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04/07/2003
-
04h01
da Folha de S.Paulo
A premissa da relação pai e filho é boa, o trabalho de animação por computador é impecável, mas o grande tesouro de "Procurando Nemo" vem sendo lapidado desde os primeiros curtas de John Lasseter e da equipe da Pixar, no final dos anos 80: o domínio do ritmo e da piada.
Não é fácil. Marlín, o peixe-palhaço que protagoniza a história, não faz ninguém rir de imediato, apesar do nome. Depois de presenciar a morte da mulher e das centenas de futuros "Marlín Jr.", atacados ao mesmo tempo por um predador, o peixinho listrado apega-se a uma única ova sobrevivente: Nemo.
Medroso, Marlín torna-se um pai superprotetor e vive alertando o filho para os perigos de nadar no mar aberto. Defeituoso de uma nadadeira, resultado do mesmo ataque em que perdeu a mãe e os irmãzinhos, o pequeno Nemo, no entanto, revela ter nem a metade do medo do pai, decide encarar o desafio e... vai parar em um aquário de um mergulhador em Sydney, na Austrália.
Daria para enumerar umas 350 animações nessa linha, perda-trauma-perda-superação, e logo de cara vem à memória "Mogli 2", da Disney, e "A Era do Gelo", de Chris Wedge.
Mas a verdade é que "Procurando Nemo" nada para muito além disso, para mares nunca dantes navegados na construção de cenários e, sobretudo, na complexidade dos personagens.
Aproveitando as características biológicas de cada espécie, o roteirista Andrew Stanton ("Toy Story") compõe as passagens, diálogos e o bom humor da narrativa em cima dos traços naturais da "personalidade" de tartarugas (preguiçosas, porém sábias), tubarões (ameaçadores, porém instintivos) e de alguns peixes menores e sua tendência a viver em cardumes, seus hábitos de "higiene" e sua memória curta. Menção à parte mereceria a "neurose" dos peixes nascidos e criados em aquários domésticos.
Que a animação de seres humanos ainda esteja engatinhando diante da tecnologia disponível atualmente pouco importa: os grandes clássicos, de Disney aos Looney Tunes da Warner, nunca nos dispensaram muita atenção mesmo. Mas sejam brinquedos, monstros, galinhas ou peixinhos, o resultado reforça sempre a medida de nós próprios. Trágicos e engraçados, solidários e egoístas, são invariável e irremediavelmente humanos. Ao menos na voz.
Avaliação:
Procurando Nemo (Finding Nemo)
Produção: EUA, 2003
Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte, Ibirapuera e circuito.
Leia mais
Com "Procurando Nemo", competição emerge na animação
Sucesso da Pixar pode ofuscar recorde da Disney
"Procurando Nemo" comprova humor à prova d'água
DIEGO ASSISda Folha de S.Paulo
A premissa da relação pai e filho é boa, o trabalho de animação por computador é impecável, mas o grande tesouro de "Procurando Nemo" vem sendo lapidado desde os primeiros curtas de John Lasseter e da equipe da Pixar, no final dos anos 80: o domínio do ritmo e da piada.
Não é fácil. Marlín, o peixe-palhaço que protagoniza a história, não faz ninguém rir de imediato, apesar do nome. Depois de presenciar a morte da mulher e das centenas de futuros "Marlín Jr.", atacados ao mesmo tempo por um predador, o peixinho listrado apega-se a uma única ova sobrevivente: Nemo.
Medroso, Marlín torna-se um pai superprotetor e vive alertando o filho para os perigos de nadar no mar aberto. Defeituoso de uma nadadeira, resultado do mesmo ataque em que perdeu a mãe e os irmãzinhos, o pequeno Nemo, no entanto, revela ter nem a metade do medo do pai, decide encarar o desafio e... vai parar em um aquário de um mergulhador em Sydney, na Austrália.
Daria para enumerar umas 350 animações nessa linha, perda-trauma-perda-superação, e logo de cara vem à memória "Mogli 2", da Disney, e "A Era do Gelo", de Chris Wedge.
Mas a verdade é que "Procurando Nemo" nada para muito além disso, para mares nunca dantes navegados na construção de cenários e, sobretudo, na complexidade dos personagens.
Aproveitando as características biológicas de cada espécie, o roteirista Andrew Stanton ("Toy Story") compõe as passagens, diálogos e o bom humor da narrativa em cima dos traços naturais da "personalidade" de tartarugas (preguiçosas, porém sábias), tubarões (ameaçadores, porém instintivos) e de alguns peixes menores e sua tendência a viver em cardumes, seus hábitos de "higiene" e sua memória curta. Menção à parte mereceria a "neurose" dos peixes nascidos e criados em aquários domésticos.
Que a animação de seres humanos ainda esteja engatinhando diante da tecnologia disponível atualmente pouco importa: os grandes clássicos, de Disney aos Looney Tunes da Warner, nunca nos dispensaram muita atenção mesmo. Mas sejam brinquedos, monstros, galinhas ou peixinhos, o resultado reforça sempre a medida de nós próprios. Trágicos e engraçados, solidários e egoístas, são invariável e irremediavelmente humanos. Ao menos na voz.
Avaliação:
Procurando Nemo (Finding Nemo)
Produção: EUA, 2003
Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte, Ibirapuera e circuito.
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