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06/05/2003 - 17h09

Manaus encenou ópera com herói épico de Wagner

JOÃO BATISTA NATALI
enviado especial a Manaus

Guardadas as devidas proporções, o século 19 registra algo parecido com "O Senhor dos Anéis". Foi o conjunto de quatro óperas com libreto e música de Richard Wagner (1813-1883), baseado na mitologia germânica e centrado em divindades de moralidade oscilante. Trazia também ingredientes da épica de cavalaria, com espadas mágicas ou a renúncia do amor como forma de conquistar e preservar o poder.

"O Anel dos Nibelungos" é um monumento singular na história da ópera. A analogia entre o atual best-seller cultural e esses quatro episódios do repertório wagneriano é feita por Luiz Fernando Malheiro, diretor do 7º Festival Amazonas de Ópera e regente de "Siegfried", encenado em três récitas, em Manaus, a última delas na quarta-feira da semana passada.

É no mínimo curioso que "O Anel" esteja praticamente inédito em São Paulo. "Siegfried", o terceiro e penúltimo capítulo do drama lírico, foi montado pela última vez no Teatro Municipal, na versão original alemã, em 1922. Ou seja, há 81 anos. Uma montagem exótica, porque em tradução italiana, ocorreu em 1936, segundo o pesquisador Sérgio Casoy.

Tal prova da lacuna de repertório operístico pode ser atribuída aos empresários estrangeiros, que se apropriaram por décadas da programação e que apostavam na bilheteria que só as óperas italianas poderiam obter. Para quem só assistiu ópera no Municipal, "O Anel" é um monumento estético desconhecido, acessível apenas por gravações.

Manaus apresentou no ano passado "As Valquírias", o segundo capítulo da série. Apresentará no ano que vem o último deles, "O Crepúsculo dos Deuses", e fará em 2005 o primeiro capítulo, "O Ouro do Reno", e ainda a versão integral da "Tetralogia" --nome pelo qual as quatro óperas também são conhecidas.

Siegfried é um herói predestinado a matar um gigante transformado em dragão, que se apoderou do ouro roubado nas profundezas do rio Reno. Para tanto, ele deve contornar obstáculos. Mata Mime, o anão (nibelungo) que também cobiçava o tesouro, afronta Wotan, o deus aos poucos conformado com a virtual desaparição da raça das divindades.

E, por fim, atravessa círculos de fogo para conquistar, no terceiro ato, o amor e a virgindade da ex-valquíria Brünnhilde, que permaneceu longos anos hibernada e só seria despertada por alguém que desconhecesse o medo.

É um espetáculo de quatro horas e meia. Com momentos de indescritível profundidade, como certa intervenção da deusa Erda, fecundada por Wotan e mãe de Brünnhilde. "Meu sono é sonho, meu sonho é reflexão, minha reflexão é um ato de sabedoria."

A ópera exibida no Teatro Amazonas, inaugurado em 1896 como prova de refinamento dos senhores da borracha, é antes de mais nada uma soma de engenhosidade cênica e de interpretações.

O papel título foi vivido pelo canadense Alan Woodrow (tenor), e o de Brünnhilde, pela veterana italiana radicada na Áustria Maria Russo (soprano).

Os demais intérpretes foram todos brasileiros, com aplausos infinitos para Augusto Caruso como Mime (tenor) ou para o Wotan cantado por Lício Bruno (baixo-barítono).

A direção cênica foi assinada pelo inglês Aidan Lang, que os paulistanos conheceram no ano passado com a "Manon", de Massenet, encenada pelo Teatro Alfa. Econômico em gestos e pouco partidário dos grandes efeitos, ele concebeu uma contemporaneidade de linguagem, com elementos às vezes bem abstratos. É o caso da floresta, representada por hastes envernizadas a que se agregavam pequenas esferas de madeira colorida.

O jornalista João Batista Natali viajou a convite da Secretaria da Cultura do Amazonas

"Siegfried"
De: Richard Wagner
Regência: Luiz Fernando Malheiro
Onde: Festival Amazonas de Ópera
Informações: 0/xx/92/232-1768
 

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