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10/04/2003
-
02h45
free-lance para a Folha de S.Paulo, em Paris
Quando Simon Brook, 36, filho do diretor de teatro inglês Peter Brook decidiu realizar um documentário sobre o pai, seus amigos prontamente o desaconselharam. "Você é a pessoa menos indicada para fazer esse filme, não tem nenhuma objetividade, transformará tudo numa análise familiar entre você e seu pai", diziam.
Sem dar ouvidos aos conselhos, e com carta branca do canal franco-alemão Arte, ao longo de um ano Simon seguiu e filmou Peter Brook nas mais variadas situações em diferentes continentes.
O total de cerca de 40 horas de gravações resultou nos 72 minutos de "Brook por Brook, um Retrato Íntimo" ("Brook par Brook, Portrait Intime"), que participa da competição internacional do 8º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade e será exibido amanhã, no Rio, e domingo, em São Paulo.
A persistência do cineasta é justificada no início do filme pelo próprio Peter Brook, ao revelar ao filho ser um homem do presente, que não gosta de "viver no passado" e que esquece facilmente a história de suas elogiadas criações. Mas logo acrescenta: "Ao mesmo tempo, reviver o passado contigo é diferente, porque você é meu filho".
Simon Brook soube aproveitar as vantagens do parentesco para montar seu retrato íntimo do personagem. Refratário às câmeras e reputado como um homem inapreensível, Peter Brook mantém reservas em relação à sua vida privada e aos bastidores de seu trabalho, interditando, por exemplo, a audiência ou a filmagem em seus ensaios.
No filme, a câmera de Simon tem o raro privilégio de captar momentos da experimentação teatral do diretor com seus atores e também cenas em família e da sua intimidade, intercaladas com deliciosas conversas entre pai e filho sobre a arte, o teatro e a vida.
"Não queria cair na forma tradicional da biografia histórica, filmar tudo em 15 dias, mostrar o personagem sentado numa poltrona falando de sua vida e depois montar com imagens de arquivo. Meu filme é um convite para o espectador se tornar um pouco membro da família, da companhia de teatro", diz o documentarista à Folha, acomodado numa mesa do café Charbon, na rua Oberkampf, em Paris.
Mas nem tudo foi fácil na concretização desse singular convite. Segundo Brook filho, o Brook pai detesta planejar sua agenda com mais de um dia de antecedência, e muitas vezes ele se viu correndo com a câmera atrás de seu personagem. Na relação entre diretor e biografado, Simon conta que, em determinadas situações, o pai tentou dirigi-lo: "Bom, é uma deformação profissional", diz, rindo.
Mas, segundo ele, Peter Brook logo desistiu de interferir no seu trabalho por não compreender aonde ele queria chegar. "Ao final, nos demos conta de que nossos métodos para dirigir eram bastante similares. É um certo pressentimento da direção, avançamos no escuro, temos a impressão de que podemos ir, mas não sabemos exatamente para onde. Esse é um filme com uma estrutura narrativa inabitual, que pretende tocar pela emoção, e não por um método", explica.
Pai e filho assistiram pela primeira vez ao documentário finalizado na sala de montagem. "Ele ficou muito emocionado, nos demos as mãos e permanecemos por alguns minutos em silêncio".
Esse filme sobre o pai, realizado em 2001, não é o primeiro documentário de Simon Brook, que está no Brasil para participar do É Tudo Verdade. Sua filmografia recente inclui 20 curtas-metragens sobre as crianças da região do Cáucaso, um documentário sobre o rio Amazonas e outro sobre a tribo Karos, na Etiópia.
Seu próximo projeto, com filmagens previstas para o ano que vem, é um documentário sobre os bois-bumbás no festival de Parintins, na Amazônia.
