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19/05/2003 - 06h48

Europa e piratas passam a limpo Orlan Divo

ISRAEL DO VALE
da Folha de S.Paulo, no Rio

O rapazote de violão em punho queria porque queria mostrar uma ou duas músicas suas à nova sensação do sambalanço. Era 1961. As quatro faixas do compacto de Orlann Divo rodavam sem parar na rádio Jornal do Brasil, ao contrário do que se vê hoje, com sua obra amplificada com mais frequência na Europa, onde será disponibilizada integralmente a partir de agosto.

De volta ao túnel do tempo: o portador do recado naqueles idos dos 60 era Oliveira Filho, radialista de renome e mestre de cerimônias da noite semanal Clube do Disco, da boate Plaza, no Leme, ponto de convergência da geração bossa nova e cenário do encontro.

Orlann Divo desceu a uma salinha ao lado da cozinha e foi ter com o tal garoto. Sentado num canto, o violão sobre a perna, o menino franzino colocou a vozinha peculiar a serviço de uma cadência que só perdia em estranhamento para a sua pronúncia: "Por causa de "voxê" bate em meu peito...".

Vocalista de carreira ascendente, projetado pela percussão em molho de chaves que se tornaria sua marca registrada e pelo relativo sucesso de uma composição sua na voz de Claudete Soares, Orlann Divo recusaria a oferta. Via virtudes no garoto, mas recomendou que ele mesmo a registrasse em sua interpretação personalíssima.

Habituado a ser visto de esguelha pela turma do Beco das Garrafas, celeiro dos bossa-novistas sofisticados, o menino Jorge acataria a sugestão. E inverteria a situação.

Dois anos depois seria ele, Jorge Ben, quem gravaria uma música de Orlann Divo (na grafia da época) em seu terceiro disco, "Ben é Samba Bom", de 1964.

A mesma faixa, "Onde Anda o Meu Amor", trouxe novamente Orlan Divo (hoje com um ene só) à cena, meses atrás, pelas mãos da nova geração, em show reverente do combo drum'n'bossa Bossacucanova.

Há tempos, Divo, como o chamava o pai, tem sido alvo de redescobertas. Seja em citações de gente como Caetano Veloso (que, na tenra idade, o ombreava a João Gilberto na letra de "Clever Boys Samba"), seja pelo curioso anabolizante do "mercado paralelo".

Graças à visibilidade oferecida pelos "CDs genéricos" e a discos cotados a US$ 70 na bolsa de colecionadores européia, a gravadora EMI animou-se a lançar em CD (entre os 45 remasterizados da coleção Odeon 100 Anos) seu quarto e mais recente disco, "Orlandivo", de 1977, único à venda fora das lojas de importados. Segundo o cantor, foi um cutucão seu (a partir do fato de que cinco das composições ainda não haviam sido editadas) que fez a gravadora despertar para o acervo. "Eu sou o estopim da bomba", gaba-se.

O conjunto da obra do cantor de "Samba Toff" e "Tamanco no Samba" volta a ser visualizado com o lançamento de "Samba em Paralelo", de 1965, pela gravadora inglesa Whatmusic, em vinil e em CD. É o fecho do ciclo iniciado com a recondução ao mercado por este mesmo selo, ano e meio atrás, de "A Chave do Sucesso" (1962) e "Orlann Divo" (1964).

Vivendo de shows ocasionais no bar Vinicius e dos bailes dançantes com sua Banda Ipanema, o catarinense radicado no Rio, hoje com 65 anos, desmancha-se de gratidão sobre piratas e corsários que o levaram até os cases de DJs brasileiros e estrangeiros. "É uma mídia de dois passos para frente e um para trás", pondera. "Mas vale a pena."

 

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