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22/08/2000 - 11h35

Crítica: Pouco ousada, escolha foi coerente no Festival da Música Brasileira

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Em se tratando da Globo e de tudo que ela já fez e faz, até que não foi tão ruim assim. O Festival da Música Brasileira começou no sábado passado sem nenhuma surpresa, sem nenhuma ousadia. Mas, ao menos, a coerência pautou a escolha para a final de três das 12 concorrentes.

Conquistaram passaporte "Estrela da Manhã", de Beto Furquim, "Tubaína", de Fernando Chuí, e "Xi (De Pirituba a Santo André)", de Kleber Albuquerque e Rafael Altério. Ficaram para trás, à beira da estrada, três ou quatro boas canções.

Coisas e coisas já podem ser recolhidas. Entre uma canção engenhosa, mas artificial sobre um trem ("Xi"), uma sobre uma anestesiada estrela da manhã e outra bem mais relevante, sobre o mar de lama que emporcalha o Brasil ("Vão", de Dante Ozzetti), a Globo preferiu as duas primeiras. De quebra, deixou de fora Virgínia Rosa, intérprete de "Vão", a artista que teve mais atitude no palco.

Walter Franco, com a mais impactante de todas as músicas, foi desclassificado -é um paradoxo para o júri, mas corresponde à expectativa de que Franco, algo exacerbado no palco, seja respeitado como artista estabelecido, não como concorrente de festival.

Mônica Salmaso classificou "Estrela da Manhã", música anódina na própria correção, provando que postura artística, gesto, interpretação arrebatadora e presença de palco são características suficientes -e tão musicais quanto deveriam- para ocupar outros vácuos. Virgínia Rosa desclassificou "Vão", anulando em parte essa mesma proposição.

A baiana Virgínia Rodrigues, cantando bloco afro entristecido em dueto com Caetano Veloso no show final, anulou proposições e contrapropostas: protagonizou o momento sublime da noite, mostrando ao Brasil global a credencial que pode colocá-la entre as maiores das maiores intérpretes femininas nacionais de todos os tempos. Mas apresentou-se hors-concours, acima do bem, do mal e das proposições. O Brasil não a conhece, sua presença entre os competidores engrandeceria tanto a competição quanto o país. Ficará apenas sua imagem impressa na memória, de um curto e divino flash de festival.

Tais paradoxos desqualificam a olimpíada como um todo, mas confirmam uma das essências desse lance (anacrônico?) de festival: torcendo pela música perdedora, indignando-se com a "errada" que venceu, ficando com pena da "coitadinha" ou indagando quem é aquela que está ao lado de Caetano, o espectador é (ou poderia ser) instado à reflexão, à opção estética, quem sabe à atitude.

Bem, seria assim nos 60, anos que ainda estão aí, quando Caetano encerra a etapa cantando "Alegria, Alegria" em arranjo engajado, ou quando "Tubaína" repete com competência, mas qual folha de xerox, um arranjo que Rogério Duprat faria em 68 -o tropicalismo vai vencer o festival?

Mas será assim nos anos de anomia, nos 2000? Aqueles anos 60 não estão mais aí, o que se conclui da balela de público estudantil/operário que a Globo tentou divulgar. Que nada, quem estava lá, isso sim, eram as famílias dos concorrentes, mais burgueses em geral e Antônio Ermírio de Moraes. O shopping center/disco voador Credicard Hall de São Paulo não foi feito para outra coisa.

O que fica, do final dessa primeira etapa? Que pela tela da TV mais poderosa desfilaram rostos que jamais haviam tido chance ali e talvez nem voltem a ter, já que o domingo de manhã é de novo de Xuxa e suas grosserias.

E que outros rostos passaram indiretamente pela Globo, porque ausentes. Na madrugada da mesma noite, Itamar Assumpção dava entrevista "marginal" ao SBT -e sem querer ele esteve no festival, na figura de um discípulo indireto, Fernando Chuí. E a Globo reverenciava Itamar, um dos maiores compositores brasileiros, sem nunca provavelmente ter exposto seu rosto. Triste Bahia...

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