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17/08/2000 - 13h44

Crítica: Gunter Grass faz as pazes com o passado em "Meu Século"

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da Reuters
em São Paulo

Gunter Grass é o melhor escritor da Alemanha. Quem duvidar da afirmação pode conferir seu talento em "Meu Século" (Record, 332 p.), seu último trabalho. Este romance surpreendente traz 100 histórias curtas, uma para cada ano do século 20.

Grass mistura depoimentos fictícios para contar a história da Alemanha nos últimos 100 anos. As descobertas tecnológicas e científicas (como a construção do zeppelin, a invenção do gramofone e a revolução das ferrovias) servem como tema para histórias que podem ser divertidas, trágicas ou simplesmente patéticas.
O escritor coloca-se no papel de vários personagens. Pode fazer às vezes de um soldado alemão que narra a morte de um prisioneiro judeu, ou tomar emprestada a face de uma velha que se desespera com a destruição da Alemanha pelas bombas inimigas. Grass também pode ser um jovem poeta desiludido. Ou uma criança.

No capítulo que abre o livro, intitulado de "1900", Gunter Grass descreve a Guerra dos Boxers, na China, sob a ótica de um soldado alemão. Em 1908, as greves de mineiros na região do Ruhr (que serviram de base para as primeiras organizações operárias na Alemanha) são o tema do conto.

Os anos de 1914 a 1918, período da 1ª Guerra Mundial, são relembrados através de uma discussão entre dois renomados escritores alemães, Erich Maria Remarque ("Nada de novo no front"), e Ernst Junger ("Tempestades de Aço").

Alguns contos são emocionantes. Como o de 1928, quando uma dona-de-casa vê, impotente, a dissolução de sua família depois que um de seus filhos abraça o comunismo, e o outro, o nazismo.

Mas o livro tem seus altos e baixos. Alguns textos são monótonos, enquanto em outros Grass exige do leitor uma noção aprofundada da história alemã. A maioria dos contos, no entanto, traz uma emoção inédita nas outras obras do escritor. Por esse motivo, alguns críticos chegaram a afirmar que, em "Meu Século", Grass tenta fazer as pazes com seu passado e com seu próprio país.

Amor e ódio

Gunter Grass pode ser um dos melhores escritores da Alemanha, mas também é uma das figuras mais odiadas dentro de seu próprio país. Parte desse rancor vem do fato de ele pertencer àquele tipo de pessoa que fala o que pensa, sem medir as consequências.

Comprou briga com o governo alemão ao dissecar os horrores do nazismo em "O Tambor", considerada sua obra-prima. Provocou nova polêmica no lançamento de "Um Campo Vasto", no ano passado, ao criticar a reunificação alemã. Uma revista chegou a publicar, na capa, a foto de um crítico de literatura rasgando em dois a obra de Grass.

Mesmo odiado, Gunter Grass não pode passar despercebido. Poeta inspirado, dramaturgo competente, romancista e pintor (a capa de "Meu Século" foi pintada por ele), venceu o Nobel de Literatura no ano passado pelo conjunto de sua obra.

Por esses motivos, é também motivo de orgulho para seus conterrâneos e para os milhares de fãs espalhados pelo mundo.

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