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26/06/2003 - 03h53

Tom insolente marca paródia de clichês do melodrama em "Zastrozzi"

SERGIO SALVIA COELHO
crítico da Folha

Pouco antes de começar "Zastrozzi", ouve-se o aviso para não tirar fotos com flash e não alimentar os atores em cena. A simpática irreverência, que prepara bem o irônico "freak show" que se segue, pode ser entendida quase como uma autocrítica.

De fato, boa parte do público vai ao teatro como quem vai ao zoológico, para ver de perto o que só se vê pela televisão.

Por mais fascinantes que sejam as feras da TV, é preciso no entanto reconhecer que ao vivo seu repertório é limitado: no zoológico, não há surpresas.

"Zastrozzi", de 1977, é uma peça de juventude de George Walker, que conquistou em seguida grande sucesso comercial no Canadá. Paródia dos clichês do melodrama, discutindo a eterna luta entre o bem e o mal com uma desenvoltura de história em quadrinhos, é ponto de partida para um exercício de atores, que podem se divertir como crianças brincando de mocinho e bandido.

Mais inteligente que a maioria das peças do gênero besteirol, o texto não chega no entanto a revolucionar velhos clichês, como faz Quentin Tarantino em seus filmes, por exemplo.

Selton Mello é um ator extremamente carismático e inventivo, embora um
pouco monocórdico. Nas mãos de um bom diretor, que não o deixe fazer apenas o que lhe é confortável, pode render muito. Na direção desse espetáculo, no entanto, é como se Mello passasse aos colegas todos os seus defeitos e qualidades.

O elenco, assim, segue marcas ágeis e criativas, com a precisão garantida pelo preparador corporal Dani Hu, grande mestre de kung fu.
Mas Ângelo Paes Leme, por exemplo, faz o antagonista Verezzi, o artista do bem que sempre sorri, sempre sorrindo. Natália Lage faz a mocinha ingênua de modo ingênuo; Gisele Câmara, a má sensual, é má e sensual, e por aí vai.

Depois que o público já identificou de onde já viu cada um dos atores, nem mesmo as projeções de vinhetas ou trocas à vista do cenário precário evitam o tédio que se instala. Mesmo o filme "Matrix" tem mais profundidade.

Diálogos engraçados e o entusiasmado "timing" dos atores ajudam a driblar a eventual irritação por um certo narcisismo do elenco, que ostenta um tom insolente de quem representa mal de propósito.

É preciso não cair na armadilha e apreciar a peça pelo que ela é: uma diversão inconsequente. Não se deixe levar por afirmações em contrário -"Zastrozzi" é uma peça para ver com pipoca e refrigerante. Só não vá alimentar o ego dos atores.

Zastrozzi
Texto:
George Walker
Direção: Selton Mello e Daniel Herz
Com: Selton Mello, Natália Lage, Ângelo Paes Leme
Onde: Teatro Folha (shopping Pátio Higienópolis, av. Higienópolis, 618, piso 2, SP, tel. 0/xx/ 11/3823-2323)
Quando: sex. (21h30), sáb. (20h e 22h) e dom. (19h). Até 27/7
Quanto: R$ 30 (sexta) e R$ 40 (sábado e domingo)
Patrocinadores: Brasil Telecom e Eletrobrás
 

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