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28/04/2003
-
05h26
especial para a Folha de S.Paulo
De dentro de seu espelho psicodélico, Mina (Cláudia Raia) anuncia que, nos próximos e últimos capítulos de "O Beijo do Vampiro", vai procurar reconquistar Rodrigo (Alexandre Borges), afinal, Pandora, a vampirinha filha do casal de vampiros, precisa de uma família.
Efeitos, figurinos e trama em grande estilo prometem a recomposição convencional que alimenta o gênero. Mas os casais que se anunciam sugerem tolerância rara nos dias que correm. Predominam as esquisitices de personagens que fizeram o sucesso da história.
Amélie (Betty Goffman) engravida de Bartô (Tato Gabus), e ficamos imaginando que bicho nascerá do cruzamento da vampira pós-punk com o músico frustrado que parece voltar a pé de Woodstock.
A troca sensual de carícias suntuosas entre Victor (Gabriel Braga Nunes) e Marta (Júlia Lemmertz) desafia a ira de Nosferatu (Ney Latorraca) que, de dentro da estatueta em que foi transformado, promete rir por último.
A iminência do confronto final no interior do campo vampiresco, entre o bem e o mal, mobiliza figuras "vilãs" significativamente mais interessantes que os humanos "bonzinhos". Com destaque para o Boris de Tarcísio Meira, o patriarca comandante que incorre em simpáticos ataques de fragilidade quase infantil.
Em se tratando de novela, o percurso dos personagens em direção a um final que nunca se sabe exatamente quando e como será é tão ou mais importante que o desenlace da trama. E essa foi uma trajetória bem-sucedida.
A longa temporada da novela de Antonio Calmon -que começou na última semana de agosto do ano passado- dá a medida do sucesso do folhetim-comédia-fantasia recheado de efeitos especiais simples.
Desaparecimentos e reaparecimentos, personagens imobilizados em miniaturas de cerâmica, cruzamentos impuros entre vampiros e humanos reafirmam marcas do estilo do autor, mestre em criar ambientes com tom de fábula que, no entanto, se ancoram em dilemas candentes da vida contemporânea.
Não é à toa que as criaturas que povoam o universo vampiresco da novela, talvez não tão esdrúxulo quanto possa parecer, revelam por fim seu desejo de recompor núcleos familiares em tempos em que a fragmentação impera. A conferir.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
"O Beijo do Vampiro" exprime desejo de reestruturar família
ESTHER HAMBURGERespecial para a Folha de S.Paulo
De dentro de seu espelho psicodélico, Mina (Cláudia Raia) anuncia que, nos próximos e últimos capítulos de "O Beijo do Vampiro", vai procurar reconquistar Rodrigo (Alexandre Borges), afinal, Pandora, a vampirinha filha do casal de vampiros, precisa de uma família.
Efeitos, figurinos e trama em grande estilo prometem a recomposição convencional que alimenta o gênero. Mas os casais que se anunciam sugerem tolerância rara nos dias que correm. Predominam as esquisitices de personagens que fizeram o sucesso da história.
Amélie (Betty Goffman) engravida de Bartô (Tato Gabus), e ficamos imaginando que bicho nascerá do cruzamento da vampira pós-punk com o músico frustrado que parece voltar a pé de Woodstock.
A troca sensual de carícias suntuosas entre Victor (Gabriel Braga Nunes) e Marta (Júlia Lemmertz) desafia a ira de Nosferatu (Ney Latorraca) que, de dentro da estatueta em que foi transformado, promete rir por último.
A iminência do confronto final no interior do campo vampiresco, entre o bem e o mal, mobiliza figuras "vilãs" significativamente mais interessantes que os humanos "bonzinhos". Com destaque para o Boris de Tarcísio Meira, o patriarca comandante que incorre em simpáticos ataques de fragilidade quase infantil.
Em se tratando de novela, o percurso dos personagens em direção a um final que nunca se sabe exatamente quando e como será é tão ou mais importante que o desenlace da trama. E essa foi uma trajetória bem-sucedida.
A longa temporada da novela de Antonio Calmon -que começou na última semana de agosto do ano passado- dá a medida do sucesso do folhetim-comédia-fantasia recheado de efeitos especiais simples.
Desaparecimentos e reaparecimentos, personagens imobilizados em miniaturas de cerâmica, cruzamentos impuros entre vampiros e humanos reafirmam marcas do estilo do autor, mestre em criar ambientes com tom de fábula que, no entanto, se ancoram em dilemas candentes da vida contemporânea.
Não é à toa que as criaturas que povoam o universo vampiresco da novela, talvez não tão esdrúxulo quanto possa parecer, revelam por fim seu desejo de recompor núcleos familiares em tempos em que a fragmentação impera. A conferir.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
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