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22/06/2003
-
16h19
free-lance para a Folha de S.Paulo
Um dos roteiristas de cinema mais conceituados do país, João Emanuel Carneiro tem um desafio pela frente: escrever a próxima novela das sete da Globo, "Da Cor do Pecado", programada para estrear em janeiro de 2004.
Carneiro, que assinou os roteiros de "Central do Brasil" (1998) e "Deus É Brasileiro" (2003), quer levar a linguagem cinematográfica para a TV. "Gosto de imaginar cada capítulo como um pequeno filme dentro da novela."
Mas ele reconhece que "raciocinar uma novela é diferente de raciocinar um filme ou uma peça. Ficar meses e meses escrevendo 30 e tantas páginas por dia e ter que agradar diariamente a um universo enorme de telespectadores não é para qualquer um".
Na empreitada, é supervisionado pelo novelista Silvio de Abreu ("Rainha da Sucata", "Guerra dos Sexos"). A trama terá o romance de um branco rico e uma negra pobre. "Achei oportuno. O Brasil é um país de grandes contrastes, de ricos e pobres, e o folhetim de TV vai na veia de todos."
Carneiro não renega a origem, mas, no momento, diz que sua paixão é a telinha. "No cinema, você espera às vezes três ou quatro anos para ver o que escreveu na tela. Na TV, você escreve um capítulo e em três semanas você e 40 milhões de pessoas estão vendo. É estimulante para quem está inventando uma história. TV é uma grande cachaça."
Amigo e admirador de Carneiro, o cineasta Walter Salles, que dirigiu "Central do Brasil", torce para que a incursão do roteirista pela televisão dê certo, mas também para que ele volte logo a escrever para o cinema.
"Espero que ele volte a jogar como ponta-de-lança do cinema brasileiro", afirma o cineasta. "O João Emanuel tem uma capacidade de observação que é rara e de dar vida a personagens inusitados. Vale a pena esperar para voltar a trabalhar com ele."
Salles, que não tem o hábito de ver novelas, promete até dar uma espiada no trabalho do amigo. "Acredito que o João Emanuel vá levar de alguma forma um pouco da linguagem cinematográfica para a sua novela, claro que dentro dos limites impostos pela televisão. Há poucos roteiristas talentosos como ele tanto no cinema quanto na televisão."
O cineasta relata que tem dois projetos em andamento com o roteirista. Um deles é sobre futebol. No outro, a dupla voltará a se reunir com Fernanda Montenegro. "O João está trabalhando nesses dois filmes há mais de seis meses. Um deles pode ser finalizado durante a novela."
A seguir, trechos da entrevista com Carneiro.
Folha - Na sua estréia, a idéia é levar a linguagem do cinema para a televisão?
João Emanuel Carneiro - "Da Cor do Pecado" é um folhetim com uma condução narrativa que quero que seja muito movimentada. Quando as novelas começaram, os capítulos tinham menos cenas, o telespectador tinha menos cultura audiovisual. Hoje todo mundo vê cinema, está habituado à agilidade da narrativa.
Folha - Qual é a trama?
Carneiro - Ela gira em torno de um jovem milionário do Sul do Brasil que se apaixona por uma moça negra que é feirante em Salvador. Ele tem uma noiva -a vilã- que faz tudo para impedir o romance. Comecei a história imaginando o personagem da vilã. Ela é o motor da trama.
Folha - Qual foi a reação das pessoas do cinema ao saber que você faria televisão?
Carneiro - Se alguém acha que é cafona, estou pouco me lixando. A Globo tem o mérito de investir de forma sistemática para encontrar narradores. O resultado é que a obra deles povoou o imaginário do país nas últimas décadas.
Folha - As novelas da Globo já não têm hegemonia na audiência. O gênero está em crise?
Carneiro - Que eu saiba, as novelas da Globo continuam campeãs no Ibope. Acho que as pessoas mudaram seus hábitos, mas a novela ainda é muito forte.
