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25/08/2000
-
04h33
da Folha de S.Paulo
Há poucos dias, o ator Paulo José proclamava, durante o Festival de Gramado, que "nós fazemos o melhor cinema brasileiro do mundo". Longe de ser uma observação acaciana, a frase lembra que cinema -como qualquer arte- é lugar de investigação, autoconhecimento e troca de uma população.
Não vem ao caso ser melhor. A questão é ser, em suma.
A história vem ao caso porque o cinema inglês, historicamente, é quase com certeza o único que não é o melhor cinema inglês do mundo.
Pesa sobre ele a fatalidade de partilhar com os Estados Unidos a mesma língua. Concorrência pesada. Quando um Alfred Hitchcock ou um Stephen Frears aparecem, Hollywood logo vai buscá-los. E lá se vai o melhor cinema inglês do mundo para os EUA.
Tudo isso vem ao caso a propósito de "Zona de Conflito", filme com o qual Tim Roth, ator britânico com várias idas e vindas pelo Atlântico, estréia na direção.
Roth filma movido pelo desejo de fazer uma arte voltada à Grã-Bretanha e não ao mercado norte-americano.
Foi isso que fez a força do cinema inglês no começo dos anos 80, até que Margareth Thatcher lhe cortasse as asinhas do financiamento oficial e o atirasse ao mercado -vale a dizer, condenou-o a vegetar à espera de projetos capazes de emplacar nos EUA.
Com o fim da era Thatcher, o cinema inglês ameaça um "renascimento" à moda do brasileiro. Isto é, um parto difícil.
"Zona de Conflito" parece ser a prova desse momento delicado. Roth busca um tema ousado, o incesto, e procura trabalhá-lo dentro da tradição acadêmica.
Faz um filme, digamos assim, bem à inglesa: ousado no tema, mas sem ousadia nenhuma. Auto-absorvente. Os personagens -pai e filha incestuosos, o irmão que observa o caso a princípio revoltado e depois tentando compreendê-lo- não são apenas respeitados. São mantidos a uma prudente distância do espectador.
Mesmo quando procura se mostrar chocante, Roth constrói cenas que seria preciso usar lunetas para se sentir próximo delas. Isso não impediu o filme de ganhar uma penca de prêmios na Europa e mesmo de obter simpatia crítica nos EUA. No caso, essa acolhida parece expressar mais o respeito pelo ator que é Tim Roth e o desejo de ver o cinema inglês ressurgir. (INÁCIO ARAUJO)
Zona de Conflito
The War Zone
Direção: Tim Roth
Produção: Inglaterra, 1999
Com: Ray Winstone, Tilda Swinton, Lara Belmont, Freddie Cunliffe Quando: a partir de hoje no Top Cine 2 e no Belas Artes
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Tim Roth usa tema ousado em filme inglês tradicional
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Há poucos dias, o ator Paulo José proclamava, durante o Festival de Gramado, que "nós fazemos o melhor cinema brasileiro do mundo". Longe de ser uma observação acaciana, a frase lembra que cinema -como qualquer arte- é lugar de investigação, autoconhecimento e troca de uma população.
Não vem ao caso ser melhor. A questão é ser, em suma.
A história vem ao caso porque o cinema inglês, historicamente, é quase com certeza o único que não é o melhor cinema inglês do mundo.
Pesa sobre ele a fatalidade de partilhar com os Estados Unidos a mesma língua. Concorrência pesada. Quando um Alfred Hitchcock ou um Stephen Frears aparecem, Hollywood logo vai buscá-los. E lá se vai o melhor cinema inglês do mundo para os EUA.
Tudo isso vem ao caso a propósito de "Zona de Conflito", filme com o qual Tim Roth, ator britânico com várias idas e vindas pelo Atlântico, estréia na direção.
Roth filma movido pelo desejo de fazer uma arte voltada à Grã-Bretanha e não ao mercado norte-americano.
Foi isso que fez a força do cinema inglês no começo dos anos 80, até que Margareth Thatcher lhe cortasse as asinhas do financiamento oficial e o atirasse ao mercado -vale a dizer, condenou-o a vegetar à espera de projetos capazes de emplacar nos EUA.
Com o fim da era Thatcher, o cinema inglês ameaça um "renascimento" à moda do brasileiro. Isto é, um parto difícil.
"Zona de Conflito" parece ser a prova desse momento delicado. Roth busca um tema ousado, o incesto, e procura trabalhá-lo dentro da tradição acadêmica.
Faz um filme, digamos assim, bem à inglesa: ousado no tema, mas sem ousadia nenhuma. Auto-absorvente. Os personagens -pai e filha incestuosos, o irmão que observa o caso a princípio revoltado e depois tentando compreendê-lo- não são apenas respeitados. São mantidos a uma prudente distância do espectador.
Mesmo quando procura se mostrar chocante, Roth constrói cenas que seria preciso usar lunetas para se sentir próximo delas. Isso não impediu o filme de ganhar uma penca de prêmios na Europa e mesmo de obter simpatia crítica nos EUA. No caso, essa acolhida parece expressar mais o respeito pelo ator que é Tim Roth e o desejo de ver o cinema inglês ressurgir. (INÁCIO ARAUJO)
Zona de Conflito
The War Zone
Direção: Tim Roth
Produção: Inglaterra, 1999
Com: Ray Winstone, Tilda Swinton, Lara Belmont, Freddie Cunliffe Quando: a partir de hoje no Top Cine 2 e no Belas Artes
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