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07/04/2003 - 21h02

Documentário revela os mecanismos da sociedade de consumo

ALESSANDRA KORMANN
da Agência Folha

"Nós não podemos deixar que os terroristas atinjam o seu objetivo e que as pessoas deixem de fazer negócios, deixem de comprar." A frase do presidente dos EUA, George W. Bush, é martelada repetidas vezes no documentário "Supérfluo" ("Surplus"), uma crítica contundente à sociedade de consumo do diretor sueco Erik Gandini, 35.

Para Gandini, a guerra contra o Iraque foi motivada pela necessidade de incentivar o consumo dos norte-americanos, cuja confiança foi abalada depois dos atentados de 11 de setembro de 2001.

"Ele mostra a relação do comportamento consumista das pessoas com o que está acontecendo hoje", diz a produtora do documentário, Kristina Aberg.
A degradação ambiental do planeta, o vazio existencial e a coisificação do homem gerada pelo consumismo exacerbado fazem parte de "Supérfluo".

As câmeras passeiam, por exemplo, por uma indústria que produz bonecas de plástico para fins sexuais com tecnologia hollywoodiana, com direito a seios de silicone dos mais variados tamanhos, pela bagatela de US$ 6.000 a US$ 7.000.

"Supérfluo" faz parte da competição oficial do 8º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, que começa hoje em São Paulo e também está sendo realizado no Rio.

Em 2001, Gandini conquistou o prêmio de melhor documentário internacional com "Sacrifício - Quem Traiu Che Guevara?", co-dirigido por Tarik Saleh.

Cuba é tema recorrente nos filmes do diretor sueco, que cresceu em um ambiente de esquerda na Itália dos anos 70. Na semana passada, ele estava trabalhando em seu próximo documentário na base norte-americana de Guantánamo, em Cuba, onde estão prisioneiros da guerra do Afeganistão.

Em "Supérfluo", Fidel Castro surge em um dos seus intermináveis discursos dizendo que "Cuba não incentiva o consumismo". São mostradas prateleiras vazias, uma velhinha exibindo sua ficha de ração alimentar e a cubana Tania, que conta seu deslumbramento em uma viagem à Europa, diante da abundância de xampus e perfumes que viu nas lojas.

O contraponto é Svante, um jovem que ganhou muito dinheiro com a indústria da informação e não sabe o que fazer com ele. Diverte-se com coisas simples.

O lugar em que ele está não é identificado. É um dos princípios de "The Surplus Manifesto", conjunto de normas escrito pelo diretor, que prega a manipulação de sons e imagens e o abuso de tecnologia para expressar as impressões que a realidade provoca, e não como ela é de fato.

A idéia é se opor ao "Dogma 95", conjunto de regras de cineastas dinamarqueses que propõe um cinema feito com com câmera na mão, luz natural e nenhuma interferência tecnológica.

"Supérfluo" tem ritmo frenético e estética de videoclipe: a mesma linguagem publicitária que o documentário critica por meio das palavras do cientista político John Zerzan, um dos inspiradores do movimento antiglobalização.

O documentário foca os protestos durante a reunião do G-8 em Gênova, em julho de 2001, quando o ativista Carlo Giuliani foi morto pela polícia.

Imagens da morte, quebradeira. O filme procura destrinchar por que o consumismo provoca tanta ira nos jovens e por que a riqueza do Ocidente não é capaz de produzir felicidade. E por que, desde 1999 em Seattle, cada vez mais milhares de pessoas vão às ruas para protestar contra a globalização capitalista, sinalizando o possível fim de uma era.

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