Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
24/06/2003 - 05h55

Roteiro de "Contra Todos" procura tragédia atual

JOSÉ GERALDO COUTO
Colunista da Folha de S.Paulo

O roteiro de "Contra Todos", com a devida justificativa estética, foi a tese de doutorado de Roberto Moreira no curso de cinema da USP, orientada pelo professor e crítico Ismail Xavier.

Além disso, o roteiro foi triplamente premiado: recebeu bolsa da Fundação Vitae e venceu os concursos do Ministério da Cultura e da Prefeitura de São Paulo para filmes de baixo orçamento.

Com isso, Moreira conseguiu praticamente completar os R$ 500 mil necessários para a filmagem e a finalização de "Contra Todos" no suporte digital.

O acabamento para exibição em cinema deverá consumir mais R$ 500 mil, bancados em parte pela Petrobras Distribuidora.

O roteiro de "Contra Todos" é fruto da reflexão de Roberto Moreira sobre as condições de criação de uma tragédia contemporânea, unindo a observação da realidade social com referências a modelos literários clássicos. No filme, uma dessas referências é a peça "Otelo", de Shakespeare.

"Ao localizar a ação em um bairro periférico, procurei uma situação-limite", diz o diretor na apresentação de seu filme, que ele insere numa vertente atual da ficção brasileira, de "relatos brutalistas, anômicos": "É um mundo sem lei, onde a violência permeia as relações sociais, interpessoais e também subjetivas".

Em "Contra Todos" os impulsos eróticos estão muito misturados aos impulsos de destruição. Como notou o crítico Jean-Claude Bernardet, uma das raras pessoas a quem Moreira mostrou o filme, cada fotograma está impregnado de sensualidade.

Não há discurso moral ou explicativo. Os personagens são contraditórios, cheios de arestas e desvãos. A narrativa é elíptica, descontínua, perturbadora.

A façanha mais notável do roteiro e da "mise-en-scène" é a de esconder as costuras de sua construção. Na primeira cena, a família central formada por pai (Giulio Lopes), filha adolescente (Sílvia Lourenço) e madrasta (Leona Cavalli) assiste a um vídeo doméstico com dois amigos.

É quase uma chave para a estética do filme, narrado com a espontaneidade e o frescor de um "home movie" --o que torna ainda mais contundente a tragédia que relata.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página