Publicidade
Publicidade
10/07/2003
-
07h18
free-lance para a Folha
Amante inconteste de agudos e pianíssimos, provocador crítico de ópera no Rio de Janeiro dos anos 30 e 40, o Nelson Rodrigues que ocupa tradicionalmente o palco em peças ou adaptações de contos chega agora à cena na forma de "drama lírico".
Escrito em 1946, interditado pela censura, dirigido por Ziembinski e montado pelo núcleo do futuro Teatro Popular de Arte de Maria Della Costa e Sandro Polloni em 1948, o seu "Anjo Negro" faz pré-estréia para convidados com versão operística, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Pertencente ao ciclo chamado de "teatro desagradável" pelo autor, o texto mostra a tortuosa relação do casal Virgínia e Ismael. Casada a contragosto, ela é branca e mata os filhos que tem com o marido, um médico negro inconformado com a própria cor.
O diretor André Heller ("Domitila") é responsável pela idéia e pela concepção do espetáculo. A música foi criada pelo compositor e regente João Guilherme Ripper. Assina a direção musical de "Anjo Negro" o maestro Abel Rocha.
"Achava que era preciso fazer uma ópera a partir do Nelson. A complexidade das situações, o surrealismo de algumas cenas, o simbolismo da peça se traduzem bem no formato", diz Heller, que completa 32 anos de idade hoje.
Tudo começou há cerca de dez anos, quando o artista frequentava o Estúdio do Ator, de Walmor Chagas. Ele interpretou um papel de "Vestido de Noiva" (1943), gostou, correu às compras dos livros rodriguianos e passou tempos depois a alentar um projeto de transmutar teatro em ópera.
"Há monólogos que parecem árias, cenas que rendem duetos perfeitos. Há a questão racial, mas a questão maior, a meu ver, é a da intolerância com a diferença", afirma Heller.
Para o encenador, "a música tem uma linguagem que não se preocupa com o fato de ser moderna ou antiga, mas com a comunicação com o público". O canto é realizado em português.
Sebastião Teixeira, barítono que encarna Ismael, é negro como o personagem. "Isso era importante para mim", diz Heller. Na primeira montagem teatral, na década de 40, Orlando Guy foi pintado com graxa preta. Nelson Rodrigues desaprovava a opção, praxe em "peças sérias", e preferia o ator negro Abdias do Nascimento.
Em 2001, a obra do dramaturgo rendeu um produto operístico. "Bis!", com direção cênica de Ricardo Guilherme e musical de Laércio Resende, participou do projeto Pocket Opera, no Sesc Ipiranga. Era inspirado no conto "A Dama do Lotação", de "A Vida como Ela É...".
ANJO NEGRO
Concepção: André Heller
Direção musical: Abel Rocha
Música: João Guilherme Ripper
Com: Regina Elena Mesquita, Sebastião Teixeira, Rubens Medina, Andrea Ferreira, Maude Salazar, Edna d'Oliveira, Solange Siquerolli, Magda Painno, Adriana Clis, Eduardo Amir, Murilo Neves e músicos
Quando: pré-estréia hoje, para convidados; estréia amanhã, ao público, às 19h30; de qui. a dom., às 19h30; até 3/8
Onde: CCBB - teatro (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651)
Quanto: R$ 15
Patrocinador: Banco do Brasil
Nelson Rodrigues chega ao palco via ópera
PEDRO IVO DUBRAfree-lance para a Folha
Amante inconteste de agudos e pianíssimos, provocador crítico de ópera no Rio de Janeiro dos anos 30 e 40, o Nelson Rodrigues que ocupa tradicionalmente o palco em peças ou adaptações de contos chega agora à cena na forma de "drama lírico".
Escrito em 1946, interditado pela censura, dirigido por Ziembinski e montado pelo núcleo do futuro Teatro Popular de Arte de Maria Della Costa e Sandro Polloni em 1948, o seu "Anjo Negro" faz pré-estréia para convidados com versão operística, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Pertencente ao ciclo chamado de "teatro desagradável" pelo autor, o texto mostra a tortuosa relação do casal Virgínia e Ismael. Casada a contragosto, ela é branca e mata os filhos que tem com o marido, um médico negro inconformado com a própria cor.
O diretor André Heller ("Domitila") é responsável pela idéia e pela concepção do espetáculo. A música foi criada pelo compositor e regente João Guilherme Ripper. Assina a direção musical de "Anjo Negro" o maestro Abel Rocha.
"Achava que era preciso fazer uma ópera a partir do Nelson. A complexidade das situações, o surrealismo de algumas cenas, o simbolismo da peça se traduzem bem no formato", diz Heller, que completa 32 anos de idade hoje.
Tudo começou há cerca de dez anos, quando o artista frequentava o Estúdio do Ator, de Walmor Chagas. Ele interpretou um papel de "Vestido de Noiva" (1943), gostou, correu às compras dos livros rodriguianos e passou tempos depois a alentar um projeto de transmutar teatro em ópera.
"Há monólogos que parecem árias, cenas que rendem duetos perfeitos. Há a questão racial, mas a questão maior, a meu ver, é a da intolerância com a diferença", afirma Heller.
Para o encenador, "a música tem uma linguagem que não se preocupa com o fato de ser moderna ou antiga, mas com a comunicação com o público". O canto é realizado em português.
Sebastião Teixeira, barítono que encarna Ismael, é negro como o personagem. "Isso era importante para mim", diz Heller. Na primeira montagem teatral, na década de 40, Orlando Guy foi pintado com graxa preta. Nelson Rodrigues desaprovava a opção, praxe em "peças sérias", e preferia o ator negro Abdias do Nascimento.
Em 2001, a obra do dramaturgo rendeu um produto operístico. "Bis!", com direção cênica de Ricardo Guilherme e musical de Laércio Resende, participou do projeto Pocket Opera, no Sesc Ipiranga. Era inspirado no conto "A Dama do Lotação", de "A Vida como Ela É...".
ANJO NEGRO
Concepção: André Heller
Direção musical: Abel Rocha
Música: João Guilherme Ripper
Com: Regina Elena Mesquita, Sebastião Teixeira, Rubens Medina, Andrea Ferreira, Maude Salazar, Edna d'Oliveira, Solange Siquerolli, Magda Painno, Adriana Clis, Eduardo Amir, Murilo Neves e músicos
Quando: pré-estréia hoje, para convidados; estréia amanhã, ao público, às 19h30; de qui. a dom., às 19h30; até 3/8
Onde: CCBB - teatro (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651)
Quanto: R$ 15
Patrocinador: Banco do Brasil
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Alice Braga produzirá nova série brasileira original da Netflix
- Sem renovar contrato, Fox retira canais da operadora Sky
- Filósofo e crítico literário Tzvetan Todorov morre, aos 77, em Paris
- Quadrinhos
- 'A Richard's estava perdendo sua cara', diz Ricardo Ferreira, de volta à marca
+ Comentadas
- Além de Gaga, Rock in Rio confirma Ivete, Fergie e 5 Seconds of Summer
- Retrospectiva celebra os cem anos da mostra mais radical de Anita Malfatti
+ EnviadasÍndice