Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
23/05/2003 - 10h36

"Não escrevo roteiros, mas romances para o cinema", diz Arriaga

GIOVANA MOLLONA
free-lance para a Folha Online, no Rio

Mais conhecido no Brasil graças ao filme "Amores Brutos" ("Amores Perros"), cujo roteiro é de sua autoria, o mexicano Guillermo Arriaga foi uma das atrações da programação do Café Literário de ontem na Bienal do Rio. Como seu parceiro no debate, o escritor Paulo Lins, não pode comparecer, ele teve de encarar sozinho o palco do evento "Mundo cão: imagens literárias da violência".

"Queria muito conhecer Paulo Lins e estou muito triste que ele não esteja aqui", comentou Arriaga que é fã do filme "Cidade de Deus", adaptação do livro homônimo do escritor brasileiro.

No bate-papo, Arriaga falou sobre "O Búfalo da Noite", livro que veio divulgar na Bienal. A trama gira em torno de um triângulo amoroso formado por dois amigos e uma mulher. Um dos amigos comete suicídio e deixa os outros dois mergulhados num profundo sentimento de culpa e de traição.

O fato de ter crescido em um violento bairro de classe média baixa na Cidade do México foi decisivo para moldar o perfil como escritor e roteirista de Arriaga. Essa vivência trouxe para sua obra a abordagem de temas como amor, morte e poder, sempre carregados de violência.

"Tínhamos de defender a nossa honra a todo instante. Era irascível", e completou em tom de exagero: "Brigava tanto naquela época que perdi o olfato aos 13 anos."

A timidez com as mulheres levou Arriaga a escrever. "Escrevia para elas por vergonha de me aproximar, mas depois de lerem o que eu havia escrito, eram elas que não queriam falar comigo", disse.

Além da violência que presenciou no bairro onde morou na juventude, um acidente sofrido naquela época lhe deixou obcecado por idéias fatalistas e influenciou o seu trabalho também. "Só ali percebi como nós somos frágeis", disse.

Já que o assunto é acidentes, o escritor, que é pai de um casal, lembrou uma passagem com sua filha no set de gravações de "Amores Brutos". O dia da visitação foi justamente o que retratava um acidente de carro, onde pessoas ensanguentadas e morrendo tomavam conta da cena.

"Ao assistir aquilo, minha filha perguntou porque escrevia coisas tão aterradoras. Disse-lhe que era o que tinha no coração, ao que ela na hora retrucou: 'Nossa! Mas que coração horrível você tem!'".

Já o roteiro que está fazendo para o cinema no momento ["Dallas Buyers Club"], tem como pano de fundo os anos 80, e gira em torno de um homem heterossexual que, ao descobrir que está com Aids, resolve abrir farmácias alternativas para ajudar os demais soropositivos. Mark Foster está cotado na direção do longa que terá Brad Pitt no elenco.

Planos no Brasil? "Gostaria de escrever um roteiro no país sem Pão de Açúcar, praia e samba", afirmou. Nada mal para um escritor que disse, na ocasião, não fazer roteiros, mas sim "romances para o cinema".

Especial
  • Saiba mais sobre a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página