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27/04/2003 - 15h00

Orquestra Sinfônica Municipal exibe "jóia" de Prokofiev

JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

O compositor Sergei Prokofiev (1891-1953) ganha homenagem amanhã com uma preciosidade: a apresentação do seu "Concerto nº 1, para Violino e Orquestra", opus 19, que a Orquestra Sinfônica Municipal executa no Teatro Municipal para relembrar os 50 anos da morte do autor.

O concerto, que terá regência de Ira Levin e trará como solista Cláudio Cruz, é uma preciosidade do repertório, uma reinvenção de dissonâncias. Mas, se não bastasse interpretá-lo, Levin e a OSM apresentam no mesmo programa o longo e lento fragmento da inacabada "Sinfonia nº 10", de Gustav Mahler (1860-1911). E Cruz, 35, é um músico completo, superlativamente técnico. Combina com Prokofiev.

Este, por sua vez, é um personagem singular na história da música do século 20. Sua fluência e sua escrita frequentemente bem-humorada, seu refinado lirismo e o bom gosto de seus momentos épicos fazem dele um compositor absolutamente moderno, que agrada e se faz compreender.

Sua biografia é atribulada. Ucraniano, aos 14 anos já havia escrito uma sinfonia e três sonatas. Foi aluno em São Petersburgo de Rimski-Korsakov. Tornou-se um dos grandes pianistas de sua geração, dentro da concorrida escola russa de grandes intérpretes.

Deixou a Rússia no ano seguinte à tomada do poder pelos bolchevistas. Viveu na França, nos EUA e na Itália. Voltou definitivamente à então URSS em 1936.

Com os 50 anos de sua morte, a opção de viver sob Josef Stálin gerou um inimaginável amontoado de idiotices em jornais norte-americanos e europeus. Que o trataram com condescendência: vítima e cúmplice do regime comunista, Prokofiev só seria perdoável pela música que nos legou.

Em verdade, ele nunca foi um compositor "oficial". Fez pequenas concessões estéticas, que no entanto não chegaram a violentar sua relação com os sons.

Juntamente com Dmitri Chostakovich, contemporâneo seu, ele se expressava na linguagem sinfônica com grande fluência e precisão. Mas sabia mais que Chostakovich produzir o belo acessível, palatável. Estão aí a peça infantil "Pedro e o Lobo", o balé "Romeu e Julieta", a trilha sonora de "Alexandre Nevski", filmado por Sergei Einsenstein, ou a ópera "O Amor por Três Laranjas".

A obra de Prokofiev é extensa. Há 135 peças em seu catálogo. Curioso haver tanto dele ainda por ser gravado. Talvez porque o Ocidente não o perdoou por flertar com os comunistas, e estes não o perdoaram por ter caído em desgraça em 1948.

Em todo caso ele deixou oito óperas, sete balés e sete sinfonias, cinco concertos para piano, dois para violino, outros dois para violoncelo e por aí vai.

Às 21h10 de 5 de março de 1953 Prokofiev morreu, em Moscou. Coincidência mórbida: às 22h daquela mesma noite era anunciada a morte de Stálin.

Apenas 40 pessoas acompanharam seu enterro. Mais que isso, a agência Tass conseguiu noticiar sua morte apenas seis dias depois. Prokofiev com certeza torcia pela chegada de uma Rússia pós-stalinista. Caso tivesse vivido 50 minutos a mais, sentiria ao menos um pouquinho do perfume dela.

SERGEI PROKOFIEV, 50 ANOS DEPOIS
Quando:
segunda, às 21h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/ nº, região central, tel. 222-8698)
Quanto: de R$ 10 a R$ 35
 

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