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03/06/2003 - 09h07

Mostra "Lívio Abramo" supera caráter de ilustração

TIAGO MESQUITA
Especial para a Folha de S.Paulo

Hoje em São Paulo podemos entrar em contato com boa parte da arte moderna impressa do Brasil. Ao menos duas exposições recentes nos dão a medida da contribuição da gravura à arte mais recente do país: "A Gravura Vai Bem, Obrigado", panorâmica coletiva da Galeria Virgílio, e o interessante retrospecto do trabalho de Lívio Abramo (1903-1992) no MAM -"Lívio Abramo: Cem Anos".

Acompanhando o percurso de Abramo conseguimos entender especificidades da gravura entre nós. Embora a mostra tenha desenhos, vemos uma dedicação ao meio rara em artistas modernos. Tal esforço incorporava a discussão específica à gráfica, mas buscava fugir das armadilhas das discussões meramente técnicas e transcender o caráter acessório de ilustração.

Pois esta criação mais arejada e autônoma passava pelo interesse de Abramo no expressionismo. Curiosamente, este interesse toma formas diferentes no decorrer de sua trajetória.

Num primeiro momento Abramo volta seus olhos para temas primitivistas, caros a Gauguin e aos primeiros expressionistas.

Só que, aqui, uma certa tropicalização dos ritmos e dos motivos do trabalho não aparece como um contraponto distante à vida fria da modernidade européia.

Pelo contrário, aparece, muitas vezes, lado a lado com a modernização, como um jeito matreiro de lidar com suas mazelas, ou se refugiar de suas obrigações.

Este anticapitalismo se expressa no elogio da vida em meio a vegetais agigantados, próxima à natureza e na organização comunitária da vida.
Já na segunda metade dos anos 30 este caráter resistente aparece de modo mais pronunciado.

Lívio Abramo torna-se mais próximo do segundo expressionismo. Os traços marcados e as manchas na superfície, que denunciavam sensualidade em trabalhos anteriores, aqui parecem distinguir as figuras do meio que as circunda. Fazendo-as ou personagens solitários ou em atos de destaque.

Nas decisivas ilustrações para "Pelo Sertão" (1947), livro de Afonso Arinos, a gravura de Lívio Abramo aparece em trânsito: ao mesmo tempo em que suas marcas dão maior dramaticidade às cenas, elas também parecem caminhar para a padronização mais abstrata das paisagens do artista. Marcando o caráter figurativo das cenas, mas também marcando uma rítmica mais formal.

Aliás, nestes conhecidos trabalhos, o artista parece reatar com seus inícios mais tropicais. Na malha caótica do tecido urbano, descrita de cima, ele parece procurar mais uma harmonia açucarada dos diferentes meios (e a criatividade popular construindo beleza), do que um maravilhamento monumental diante de tanta desigualdade.

Nem sempre dá em boa arte, mas certamente elas são infalivelmente reveladoras deste jeito macio de lidar com a beleza no país.


Tiago Mesquita é crítico de arte

Avaliação:

Lívio Abramo: Cem Anos
Quando: ter., qua. e sex., das 12h às 18h; qui., das 12h às 22h; sáb. e dom., das 10h às 18h. Até 29/6
Onde: MAM-SP (pq. Ibirapuera, portão 2, tel. 5549-9688)
Quanto: R$ 5
 

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