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24/07/2003 - 03h23

Boyle não traz nada de inédito, apesar da nova roupagem

PEDRO BUTCHER
Crítico da Folha de S.Paulo

Resumindo muito grosseiramente, "Extermínio", de Danny Boyle, é um filme de zumbi metido à besta. Apesar do tratamento formal moderno, com imagens captadas em vídeo pelo fotógrafo Anthony Dod Mantle (de "Festa de Família" e "Mifune", dois dinamarqueses do movimento Dogma 95), o conteúdo é o mesmo de antigas produções baratas, misturando horror, ficção científica e catástrofe. Nada que já não se tenha visto antes, com nova roupagem.

"Extermínio" marca a volta de Danny Boyle ao cinema comercial depois de duas experiências digitais realizadas para a rede britânica de televisão BBC, que permaneceram praticamente inéditas fora da Inglaterra.

Essas, por sua vez, se seguiram a duas malsucedidas experiências hollywoodianas ("Por uma Vida Menos Ordinária", de 97, e "A Praia", de 2000). Boyle traçou o mais típico percurso dos cineastas elevados à categoria cult (com "Cova Rasa", de 1994, e "Trainspotting", de 1996), quebrando a cara ao partir para projetos de orçamentos elevados.

"A Praia", primeiro filme com Leonardo DiCaprio após o megafenômeno "Titanic", foi considerado uma megadecepção.

Com "Extermínio", ele está se reerguendo praticamente do nada. O filme estreou muito modestamente nos Estados Unidos, mas vem conseguindo bilheteria surpreendente.

Boyle realizou um trabalho visivelmente barato e pouco ambicioso, que o obrigou a buscar soluções visuais criativas. As imagens mais impressionantes do filme estão nos planos que mostram Londres absolutamente deserta depois da devastação de um vírus fabricado em laboratório.

Esse vírus, de características especiais, desperta nos mortais uma raiva incontrolável. Tem efeitos mais psicológicos do que físicos, apesar de deixar as pessoas com aspecto horrendo. Quem é infectado torna-se como um zumbi que ataca furiosamente quem passa pela frente.

É curioso assistir a gêneros como o filme de zumbi e o filme catástrofe, tão identificados com o cinema americano, em um filme inglês. O que ganha contornos ainda mais interessantes após a união Bush-Blair para atacar o Iraque e, agora, com as consequências devastadoras que as supostas mentiras da guerra estão provocando na imagem do britânico Tony Blair.

O cinema inglês, ou pelo menos parte dele, passou por um processo de quase mimetização com o cinema dominante norte-americano. E Boyle, certamente, foi o representante da nova geração que mais se aproximou dessa mimetização.

Com a Inglaterra se metendo em confusões de Estado tão identificadas com a violência extrema e o horror, é sintomático que o cinema inglês, tão identificado com o humanismo de Ken Loach e Mike Leigh, comece a produzir suas catástrofes próprias. E elas estão ligadas a um processo de homogeneização com fortes tendências fascistas, como mostra a parábola de Danny Boyle.

Avaliação:

Extermínio
Produção: Holanda/Grã-Bretanha/EUA
Direção: Danny Boyle
Com: Cillian Murphy, Naomie Harris, Christopher Eccleston, Megan Burns, Brendan Gleeson
Quando: estréia em circuito nacional a partir de amanhã
 

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