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22/05/2003 - 03h38

Provocativo, "Dogville" faz críticas aos EUA

PEDRO BUTCHER
da Folha de S.Paulo, em Cannes

Mais uma vez, a passagem de Lars von Trier, 47, pelo Festival de Cannes despertou amor e fúria. A exibição de "Dogville", na segunda, exaltou os ânimos de um evento que estava morno.

Não sem razão. O novo Von Trier, capítulo inicial de uma trilogia passada nos EUA e estrelada por Nicole Kidman, é pura pólvora, provocativo na forma (filmado em estúdio, sem cenários, com duração de três horas) e no conteúdo (um ato de vingança).

Pelos quadros de cotações das publicações de Cannes, o filme poderá dar ao diretor dinamarquês sua segunda Palma de Ouro depois de "Dançando no Escuro" (2000). Mas este foi o filme que recebeu o mais violento ataque de um crítico até agora: Todd McCarthy, da revista "Variety", acusou o cineasta de desferir um "golpe nos valores americanos, óbvio em suas intenções e obscuro como experimento artístico".

Folha - O senhor já leu a crítica da "Variety"?
Lars von Trier -
Não, mas tenho a impressão de que vou ficar muito orgulhoso depois que ler.

Folha - O que o senhor acha da leitura anti-americana que estão fazendo de "Dogville"?
Von Trier -
É uma leitura redutora. Não fiz um filme sobre a América, mas um filme que se passa numa terra chamada América e que me veio à cabeça enquanto pensava em várias coisas. A idéia era dar um sentimento americano, mas a história poderia se passar em qualquer cidade pequena.

Folha - Mas são claras as críticas aos Estados Unidos...
Von Trier -
Sim, ele reflete uma posição política. Acredito que, se você é o garoto mais forte da turma, primeiro você precisa ser piedoso e, segundo, você precisa aceitar críticas. Não é o que vem acontecendo nos EUA. Acredito que mais ou menos 10% da população americana tenham uma visão parecida com a minha, mas veja bem: o mesmo vale para o meu país, a Dinamarca.

De onde se conclui que, pela proporção, existem mais pessoas com quem eu concordo nos EUA que em meu próprio país... Não sou anti-americano. Como se pode ser contra algum país e contra a sua população inteira? Mas sou contra a política de Estado que vejo nos EUA e fui contra a guerra do Iraque.

Folha - A forma de parábola de "Dogville" permite esta leitura, a da defesa de uma vingança contra o poder dos EUA como nação?
Von Trier -
De forma alguma eu defendo atos de vingança no filme. Sei que algumas pessoas podem entendê-lo dessa maneira, mas que considero tão estúpida quanto aquela que chama "Dogville" de anti-americano.

Folha - O que o senhor acha da fama de provocador?
Von Trier -
Não sei se sou um provocador, mas gosto de pensar que estou provocando a mim mesmo quando escolho um tema como a vingança pessoal, por exemplo, algo que vai contra os meus princípios e que acredito ser totalmente não-civilizado.

Folha - Por isso o estilo "brechtiano", mais cerebral que emocional?
Von Trier -
Certamente "Dogville" é mais cerebral e menos emocional que "Ondas do Destino" e "Dançando no Escuro", mas não sei se pelo tema. Foi assim que ele acabou se desenvolvendo a partir de várias referências, e Brecht foi uma delas. Sinto que "Dogville" está próximo a mim pela narração, pelo tom sarcástico. É meu filme mais pessoal.

Folha - "Dogville" inicia uma nova trilogia. E os outros dois filmes?
Von Trier -
Já escrevi o roteiro do segundo filme, que vai se chamar "Mandalay" e vai retomar a história de "Dogville" algumas semanas depois de seu fim. As filmagens deverão começar no próximo inverno. O terceiro filme vai se chamar "Wasington", assim mesmo, sem o "h".

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