Chico Buarque, Gilberto Gil, Fagner, Elba Ramalho, Zeca Pagodinho, Lenine, Rita Ribeiro e o mais noviço Cordel do Fogo Encantado. Wagner Tiso se responsabiliza pelos arranjos.

A opção por Humberto Teixeira não deixa de ser um malabarismo, porque homenageando-o estarão automaticamente integradas ao repertório "Asa Branca", "Baião", "Qui Nem Jiló", "Paraíba" e outras peças fundadoras do gênero e da obra de Luiz Gonzaga.

Mas o novo recorte permite também alguns desvios dessa rota. É o que ocorre quando Chico Buarque canta "Kalu", que se tornou um clássico do repertório mais urbano de Dalva de Oliveira. O mesmo ocorre quando Rita Ribeiro re-revela "Sinfonia do Café", primeira composição gravada de Humberto Teixeira.

O disco-tributo nasce de um show ocorrido no ano passado, no teatro Rival, no Rio, em homenagem ao "doutor do baião" (a brincadeira se deve a que ele estudou medicina e se formou em direito). Mas as quatro primeiras faixas do CD fogem à regra: foram gravadas em estúdio, especialmente para o disco.

São elas "Asa Branca" (com Bethânia), "Baião de Dois" (com Caetano), "Adeus, Maria Fulô" (num encontro de Gal com o co-autor e sanfoneiro Sivuca) e a já citada "Kalu" de Chico.

Principalmente devido à profunda delicadeza das gravações de Bethânia e de Caetano, essas quatro faixas de entrada criam certo desnível com o resto do CD, que de resto segue o formato apressado das gravações ao vivo.

Gilberto Gil e Elba Ramalho encontram-se em casa em "No Meu Pé de Serra", "Juazeiro" (Gil), "Paraíba", "Assum Preto" e "Légua Tirana" (Elba, sendo essa última em dueto com Fagner). Mas, como ambos vêm de duplas recentes de álbuns de estúdio e ao vivo dedicados a Luiz Gonzaga, estabelece-se em paralelo o efeito de redundância que a MPB vem tanto apreciando hoje em dia.

Se não mais precisos, soam por isso mais curiosos os encontros entre Rita Ribeiro e "Sinfonia do Café" (com belo e antigo arranjo) e entre o jovem Cordel do Fogo Encantado e "Mangaratiba". No caso do Cordel, a personalidade do grupo chega a sobrepujar a do homenageado.

Falta citar, entretanto, o momento mais impactante do CD. Trata-se da interpretação da canção-paradigma "Baião" pela veterana Carmélia Alves.

Apresentada pela primeira vez em 1946, "Baião" ("eu vou mostrar pra vocês/ como se dança o baião") definiu parâmetros para tudo que se chamou e ainda se chama forró.

Carmélia Alves ajudou a estender o domínio popular do gênero pela década de 50, recebendo o epíteto de "rainha do baião". Aos 78 anos, canta "Baião" com voz grave, imponente, soberana.
 

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