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09/06/2003 - 12h34

Diretor britânico fala sobre "A Festa Nunca Termina"

THIAGO NEY
da Folha de S.Paulo

Um filme sobre Manchester. Ou mais "restritivo" ainda: um filme sobre a cena musical de Manchester, entre 1976 e 1992. O diretor, Michael Winterbottom, 42, diz por que as bandas e o movimentado cenário cultural de uma cidade de 500 mil habitantes (dados de 2001) podem interessar tanto a quem vive no norte da Inglaterra quanto a um paulistano:

"Todo filme fala sobre um local particular em um espaço de tempo particular. Quando comecei a me interessar por cinema, assistia coisas de Werner Herzog, Fassbinder, e eu nunca tinha ido à Alemanha. E aquilo, mesmo vindo de uma cultura diferente, representava muito para mim. Ninguém diz que um filme ambientado em Los Angeles tem um alcance curto -e Manchester é uma cidade muito mais interessante que Los Angeles. De longe".

Winterbottom ("Bem-Vindo a Sarajevo") fala sobre "A Festa Nunca Termina" ("24 Hour Party People"), seu documentário com toques fictícios que retrata desde o primeiro show dos Sex Pistols em Manchester, para 42 pessoas, até o desmantelamento da acid house, o gênero dance que pegou um pouco da música de Chicago, misturou com influências do pop britânico e gerou a trilha das pistas dos clubes europeus na época. Produzido em 2002, está em cartaz atualmente em São Paulo.

A história é encadeada por um personagem, Tony Wilson, o apresentador de TV que levou aos lares britânicos os punks (Sex Pistols, Buzzcocks) e os punks-de-atitude (The Jam, Siouxsie & the Banshees, Iggy Pop), fundou a Factory Records (Joy Division, New Order, Happy Mondays) e o fundamental clube Haçienda.

Com um assunto caro a muitos no mundo inteiro, Winterbottom se cercou de cuidados na preparação do roteiro.

"Nós falamos primeiro com Tony Wilson, depois entrevistamos todos que tinha alguma conexão com as bandas. Quando definimos o "cast", os atores se encontraram com as pessoas que iriam interpretar. Claro que alguns já estão mortos -então Paddy Considine encontrou a viúva de Rob Gretton [empresário do Joy Division], Sean Harris conversou com a viúva de Ian Curtis [vocalista do grupo, que cometeu suicídio em 1980]."

Por e-mail, à Folha, ele continua, com detalhes curiosos: "Enviamos o roteiro para os que seriam interpretados no filme, para que eles comentassem o que acharam. Todos ficaram entusiasmados, com exceção da primeira mulher de Wilson, Lindsay, que queria nos processar".

"Originalmente, havíamos escrito que ela havia feito sexo com Vini Reilly [cantor] no banheiro de uma casa de shows. Aí Lindsay disse que o ocorrido fora com Howard Devoto [Buzzcocks]. Depois, quando ela viu a cena no filme, afirmou que ocorrera num quarto. E mudou de idéia novamente, dizendo que ficara constrangida com o fato de que todo o mundo saberia que ela havia transado com alguém tão estúpido como Howard Devoto."

"A Festa..." ganha um caráter intimista com o público pelas imagens da câmera digital usada por Winterbottom nas filmagens. "Estava decidido a utilizar um formato com câmeras portáteis e sem muitos efeitos externos."
Após "A Festa...", Winterbottom dirigiu "In this World" (sobre afegãos que tentam se refugiar na Inglaterra, em exibição na Europa) e finalizou "Code 46".

Sobre "A Festa...", o britânico resume: "Todos nos contavam suas próprias (e muitas vezes contraditórias) versões dos fatos. Não acho que exista uma "versão verdadeira", então peguei as que gostava mais. A idéia era realizar um filme com o mesmo espírito da Factory, que se inspirou nas idéias punks e, mesmo no meio de um caos, criou música brilhante".

A FESTA NUNCA TERMINA
Produção: Grã-Bretanha/ França/Holanda, 2002
Direção: Michael Winterbottom
Com: Steve Coogan, Sean Harris
Quando: em cartaz nos cines Cinearte, Frei Caneca Unibanco Arteplex, Market Place Cinemark e Top Cine.
 

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