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21/05/2003 - 12h30

Interpretar "Falstaff" é um novo desafio, diz maestro Ira Levin

JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

O maestro Ira Levin, 44, diz que cumpre um duplo objetivo ao montar a partir de hoje a ópera "Falstaff" no Teatro Municipal de São Paulo.

Ele recoloca no repertório uma peça há décadas inédita e lança aos músicos um novo desafio de interpretação, o que tende a melhorar a sonoridade da Orquestra Sinfônica Municipal, que estará sob sua regência.

Veja trechos da entrevista à Folha

Folha - De Verdi, o Municipal está habituado a encenar "La Traviata" ou "Rigoletto". Por que a escolha recai agora sobre "Falstaff"?

Ira Levin -
Minha política como diretor artístico do teatro é a de diferenciar o repertório, o que tem dado bons resultados. "Falstaff" não é uma raridade. Em 18 anos de Alemanha eu regi quatro produções desta ópera. É estranho que ela não seja encenada com frequência por aqui.

Folha - E não é tampouco uma ópera de fácil execução.

Levin -
É dificílima para a orquestra e para os cantores. Temos que interpretar peças que sejam também grandes desafios. É igualmente uma ópera que poderia ser cantada por um elenco brasileiro. A única exceção será a do barítono Frederick Burchinal.

Folha - Foi pela falta de vozes brasileiras que "Lohengrin", de Wagner, teve sua montagem adiada para o ano que vem?

Levin -
Ela será montada em 2004. "Lohengrin" não é encenada por aqui desde 1940, o que é um escândalo. Montaremos, no lugar, "Jenufa", de Leos Janacek, que para minha profunda estranheza tampouco nunca havia sido montada no Brasil. Parte dos cantores deverá vir de fora.

Folha - O Teatro Amazonas, em Manaus, não seria uma prova de que é possível montar Wagner com cantores nacionais?

Levin -
Em Manaus o teatro tem 700 lugares. O Municipal de São Paulo tem 1.600. Algumas vozes que se dão bem naquele espaço menor provavelmente não conseguiriam aqui o mesmo efeito.

Folha - Por que o sr. não programa compositores brasileiros?

Levin -
O Teatro Municipal tem sob minha direção programado muita música de compositores brasileiros. Tenho tomado pessoalmente a decisão. Estamos até encomendando composições para a série de música de câmara. Quanto à OSM sob minha regência, esperei um pouco para me familiarizar. Carlos Gomes não é interpretado fora do Brasil. No ano que vem eu regerei dele o oratório "Colombo", inédito há décadas no Municipal. Ou "Amazonas", de Villa-Lobos. Sei que, também de Villa-Lobos, "Magdalena" foi encenada este ano em Manaus com reações contraditórias.

Folha - O sr. regeria por aqui uma produção de "Magdalena"?

Levin -
Não conheço essa peça, embora saiba que Villa-Lobos fez um pastiche de suas próprias composições de juventude. Minha decisão, no entanto, é mais ampla. Eu dirijo oito programas de concerto e três produções de ópera este ano. É preciso fazer escolhas, e acredito que estarei prestando um melhor serviço a São Paulo se introduzir ao repertório do Municipal óperas reconhecidas internacionalmente, como "Jenufa" ou "Falstaff". "Don Carlos", de Verdi, foi montado por aqui pela última vez há 80 anos.

Folha - Foi apenas a substituição de músicos que melhorou a sonoridade da OSM?

Levin -
Não. Foram seis ou sete substituições entre os violinos. Mas existe também o trabalho com a ampliação do repertório. Alguns poucos instrumentistas preferiam a mesmice e não se incomodavam com a mediocridade. Mas os desafios lançados são muito grandes. Eu não demiti sumariamente ninguém. Ao constatar o desempenho insuficiente eu submeto o músico a testes. Todos tiveram uma segunda chance.

Folha - E o recrutamento de novos músicos? A orquestra participa com indicações?

Levin -
Não. Eu peço aos chefes dos naipes que me indiquem os candidatos. A indicação é apenas o primeiro passo. Depois há os testes. Sou eu quem aprovo ou não. Uma das surpresas foi a de uma candidata a violinista que interpretou no teste um fantástico Bach. Eu a contratei em dois minutos. Já consegui preencher oito vagas que estavam inocupadas. Além delas, agora em junho teremos quatro novos violinos, duas violas e dois violoncelos.
 

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