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20/06/2003 - 12h04

Funk carioca faz balançar Central Park

DIEGO ASSIS
da Folha de S.Paulo

Pegue a lista das atrações do SummerStage deste ano: tem os neoblueseiros Chris Thomas King e White Stripes, os indies do Wilco e do Sonic Youth, os veteranos Elvis Costello e De la Soul... Só gente bacana, que passará por um palco montado no Central Park, em Nova York, durante todo o verão americano. Então olhe de novo e lá estará o DJ Marlboro, 40, e esse tal de funk carioca.

"E aí, cara, estamos indo para Nova York! Você já pensou, tocando funk no Central Park?" Sim, é verdade. Ao lado da hoje experiente Daniela Mercury, que, bobeando, já toca mais lá do que aqui, o papa do funk carioca faz a sua estréia como DJ nos Estados Unidos neste domingo, depois de 23 anos de profissão e de uma única ida a Miami para comprar discos para seu QG no Rio. Para não perder o bonde, negociou também uma apresentação em Boston e outra em Nova Jersey.

"O pessoal ligou para cá falando inglês, ninguém entendia nada. Aí falei, num inglês arrastado, para eles mandarem um e-mail, pedi para uma amiga traduzir e ela disse: "Aí, eles estão pedindo para você ir tocar num evento que vai ter lá no Central Park'".

Deixando a brincadeira de lado, o fato é que Marlboro embarca para NY hoje, às 18h30, com o "case" repleto de CDs -nada de vinil- que fariam muito "moderno" arrepiar. "Vai ter "Éguinha Pocotó", do MC Serginho, vai ter Cacau, vai ter Andinho. Vou tocar como se fosse um baile no Rio.

Chamaram-me para tocar funk nacional. Se eu começar a tocar "Whooomp There It Is" ou "Planet Rock", os gringos vão estranhar", diz o primeiro DJ brasileiro a participar do festival.

Nessa onda, promete até samplear a roqueira Janis Joplin, que estaria completando 60 anos e é uma das homenageadas do evento no Central Park. "Vou pegar umas músicas dela na internet e montar alguma coisa com um batidão do funk nacional com ela cantando", diz o DJ carioca, que acabou se interessando pela música de Joplin somente após o convite. "É um tráfico de culturas: ao mesmo tempo em que vou levar o funk nacional para o pessoal de lá conhecer, também Janis Joplin passou a ser um personagem na minha cultura musical."

Alguns minutos de conversa com o DJ e se percebe que o seu repertório vai muito além do que os programas dominicais de auditório insistem em abraçar como "funk carioca". "Eles deveriam mostrar o funk como cultura. Já que o Serginho está lá, por que não coloca o Serginho e mais um, o Serginho e o Mascote, o Serginho e o Duda, o Serginho e a Cacau, que faz funk romântico?"

Preconceitos à parte, o fato é que Marlboro comanda hoje um dos esquemas baladeiros mais fortes do Rio: promove mais de 30 festas por semana, produziu dezenas de nomes do chamado "funk carioca" (uma mistura da house oitentista com a malandragem da favela) e continua procurando e lançando discos.

"O funk está só engatinhando. Tem muito o que somar, que modificar. Tenho 23 anos de discotecagem, e o funk existia antes de mim. Antes a gente sampleava as batidas, agora a gente já usa o tamborzão, que não é nada importado. E vai se transformar mais, até alguém botar um surdão, outro botar um tamborim, cavaquinho. Já está ficando com cara de música brasileira", afirma DJ Marlboro.

"O funk carioca é, junto com o hip hop brazuca, o que de mais importante aconteceu nos anos 90 no Brasil. É música eletrônica, sem copiar nenhum estilo, saindo das favelas do Rio de Janeiro." Quem carimba é o produtor musical Dudu Marote.

Paulatinamente mais aceito pela cena eletrônica nacional, o estilo fez seu début fora do circuito carioca no último festival Eletronika, em Belo Horizonte, quando, além de tocar na mesma noite que Stereo Total, Rubin Steiner e Mau Mau, Marlboro roubou as atenções do público em uma mesa-redonda sobre música eletrônica e identidade nacional.

"Todo mundo é filho do mesmo pai, de Kraftwerk com James Brown", brincava o DJ, que chegou a declarar em uma entrevista à Folha que o novo electro, protagonizado por nomes como Miss Kittin e Peaches, nada mais era do que um "funk de butique".

"O som que Marlboro ajuda a propagar pode não ter as letras mais profundas do mundo, mas as bases que eles têm muitas vezes podem te deixar boquiaberto, tanto pela originalidade quanto pela inventividade, pela capacidade de transcender e, quando você percebe, já está lá mexendo os quadris sem nem saber que podia fazer aquilo", afirma Erika Brandão, diretora do "Amp", da MTV.

Vencedor de um concurso de DJs em 1989, Marlboro já havia carimbado seu passaporte com um visto de Londres naquela época. Mais de dez anos depois, ganha uma nova rubrica e a chance de continuar insistindo que o funk é um mundo. E o mundo, pelo menos neste final de semana, é de Marlboro.
 

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