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07/06/2003 - 07h26

Espetáculo "Rio Ota" mergulha no experimentalismo

VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo

Imagine um elenco estelar com Giulia Gam, Maria Luísa Mendonça, Caco Ciocler, Beth Goulart e Vera Zimmermann, entre outros atores, devotados a um grupo de teatro experimental, virando a madrugada em ensaios para um espetáculo que dura cinco horas e seu enredo não enfeixa papel principal --todos estão no mesmo plano sob a mira dos holofotes.

A montagem brasileira da peça "Os Sete Afluentes do Rio Ota", criação conjunta do encenador canadense Robert Lepage e do seu grupo Ex Machina, aportou no país no ano passado, no Rio, com parte dos atores compartilhada com gravações de novelas.

De largada, o projeto contraria inclinação de profissionais vinculados à TV para produções teatrais de apelo meramente comercial.

Tudo sob a chancela de Lepage, um dos artistas mais inovadores da cena internacional nos anos 90, adepto da fusão de linguagem multimídia no palco.

O projeto é ancorado pela produtora e cineasta Monique Gardenberg, que estréia como diretora teatral (função que assina com a atriz Michele Matalon). A partir de hoje, o Sesc Anchieta concentra a diversidade de gerações e de escolas de interpretação que entram em cena para defender um épico de heróis de carne e osso.

"Rio Ota" (1996) colhe retratos da segunda metade do século 20, entrecruzando a vida de sete personagens em pontos diferentes do mundo. Hiroshima, cidade japonesa atingida pela bomba atômica em 1945, serviu de ponto de partida e chegada. Ao visitá-la, Lepage deparou com uma população reerguida daquela tragédia --há o ritual de acender "lanternas" e despachá-las sobre as águas do Rio Ota, que a atravessa.

A peça é dividida em sete partes. Vai de 1945 a 1997, com ações em Nova York, Osaka, Amsterdã e Terezin, cidade da atual República Tcheca, transformada em campo nazista à época.

Exemplo de especificidades do elenco são Helena Ignez, 64, diva do cinema novo, e Maria Luísa Mendonça, 33, afastada dos palcos havia oito anos. Ignez é a judia Jana Capek na velhice, convertida ao budismo, uma monja, enquanto Mendonça dá conta da outra ponta da vida da personagem, agora na pele de uma menina de 11 anos. "Ela tem a essência do brincar que está implícito no jogo teatral", diz Mendonça.

Em Terezin, para onde os judeus foram deportados, a menina se entretém com um mágico (Pascoal da Conceição), um lampejo de lirismo. Conceição atuou em várias montagens do grupo Oficina, de José Celso Martinez Corrêa. Quem também trabalhou com o diretor foi Giulia Gam, que interpreta a cantora de ópera Ada Weber numa das partes mais dramáticas, quando um grupo de pessoas se despede do amigo que morre vitimado pela Aids.

"A gente se apropria da experiência do grupo do Lepage para colocar as nossas", diz Gam, 36, que define o projeto como uma "ópera" (de fato, sua personagem mais velha é vivida pela cantora Madalena Bernardes), por causa da exigência dos intérpretes e da encenação, que faz uso de projeções de imagens na recriação cenográfica de Hélio Eichbauer. Beth Goulart, 42, destaca a dualidade recorrente na dramaturgia: Oriente e Ocidente, drama e comédia, vida e morte.

OS SETE AFLUENTES DO RIO OTA
De: Robert Lepage e grupo Ex Machina
Tradução: Sérgio Maciel e Sandra Lagnado
Direção: Monique Gardenberg
Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/ 11/3256-2281)
Quando: estréia hoje, para convidados, e amanhã para o público em geral; sex., às 21h; sáb., às 19h; e dom., às 18h
Quanto: R$ 30. Até 6/7
 

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