Brasileiro Cao Guimarães mostra vida na rua no Festival de Veneza

"Andarilho", novo filme do cineasta e artista plástico brasileiro Cao Guimarães, foi exibido na terça-feira (4), na seção oficial "Horizontes" da 64ª Mostra de Veneza.

O filme de Guimarães apresenta três vagabundos mergulhados em seus próprios pensamentos ou dedicados a suas comidas. Eles são enfocados como meros objetos de composição/atenção da câmera cinematográfica, como se fossem elementos de uma instalação artística.

A imparcialidade do olhar do cineasta faz com que até uma lagosta que atravessa a estrada possua o mesmo peso e seja colocada no mesmo nível dos protagonistas. Elementos puramente figurativos ou estéticos ganham forma de personagem, sob a direção de Cao Guimarães.

Um dos vagabundos monologa metafisicamente, outro divaga e diz frases sem sentido e o terceiro se limita a ouvir, distraidamente, ruídos do mundo externo. A ausência total de dramaturgia ou linha narrativa tem momentos de fascinação --que os cerca de 20 espectadores atraídos pela experiência imagética de Cao pareciam seguir atentamente, em Veneza.

O diretor, de 42 anos e artista plástico desde fins dos anos 80, cultua o cinema que flui lentamente como um rio sem rumo fixo, um cinema que busca "desbanalizar" a imagem. Seus andarilhos respondem perfeitamente a essa identidade estética, que teve poucos --mas fiéis-- admiradores na mostra italiana.

Cao Guimarães, que atua como cineasta desde 1998, não costuma lançar seus filmes nas grandes salas de cinema, mas já teve obras consagradas em festivais, como o documentário "A Alma do Osso" (2004, 74'), premiado no "É tudo verdade". O filme "Andarilho" não participa do concurso em Veneza.

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