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09/05/2003 - 05h17

Série de discos híbridos dos anos 50 fazem lembrar 2003

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Parece até ironia a série "Dez Polegadas Odeon", que a EMI acaba de jogar nas lojas. Num tempo em que até o "moderno" CD já parece ameaçado de extinção pelas tecnologias de dissolução de MP3, internet e outros bichos, é hora de voltar ao antepassado do antepassado, o LP de dez polegadas.

Esse é antepassado do próprio disco de vinil (o LP) -nasceu em meados dos anos 50, quando se estava tentando inventar um formato que pudesse ir além dos rápidos disquinhos de 78 rpm.

Nos dez polegadas, cabiam oito músicas, quatro de cada lado -era o prenúncio da era do LP, que no Brasil conquistaria status de líder mais ou menos com o advento da bossa nova.

João Gilberto ainda não havia galgado a montanha, entretanto, e os dez polegadas serviram para esticar um pouco mais a história de artistas como Orlando Silva, Mario Reis, Francisco Alves, Dalva de Oliveira e Augusto Calheiros, todos contemplados na coleção de dez CDs (cada um deles reunindo dois LPs de dez polegadas) da EMI.

Era tudo mais ou menos uma confusão -os discos eram em parte coletâneas, mas colocavam também gravações inéditas dos astros da canção antiga. Dorival Caymmi, em atividade intensa desde a década de 30, estreava em dez polegadas com os cruciais "Eu Vou pra Maracangalha" e "Canções Praieiras", que soavam velhos e novíssimos ao mesmo tempo.

Cantoras de moda samba-canção, prestes a ser atropelada pela bossa nova, faziam-se estrelas breves da era dos dez polegadas. São os casos da potente Isaura Garcia e da (felizmente) efêmera Hebe Camargo (ela mesma), ambas reunidas num só CD.

Vitaminava-se uma moda de conjuntos vocais e/ou de baile, que influenciavam veementemente João Gilberto, mas seriam logo suplantados por ele próprio. Dessa turma, saem de um quase total ineditismo em CD títulos de Demônios da Garoa, Conjunto Farroupilha e Trio Irakitan.

A semente da novidade estava contida, obviamente, no próprio momento indeciso de transição. Um dos tesouros da série "Dez Polegadas Odeon", editado juntamente com um hoje curioso disco de "Polêmica" entre Francisco Egydio e Roberto Paiva, é "Orfeu da Conceição" (56).

Trilha do filme de Marcel Camus, é um dos marcos fundadores (ou melhor, prenunciadores) da bossa nova, que com LPs de longa duração de João Gilberto viria alterar para sempre os rumos da canção popular, mas também da indústria musical brasileira.

Com músicas fundadoras da parceria entre Tom Jobim e Vinicius de Moraes, "Orfeu" intermediava interpretações orquestrais antiquadas (aos ouvidos de hoje, diga-se) de Roberto Paiva com outras de Tom Jobim, então ainda em fase de tomar coragem para comandar a revolução.

A canção-símbolo, então e para sempre, seria "Se Todos Fossem Iguais a Você", híbrido interpretado em conjunto pelo "velho" Roberto Paiva e pelo "novo" Tom Jobim.

Em síntese, há o que a coleção vem re-revelar: era um tempo confuso, de transição, de passagem -embora ninguém ali soubesse ao certo disso, ou menos ainda o que isso iria significar. Até parece a época do MP3.

Avaliação:

Dez Polegadas Odeon
Artista: Vários (10 CDs)
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 13, em média, cada título, preço sugerido pela gravadora
 

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