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23/05/2003
-
08h01
editora-assistente da Ilustrada
Graças à personalíssima voz, Macy Gray vem sendo incansavelmente comparada a Patti LaBelle, Tina Turner, Billie Holiday. Parece haver um pouco dessas três em "The Problem with Being Myself", terceiro CD da cantora, em que voz, estilo e drama se complementam.
A voz é a chave para entrar no mundo de Macy Gray, mas antes mesmo de abrir a boca a cantora costuma se fazer notar: figurinos extravagantes e gestos pouco comportados são a normativa que a acompanha (no Free Jazz de 2001, os brasileiros assistiram a uma tentativa de strip-tease de sua banda, por exemplo).
Somada à voz de Pato Donald com que adentrou a música pop, Gray poderia não passar de uma caricatura, interessante para refrescar a indústria musical no setor r&b -onde originalidade de mais e bom-mocismo de menos é artefato raro. Por baixo da fantasia, porém, a cantora tem estofo para não parar de escrever boas canções, e a tal voz é instrumento versátil e muito bem utilizado.
Mas Gray --mãe divorciada de três crianças e dona de um café em Hollywood, nas horas vagas-- chega ao terceiro álbum disposta a discutir "os problemas de ser ela mesma".
A ver. No novo disco, faz o que sabe bem: alterna seu peculiar timbre entre investidas roqueiras, canções de melodia descompromissada e conteúdo para lá de sombrio, entra de sola no funk e no hip hop e homenageia criativamente uma de suas maiores inspirações com "Screamin'", bem à la Jackson Five.
Passados os tempos de cantoria "por cem dólares" --como costuma contar--, em bares do circuito hoteleiro de Los Angeles (onde o cardápio oscilava entre standards do jazz e canções de Frank Sinatra), e depois de dois álbuns na praça (um dos quais, o sucesso de estréia "On How Life Is", alçou-a à condição de "diva" do funk e soul e lhe deu um Grammy), Gray começa a falar de suas inquietações hoje em dia cravando que "não é o dinheiro" ("It Ain't the Money") -o problema ou a solução?
Depois comenta os tombos da vida que a transformaram no que é, remói levemente a dor de cotovelo de praxe do r&b ("Ela pode ser mais bonita do que eu,/ mas não escreve canções sobre você", em "She Don't Write Songs about You"), mergulha numa infância tão problemática quanto tola ("My Fondest Childhood Memories") e experimenta a felicidade, ainda que artificial ("Meu limite é felicidade por um dia ou dois/ Eu sou "junkie'/E você?", pergunta em "Happiness") -reforçada pela convicção expressada momentos antes de ser amada porque "é Macy Gray".
Nem com esse pé na egolatria a música deixa de ser das melhores, e é isso o que faz do CD a continuação da feliz carreira da cantora até aqui. O problema em ser Macy Gray, ao fim, talvez seja apenas o fato de que ela anda se preocupando demais com isso.
Avaliação:
The Trouble with Being Myself
Artista: Macy Gray
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 27, em média
Macy Gray traduz suas experiências em funk, hip hop, rock e jazz
DENISE MOTAeditora-assistente da Ilustrada
Graças à personalíssima voz, Macy Gray vem sendo incansavelmente comparada a Patti LaBelle, Tina Turner, Billie Holiday. Parece haver um pouco dessas três em "The Problem with Being Myself", terceiro CD da cantora, em que voz, estilo e drama se complementam.
A voz é a chave para entrar no mundo de Macy Gray, mas antes mesmo de abrir a boca a cantora costuma se fazer notar: figurinos extravagantes e gestos pouco comportados são a normativa que a acompanha (no Free Jazz de 2001, os brasileiros assistiram a uma tentativa de strip-tease de sua banda, por exemplo).
Somada à voz de Pato Donald com que adentrou a música pop, Gray poderia não passar de uma caricatura, interessante para refrescar a indústria musical no setor r&b -onde originalidade de mais e bom-mocismo de menos é artefato raro. Por baixo da fantasia, porém, a cantora tem estofo para não parar de escrever boas canções, e a tal voz é instrumento versátil e muito bem utilizado.
Mas Gray --mãe divorciada de três crianças e dona de um café em Hollywood, nas horas vagas-- chega ao terceiro álbum disposta a discutir "os problemas de ser ela mesma".
A ver. No novo disco, faz o que sabe bem: alterna seu peculiar timbre entre investidas roqueiras, canções de melodia descompromissada e conteúdo para lá de sombrio, entra de sola no funk e no hip hop e homenageia criativamente uma de suas maiores inspirações com "Screamin'", bem à la Jackson Five.
Passados os tempos de cantoria "por cem dólares" --como costuma contar--, em bares do circuito hoteleiro de Los Angeles (onde o cardápio oscilava entre standards do jazz e canções de Frank Sinatra), e depois de dois álbuns na praça (um dos quais, o sucesso de estréia "On How Life Is", alçou-a à condição de "diva" do funk e soul e lhe deu um Grammy), Gray começa a falar de suas inquietações hoje em dia cravando que "não é o dinheiro" ("It Ain't the Money") -o problema ou a solução?
Depois comenta os tombos da vida que a transformaram no que é, remói levemente a dor de cotovelo de praxe do r&b ("Ela pode ser mais bonita do que eu,/ mas não escreve canções sobre você", em "She Don't Write Songs about You"), mergulha numa infância tão problemática quanto tola ("My Fondest Childhood Memories") e experimenta a felicidade, ainda que artificial ("Meu limite é felicidade por um dia ou dois/ Eu sou "junkie'/E você?", pergunta em "Happiness") -reforçada pela convicção expressada momentos antes de ser amada porque "é Macy Gray".
Nem com esse pé na egolatria a música deixa de ser das melhores, e é isso o que faz do CD a continuação da feliz carreira da cantora até aqui. O problema em ser Macy Gray, ao fim, talvez seja apenas o fato de que ela anda se preocupando demais com isso.
Avaliação:
The Trouble with Being Myself
Artista: Macy Gray
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 27, em média
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