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08/06/2003
-
13h11
da Folha de S.Paulo
O resultado da recém-promovida desregulamentação na mídia americana será uma programação de TV não apenas menos diversificada, como notaram tantos críticos, mas também à direita em relação a seu matiz político atual.
A eliminação, na segunda-feira passada, de regras que limitavam a concentração de propriedade representa uma aliança entre o setor mais conservador da política e seu correspondente na indústria da informação, observou à revista eletrônica "Salon" o homem que presidiu a agência reguladora das comunicações durante a maior parte do governo Clinton.
"A direita", resumiu Reed Hundt, "quer uma mídia amiga".
O mundo testemunhou essa amizade na cobertura oficialista do conflito no Iraque feita pela TV americana. Recentemente, outro sinal foi dado com o desprezo do noticiário pelas evidências de que a administração Bush mentiu em sua exposição de motivos para ir à guerra -em contraste com as cobranças despejadas sobre Tony Blair pelo jornalismo britânico.
A conta, avalia Hundt, está paga com o sinal verde à etapa final da oligopolização. O titular do cargo que já foi de Hundt na FCC (sigla em inglês para Comissão Federal de Comunicações) personifica a confluência de interesses nessa votação. Michael Powell, filho do secretário de Estado, aliado da Casa Branca e ex-funcionário de um dos gigantes beneficiados (AOL Time Warner), afirma que, tonificadas pelas aquisições, as empresas investirão em programação menos padronizada.
Para Hundt, o real significado, como na "novilíngua" de George Orwell, é exatamente o contrário.
"Não há interesse público em que menos empresas possuam mais veículos", disse à Folha. "Só o governo e os conglomerados querem. Sua meta não é expandir a informação, mas restringi-la."
Hundt localiza na administração Nixon (1969-1974) o início da ofensiva conservadora sobre a mídia. "Na década passada, em especial, muitos donos passaram a injetar seus pontos de vista no noticiário, o que resultou em uma inflexão geral à direita."
Na era dos falcões de Bush, a maioria das trocas de guarda nos cobiçados postos de comentaristas das emissoras se dá em benefício de vozes conservadoras.
Com poucas exceções, as redes silenciaram sobre os planos da FCC até as vésperas da votação. Rupert Murdoch, dono da mais governista delas (Fox News), tornou-se símbolo dos protestos contra a desregulamentação.
Nesse cenário, o futuro da informação independente pode ser resumido na resposta do número um da Disney quando lhe perguntaram como a ABC News, que acabara de ser adquirida pelo grupo, deveria tratar a empresa-mãe em seu noticiário: "Não convém que a Disney cubra a Disney".
No Brasil, onde TV e concentração de propriedade são sinônimos, convém olhar o exemplo para ter idéia do que nos espera.
Artigo: falcões em terra de gigantes
RENATA LO PRETEda Folha de S.Paulo
O resultado da recém-promovida desregulamentação na mídia americana será uma programação de TV não apenas menos diversificada, como notaram tantos críticos, mas também à direita em relação a seu matiz político atual.
A eliminação, na segunda-feira passada, de regras que limitavam a concentração de propriedade representa uma aliança entre o setor mais conservador da política e seu correspondente na indústria da informação, observou à revista eletrônica "Salon" o homem que presidiu a agência reguladora das comunicações durante a maior parte do governo Clinton.
"A direita", resumiu Reed Hundt, "quer uma mídia amiga".
O mundo testemunhou essa amizade na cobertura oficialista do conflito no Iraque feita pela TV americana. Recentemente, outro sinal foi dado com o desprezo do noticiário pelas evidências de que a administração Bush mentiu em sua exposição de motivos para ir à guerra -em contraste com as cobranças despejadas sobre Tony Blair pelo jornalismo britânico.
A conta, avalia Hundt, está paga com o sinal verde à etapa final da oligopolização. O titular do cargo que já foi de Hundt na FCC (sigla em inglês para Comissão Federal de Comunicações) personifica a confluência de interesses nessa votação. Michael Powell, filho do secretário de Estado, aliado da Casa Branca e ex-funcionário de um dos gigantes beneficiados (AOL Time Warner), afirma que, tonificadas pelas aquisições, as empresas investirão em programação menos padronizada.
Para Hundt, o real significado, como na "novilíngua" de George Orwell, é exatamente o contrário.
"Não há interesse público em que menos empresas possuam mais veículos", disse à Folha. "Só o governo e os conglomerados querem. Sua meta não é expandir a informação, mas restringi-la."
Hundt localiza na administração Nixon (1969-1974) o início da ofensiva conservadora sobre a mídia. "Na década passada, em especial, muitos donos passaram a injetar seus pontos de vista no noticiário, o que resultou em uma inflexão geral à direita."
Na era dos falcões de Bush, a maioria das trocas de guarda nos cobiçados postos de comentaristas das emissoras se dá em benefício de vozes conservadoras.
Com poucas exceções, as redes silenciaram sobre os planos da FCC até as vésperas da votação. Rupert Murdoch, dono da mais governista delas (Fox News), tornou-se símbolo dos protestos contra a desregulamentação.
Nesse cenário, o futuro da informação independente pode ser resumido na resposta do número um da Disney quando lhe perguntaram como a ABC News, que acabara de ser adquirida pelo grupo, deveria tratar a empresa-mãe em seu noticiário: "Não convém que a Disney cubra a Disney".
No Brasil, onde TV e concentração de propriedade são sinônimos, convém olhar o exemplo para ter idéia do que nos espera.
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