Roteirista quer levar o cinema à televisão
CRISTINA RIGITANOfree-lance para a Folha de S.Paulo
Um dos roteiristas de cinema mais conceituados do país, João Emanuel Carneiro tem um desafio pela frente: escrever a próxima novela das sete da Globo, "Da Cor do Pecado", programada para estrear em janeiro de 2004.
Carneiro, que assinou os roteiros de "Central do Brasil" (1998) e "Deus É Brasileiro" (2003), quer levar a linguagem cinematográfica para a TV. "Gosto de imaginar cada capítulo como um pequeno filme dentro da novela."
Mas ele reconhece que "raciocinar uma novela é diferente de raciocinar um filme ou uma peça. Ficar meses e meses escrevendo 30 e tantas páginas por dia e ter que agradar diariamente a um universo enorme de telespectadores não é para qualquer um".
Na empreitada, é supervisionado pelo novelista Silvio de Abreu ("Rainha da Sucata", "Guerra dos Sexos"). A trama terá o romance de um branco rico e uma negra pobre. "Achei oportuno. O Brasil é um país de grandes contrastes, de ricos e pobres, e o folhetim de TV vai na veia de todos."
Carneiro não renega a origem, mas, no momento, diz que sua paixão é a telinha. "No cinema, você espera às vezes três ou quatro anos para ver o que escreveu na tela. Na TV, você escreve um capítulo e em três semanas você e 40 milhões de pessoas estão vendo. É estimulante para quem está inventando uma história. TV é uma grande cachaça."
Amigo e admirador de Carneiro, o cineasta Walter Salles, que dirigiu "Central do Brasil", torce para que a incursão do roteirista pela televisão dê certo, mas também para que ele volte logo a escrever para o cinema.
"Espero que ele volte a jogar como ponta-de-lança do cinema brasileiro", afirma o cineasta. "O João Emanuel tem uma capacidade de observação que é rara e de dar vida a personagens inusitados. Vale a pena esperar para voltar a trabalhar com ele."
Salles, que não tem o hábito de ver novelas, promete até dar uma espiada no trabalho do amigo. "Acredito que o João Emanuel vá levar de alguma forma um pouco da linguagem cinematográfica para a sua novela, claro que dentro dos limites impostos pela televisão. Há poucos roteiristas talentosos como ele tanto no cinema quanto na televisão."
O cineasta relata que tem dois projetos em andamento com o roteirista. Um deles é sobre futebol. No outro, a dupla voltará a se reunir com Fernanda Montenegro. "O João está trabalhando nesses dois filmes há mais de seis meses. Um deles pode ser finalizado durante a novela."
A seguir, trechos da entrevista com Carneiro.
Folha - Na sua estréia, a idéia é levar a linguagem do cinema para a televisão?
João Emanuel Carneiro - "Da Cor do Pecado" é um folhetim com uma condução narrativa que quero que seja muito movimentada. Quando as novelas começaram, os capítulos tinham menos cenas, o telespectador tinha menos cultura audiovisual. Hoje todo mundo vê cinema, está habituado à agilidade da narrativa.
Folha - Qual é a trama?
Carneiro - Ela gira em torno de um jovem milionário do Sul do Brasil que se apaixona por uma moça negra que é feirante em Salvador. Ele tem uma noiva -a vilã- que faz tudo para impedir o romance. Comecei a história imaginando o personagem da vilã. Ela é o motor da trama.
Folha - Qual foi a reação das pessoas do cinema ao saber que você faria televisão?
Carneiro - Se alguém acha que é cafona, estou pouco me lixando. A Globo tem o mérito de investir de forma sistemática para encontrar narradores. O resultado é que a obra deles povoou o imaginário do país nas últimas décadas.
Folha - As novelas da Globo já não têm hegemonia na audiência. O gênero está em crise?
Carneiro - Que eu saiba, as novelas da Globo continuam campeãs no Ibope. Acho que as pessoas mudaram seus hábitos, mas a novela ainda é muito forte.
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