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16/06/2003
-
13h01
Colunista da Folha de S.Paulo
O Metallica só consegue gravar seu novo álbum, "St. Anger", na presença de um terapeuta de grupo, que impede os músicos de se trucidarem no estúdio.
Thom Yorke, do Radiohead, chega atrasado a uma entrevista porque precisou parar tudo, no meio do dia, para fazer ioga. "Eu estava me sentindo meio esquisito", justifica-se.
O rapper inglês Mike Skinner, conhecido como The Streets, vai a uma festa em uma cobertura em Miami Beach, onde estão disponíveis praticamente todas as drogas conhecidas pelo homem. Diligentemente, Streets encarrega-se de consumir todas. A festa acaba às 8h36.
São três histórias que envolvem famosos, lidas em uma mesma revista, a americana "Spin". E que fazem a gente se sentir ridículo por tentar saber da vida dos nossos artistas preferidos ou tentar entender o que eles querem dizer com determinada música ou livro ou filme.
Porque, é claro, Metallica, Thom Yorke, The Streets e outras celebridades vivem em um comprimento de onda totalmente diferente do nosso. Num universo paralelo, em que sexo, drogas e dinheiro (rock and roll é acessório) existem em quantidades muito além de qualquer sonho de normalidade.
Tudo isso me faz lembrar um documentário a que assisti na TV americana sobre a história dos Red Hot Chili Peppers. A edição, muito caprichada, mostrava, em sequência, várias entrevistas de Anthony Kiedis, líder do grupo, depois do lançamento de cada álbum.
Era sempre a mesma história: a cada lançamento, ele vinha com um papo de que "no nosso disco anterior, estava tudo muito tumultuado, mas agora entramos nos eixos, então este é um álbum centrado, a gente está muito família, limpamos nosso organismo etc. etc. etc."
Até que vinha o disco seguinte, e ele mandava a mesma conversa mole: "Agora, sim, estamos centrados, sossegados e gravamos um disco com nossas cabeças no lugar. Porque antes não dava, era muita loucura piriri pororó...".
Deu para entender? Claro que nem hoje, nem ontem, nem nunca vai estar tudo "normal" na vida dos Red Hot Chili Peppers. No universo à parte habitado por essas megacelebridades, também os parâmetros do que é ou não "normal" estão estilhaçados.
Para uma figura dessas, diminuir o consumo diário de três garrafas de vodca para duas e meia já é algo que seria anunciado em entrevistas como "estamos chegando a um novo estado de sobriedade" ou qualquer coisa que o valha.
Sem querer dar uma de teórico da conspiração, não há como, aqui de fora, a gente ter idéia de quanto dinheiro, poder e influência está em jogo em cada linha de notícia que o grande público recebe sobre suas celebridades preferidas.
Elas estão em outra. Não estão nem aí para nós.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
Escuta Aqui: Celebridades vivem num mundo muito louco
ÁLVARO PEREIRA JÚNIORColunista da Folha de S.Paulo
O Metallica só consegue gravar seu novo álbum, "St. Anger", na presença de um terapeuta de grupo, que impede os músicos de se trucidarem no estúdio.
Thom Yorke, do Radiohead, chega atrasado a uma entrevista porque precisou parar tudo, no meio do dia, para fazer ioga. "Eu estava me sentindo meio esquisito", justifica-se.
O rapper inglês Mike Skinner, conhecido como The Streets, vai a uma festa em uma cobertura em Miami Beach, onde estão disponíveis praticamente todas as drogas conhecidas pelo homem. Diligentemente, Streets encarrega-se de consumir todas. A festa acaba às 8h36.
São três histórias que envolvem famosos, lidas em uma mesma revista, a americana "Spin". E que fazem a gente se sentir ridículo por tentar saber da vida dos nossos artistas preferidos ou tentar entender o que eles querem dizer com determinada música ou livro ou filme.
Porque, é claro, Metallica, Thom Yorke, The Streets e outras celebridades vivem em um comprimento de onda totalmente diferente do nosso. Num universo paralelo, em que sexo, drogas e dinheiro (rock and roll é acessório) existem em quantidades muito além de qualquer sonho de normalidade.
Tudo isso me faz lembrar um documentário a que assisti na TV americana sobre a história dos Red Hot Chili Peppers. A edição, muito caprichada, mostrava, em sequência, várias entrevistas de Anthony Kiedis, líder do grupo, depois do lançamento de cada álbum.
Era sempre a mesma história: a cada lançamento, ele vinha com um papo de que "no nosso disco anterior, estava tudo muito tumultuado, mas agora entramos nos eixos, então este é um álbum centrado, a gente está muito família, limpamos nosso organismo etc. etc. etc."
Até que vinha o disco seguinte, e ele mandava a mesma conversa mole: "Agora, sim, estamos centrados, sossegados e gravamos um disco com nossas cabeças no lugar. Porque antes não dava, era muita loucura piriri pororó...".
Deu para entender? Claro que nem hoje, nem ontem, nem nunca vai estar tudo "normal" na vida dos Red Hot Chili Peppers. No universo à parte habitado por essas megacelebridades, também os parâmetros do que é ou não "normal" estão estilhaçados.
Para uma figura dessas, diminuir o consumo diário de três garrafas de vodca para duas e meia já é algo que seria anunciado em entrevistas como "estamos chegando a um novo estado de sobriedade" ou qualquer coisa que o valha.
Sem querer dar uma de teórico da conspiração, não há como, aqui de fora, a gente ter idéia de quanto dinheiro, poder e influência está em jogo em cada linha de notícia que o grande público recebe sobre suas celebridades preferidas.
Elas estão em outra. Não estão nem aí para nós.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
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