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07/05/2003
-
06h37
da Folha de S.Paulo, em Nova York
Semanas atrás, enquanto um piano era erguido por fora de um prédio paulistano, João Carlos Martins, 62, espiava inquieto.
Com o instrumento suspenso no ar para uma gravação, descobriu que a seguradora não cobriria a operação. Relatou a angústia a seu irmão, mas acabou escutando dele que, poucos dias antes, em situação igual, acontecera o pior com o piano de sua sogra.
Oito horas depois, o instrumento aterrissou no 11º andar. Acabou a apreensão do pianista naquele dia, mas o documentário que retratará sua vida, "Martins Special", estava só começando.
A cena inicial alude a um ato de Martins na época em que foi para a Secretaria de Cultura de São Paulo --levando junto um piano, carregado para seu gabinete.
Alude também a algo mais, explica a diretora, a alemã Irene Langemann, que teve a idéia do filme ao ler reportagem sobre o brasileiro na revista "Der Spiegel". "O piano sempre levou sua vida para o alto", afirma ela.
Com orçamento de 480 mil euros, o documentário é financiado por fundações européias. As gravações começaram em março e vão até julho, quando Bill Clinton, tocando saxofone, deverá se juntar a um time de convidados que tem Pelé e Dave Brubeck.
Além dos nomes famosos, Langemann conta com dois grandes trunfos para levar o documentário ao Festival de Berlim. O primeiro é o enredo, uma vida pontuada por sucesso precoce, dramas pessoais, fama mundial e uma passagem de má recordação pela política. O segundo é o personagem principal, que tem dedicado todo seu tempo ao projeto.
A diretora pesquisou arquivos de TVs do Brasil e dos EUA para contar passagens da vida de Martins. Estarão lá sua estréia no Carnegie Hall, em Nova York, aos 20 anos, e o primeiro grande drama de sua carreira, na mesma cidade, não muito depois --uma contusão no braço enquanto jogava futebol no Central Park que o afastou do piano por sete anos.
Mas há mais a lembrar no documentário, como aponta o próprio pianista. "Minha vida tem uma parte musical, que considero profundamente importante. Mas tenho consciência dos problemas polêmicos que tive", diz.
A principal das polêmicas ficou conhecida como "caso Paubrasil", nome de uma empresa de Martins que protagonizou um esquema ilegal de financiamento para duas campanhas eleitorais do ex-prefeito Paulo Maluf.
Hoje, o pianista aponta o próprio erro, mas acha que os críticos brasileiros "no fundo nunca separaram" sua incursão política de sua música. "Se a Regina Duarte foi patrulhada por falar que o Lula dava medo, imagine eu", afirma.
Piano de João Carlos Martins vira filme
ROBERTO DIASda Folha de S.Paulo, em Nova York
Semanas atrás, enquanto um piano era erguido por fora de um prédio paulistano, João Carlos Martins, 62, espiava inquieto.
Com o instrumento suspenso no ar para uma gravação, descobriu que a seguradora não cobriria a operação. Relatou a angústia a seu irmão, mas acabou escutando dele que, poucos dias antes, em situação igual, acontecera o pior com o piano de sua sogra.
Oito horas depois, o instrumento aterrissou no 11º andar. Acabou a apreensão do pianista naquele dia, mas o documentário que retratará sua vida, "Martins Special", estava só começando.
A cena inicial alude a um ato de Martins na época em que foi para a Secretaria de Cultura de São Paulo --levando junto um piano, carregado para seu gabinete.
Alude também a algo mais, explica a diretora, a alemã Irene Langemann, que teve a idéia do filme ao ler reportagem sobre o brasileiro na revista "Der Spiegel". "O piano sempre levou sua vida para o alto", afirma ela.
Com orçamento de 480 mil euros, o documentário é financiado por fundações européias. As gravações começaram em março e vão até julho, quando Bill Clinton, tocando saxofone, deverá se juntar a um time de convidados que tem Pelé e Dave Brubeck.
Além dos nomes famosos, Langemann conta com dois grandes trunfos para levar o documentário ao Festival de Berlim. O primeiro é o enredo, uma vida pontuada por sucesso precoce, dramas pessoais, fama mundial e uma passagem de má recordação pela política. O segundo é o personagem principal, que tem dedicado todo seu tempo ao projeto.
A diretora pesquisou arquivos de TVs do Brasil e dos EUA para contar passagens da vida de Martins. Estarão lá sua estréia no Carnegie Hall, em Nova York, aos 20 anos, e o primeiro grande drama de sua carreira, na mesma cidade, não muito depois --uma contusão no braço enquanto jogava futebol no Central Park que o afastou do piano por sete anos.
Mas há mais a lembrar no documentário, como aponta o próprio pianista. "Minha vida tem uma parte musical, que considero profundamente importante. Mas tenho consciência dos problemas polêmicos que tive", diz.
A principal das polêmicas ficou conhecida como "caso Paubrasil", nome de uma empresa de Martins que protagonizou um esquema ilegal de financiamento para duas campanhas eleitorais do ex-prefeito Paulo Maluf.
Hoje, o pianista aponta o próprio erro, mas acha que os críticos brasileiros "no fundo nunca separaram" sua incursão política de sua música. "Se a Regina Duarte foi patrulhada por falar que o Lula dava medo, imagine eu", afirma.
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