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07/06/2003
-
07h09
Crítico da Folha de S.Paulo
O filme "Pollock" é uma produção honesta, em que Ed Harris (ator e diretor) retoma os passos do talvez maior pintor americano de todos os tempos.
Mas existe algo de incômodo, de permanentemente exterior ao personagem, nesse trabalho. Lá está Jackson Pollock (1912-56) no clichê do artista de cinema americano: sujeito genial, temperamental, alcoólatra, anti-social.
Pollock aparece pintando tal qual o mostram os documentários: como um demente, atirando tinta sobre a tela.
Mas, à parte um ser excepcional --aceitemos que seja--, o artista fez algo muito concreto: sua arte tem uma relação intensa com o momento, com o acontecer. Isto é: não com o acontecido.
A pintura de Pollock tinha muito do gesto irrepetível, único, quase acidental. "Pollock", o filme, é ensaiado, repetido, estudado. De certa forma, "Pollock" é o anti-Pollock. Trabalha o acontecido, não o acontecer.
Pollock estava na contramão da idéia romântica de gênio. Mas é ao gênio romântico, justamente, que o filme remete o espectador: ao homem que sofre, que bebe, cuja arte está acima da própria vida (pois é incontornável, impõe-se ao artista).
Ora, é o mito da arte e do artista que Pollock sacudiu. É a impossibilidade de controlar o mundo que suas telas afirmam.
Qual seria o correlato cinematográfico dessa arte? Na América, pode-se pensar em John Cassavetes. Mas é Jean-Luc Godard, de longe, quem melhor expressa, no cinema, esse tipo de preocupação, com sua paixão pelo improviso, sua maneira ostensiva de abrir a câmera à realidade, ao acaso, ao que na vida é vivo.
Ed Harris fez uma homenagem sincera ao pintor, mas em nenhum momento ultrapassa os limites da representação naturalista. Com ela, de certa forma demonstrou que Hollywood está fechada a alguém como Pollock.
POLLOCK
Quando: hoje, às 19h40, no Telecine Emotion
Ed Harris cria um anti-Pollock honesto
INÁCIO ARAUJOCrítico da Folha de S.Paulo
O filme "Pollock" é uma produção honesta, em que Ed Harris (ator e diretor) retoma os passos do talvez maior pintor americano de todos os tempos.
Mas existe algo de incômodo, de permanentemente exterior ao personagem, nesse trabalho. Lá está Jackson Pollock (1912-56) no clichê do artista de cinema americano: sujeito genial, temperamental, alcoólatra, anti-social.
Pollock aparece pintando tal qual o mostram os documentários: como um demente, atirando tinta sobre a tela.
Mas, à parte um ser excepcional --aceitemos que seja--, o artista fez algo muito concreto: sua arte tem uma relação intensa com o momento, com o acontecer. Isto é: não com o acontecido.
A pintura de Pollock tinha muito do gesto irrepetível, único, quase acidental. "Pollock", o filme, é ensaiado, repetido, estudado. De certa forma, "Pollock" é o anti-Pollock. Trabalha o acontecido, não o acontecer.
Pollock estava na contramão da idéia romântica de gênio. Mas é ao gênio romântico, justamente, que o filme remete o espectador: ao homem que sofre, que bebe, cuja arte está acima da própria vida (pois é incontornável, impõe-se ao artista).
Ora, é o mito da arte e do artista que Pollock sacudiu. É a impossibilidade de controlar o mundo que suas telas afirmam.
Qual seria o correlato cinematográfico dessa arte? Na América, pode-se pensar em John Cassavetes. Mas é Jean-Luc Godard, de longe, quem melhor expressa, no cinema, esse tipo de preocupação, com sua paixão pelo improviso, sua maneira ostensiva de abrir a câmera à realidade, ao acaso, ao que na vida é vivo.
Ed Harris fez uma homenagem sincera ao pintor, mas em nenhum momento ultrapassa os limites da representação naturalista. Com ela, de certa forma demonstrou que Hollywood está fechada a alguém como Pollock.
POLLOCK
Quando: hoje, às 19h40, no Telecine Emotion
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