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08/06/2003 - 02h38

Gastrobadalação embala São Paulo

SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

O "homem" está chegando.

Porque o "homem" está chegando, monta-se uma verdadeira operação de guerra, para fazer o "boeing", como o lugar é chamado nas internas, funcionar à perfeição. Matias Medeiros, o maitre principal, aponta com o queixo uma batuta imaginária para os 110 garçons do salão que comanda.

Fabiano Aurélio, o sommelier, já sabe que terá de escolher entre as mais de 900 da adega uma garrafa de vinho tinto do Rioja, de preço modesto --o "homem" é famoso por sua mão fechada. Afinal de contas, é a foto do "homem" que está lá com o dono do lugar no salão de entrada, feita antes mesmo da inauguração oficial.

Ao cruzar o corredor principal em direção à mesa discreta de sua preferência, no interior à esquerda, cruzará com gente como o empresário Benjamin Steinbruch, que aparece nos almoços das sextas e senta fora, a socialite Lucília Diniz, que só come salada, e o músico/escritor Tony Belotto, exercendo seu lado enólogo com a mulher, a atriz Malu Mader.

O "homem" em questão é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o lugar, o restaurante A Figueira Rubaiyat, de Belarmino Iglesias, localizado há dois anos onde ficava a Cleusa Presentes, tradicional ponto de compras da elite paulistana nos Jardins do qual só restou a árvore, no mesmo local há 80 anos, enorme, frondosa, que se estende sobre o salão.

Se o Figueira caminha para ser o que o Massimo foi nos anos 80, um lugar divertido, com boa cozinha, que reúne um elenco bem misturado e equilibrado de poder, dinheiro e gente bonita, ele é só a ponta do iceberg de um esporte paulistano por excelência: a gastrobadalação, ou a badalação com viés gastronômico.

Cotovelos democráticos

São Paulo, a cidade, conta com cerca de 50 mil restaurantes, que faturam meio bilhão de reais por mês, ou mais de três vezes o orçamento do Programa Fome Zero para o mesmo período.

Destes, menos de 500 se reúnem na Abredi, a Associação de Bares e Restaurantes Diferenciados. E destes, só 50 importam, segundo os preceitos da gastrobadalação.

E os que importam são lugares geralmente de porte médio ou pequeno e nem de longe os que mais faturam. "O dono do Fogo de Chão ganha muito mais dinheiro do que eu", dispara Rogério Fasano, o homem por trás do grupo de maior prestígio gastronômico do Brasil, que leva seu sobrenome.
São dele o Fasano (o templo-sede, atualmente fechado e com reabertura prevista para julho no novo Hotel Fasano), o Parigi, o Gero, o Gero carioca, o Gero Caffé, o Caffé Armani, a Forneria San Paolo e o Baretto (também a reabrir). São todos hors-concours. Todo mundo que é, quer ser ou foi alguém em alguma área já passou por um deles alguma vez.

Outra instituição é o "Grupo Sérgio Kalil", as casas sob o guarda-chuva do paulistano descendente de libaneses de 40 anos em sociedade com as chefs Lygia Lopez e Maria Helena Guimarães: o Ritz (22 anos, 48 lugares), o Spot (10 anos, 120 lugares), o Ritz Itaim (3 anos, 90 lugares) e o novíssimo Hotel Lycra (um mês, 90 lugares).

Todos estão constantemente cheios e, se acotovelando democraticamente nas filas de espera, podem ser encontrados nomes como o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), a atriz Luana Piovani, o estilista Fause Haten e o anônimo empresário de Ribeirão Preto.

"Todos são tratados igualmente e sentados conforme a ordem de chegada", diz Kalil.

Novos lugares

Nos últimos meses, a hegemonia no destino do "beautiful people" vem sendo quebrada por lugares como o Skye, plantado no topo do belo Unique Hotel, na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, e o restaurante do Emiliano, o primeiro "hotel-butique" de São Paulo, na rua Oscar Freire.

Aqui, a qualidade da cozinha importa tanto quanto o brilho dos comensais, e ambos têm o mesmo peso do visual do lugar, composto pelo binômio arquitetura + decoração. O Skye saiu das mãos de Ruy Ohtake e o Emiliano é obra de Arthur de Mattos Casas, e ambos são projetos ousados.

O segredo do sucesso desses lugares é um segredo mesmo para seus donos. "Quem vem aos nosso restaurantes quer ser tratado como gente normal", arrisca Sérgio Kalil. Quer também encontrar uma comida de qualidade constante e "gente como a gente", que é a receita do Spot, por exemplo.

Ou, como resume a top model gaúcha Mariana Weickert, 21, que passa três meses em São Paulo, o resto do ano entre Paris e Nova York e já é frequentadora do Lycra: "Quando ouvi dizer que era do Kalil, já quis vir. Sabia que ali estaria com o meu pessoal".

 

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