BROOK POR BROOK, UM RETRATO ÍNTIMO
Produção: França/Bélgica, 2001
Direção: Simon Brook
Quando: domingo, às 15h, em SP (Cinesesc), e amanhã, às 19h30, no Rio (CCBB)
Quanto: Grátis
Peter Brook tem trabalho no teatro visitado pela câmera do filho
FERNANDO EICHENBERGfree-lance para a Folha de S.Paulo, em Paris
Quando Simon Brook, 36, filho do diretor de teatro inglês Peter Brook decidiu realizar um documentário sobre o pai, seus amigos prontamente o desaconselharam. "Você é a pessoa menos indicada para fazer esse filme, não tem nenhuma objetividade, transformará tudo numa análise familiar entre você e seu pai", diziam.
Sem dar ouvidos aos conselhos, e com carta branca do canal franco-alemão Arte, ao longo de um ano Simon seguiu e filmou Peter Brook nas mais variadas situações em diferentes continentes.
O total de cerca de 40 horas de gravações resultou nos 72 minutos de "Brook por Brook, um Retrato Íntimo" ("Brook par Brook, Portrait Intime"), que participa da competição internacional do 8º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade e será exibido amanhã, no Rio, e domingo, em São Paulo.
A persistência do cineasta é justificada no início do filme pelo próprio Peter Brook, ao revelar ao filho ser um homem do presente, que não gosta de "viver no passado" e que esquece facilmente a história de suas elogiadas criações. Mas logo acrescenta: "Ao mesmo tempo, reviver o passado contigo é diferente, porque você é meu filho".
Simon Brook soube aproveitar as vantagens do parentesco para montar seu retrato íntimo do personagem. Refratário às câmeras e reputado como um homem inapreensível, Peter Brook mantém reservas em relação à sua vida privada e aos bastidores de seu trabalho, interditando, por exemplo, a audiência ou a filmagem em seus ensaios.
No filme, a câmera de Simon tem o raro privilégio de captar momentos da experimentação teatral do diretor com seus atores e também cenas em família e da sua intimidade, intercaladas com deliciosas conversas entre pai e filho sobre a arte, o teatro e a vida.
"Não queria cair na forma tradicional da biografia histórica, filmar tudo em 15 dias, mostrar o personagem sentado numa poltrona falando de sua vida e depois montar com imagens de arquivo. Meu filme é um convite para o espectador se tornar um pouco membro da família, da companhia de teatro", diz o documentarista à Folha, acomodado numa mesa do café Charbon, na rua Oberkampf, em Paris.
Mas nem tudo foi fácil na concretização desse singular convite. Segundo Brook filho, o Brook pai detesta planejar sua agenda com mais de um dia de antecedência, e muitas vezes ele se viu correndo com a câmera atrás de seu personagem. Na relação entre diretor e biografado, Simon conta que, em determinadas situações, o pai tentou dirigi-lo: "Bom, é uma deformação profissional", diz, rindo.
Mas, segundo ele, Peter Brook logo desistiu de interferir no seu trabalho por não compreender aonde ele queria chegar. "Ao final, nos demos conta de que nossos métodos para dirigir eram bastante similares. É um certo pressentimento da direção, avançamos no escuro, temos a impressão de que podemos ir, mas não sabemos exatamente para onde. Esse é um filme com uma estrutura narrativa inabitual, que pretende tocar pela emoção, e não por um método", explica.
Pai e filho assistiram pela primeira vez ao documentário finalizado na sala de montagem. "Ele ficou muito emocionado, nos demos as mãos e permanecemos por alguns minutos em silêncio".
Esse filme sobre o pai, realizado em 2001, não é o primeiro documentário de Simon Brook, que está no Brasil para participar do É Tudo Verdade. Sua filmografia recente inclui 20 curtas-metragens sobre as crianças da região do Cáucaso, um documentário sobre o rio Amazonas e outro sobre a tribo Karos, na Etiópia.
Seu próximo projeto, com filmagens previstas para o ano que vem, é um documentário sobre os bois-bumbás no festival de Parintins, na Amazônia.
BROOK POR BROOK, UM RETRATO ÍNTIMO
Produção: França/Bélgica, 2001
Direção: Simon Brook
Quando: domingo, às 15h, em SP (Cinesesc), e amanhã, às 19h30, no Rio (CCBB)
Quanto: Grátis
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