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24/07/2003
-
05h28
da Folha de S.Paulo, em São José do Rio Preto
Com ausências importantes de última hora e uma programação bem menor no horário alternativo (o lugarNenhum tem sido um caçula bem mais comportado do que já foi a marca de distinção do evento), o 3º Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto escapa do esvaziamento graças às marcantes participações estrangeiras e a um painel representativo do teatro em tempo de recessão.
Excetuando-se a esperada superprodução "Os Sete Afluentes do Rio Ota" e o cenário vistoso de "A Lavanderia", produção da cidade, os espetáculos têm sido marcados por uma economia de meios, valendo-se sobretudo do talento dos atores e da criatividade da cenografia.
Assim, sobrevivem os mais flexíveis. O Teatro da Vertigem reencontrou seu "Paraíso Perdido" na bela Basílica de Rio Preto, e a companhia Cemitério de Automóveis, forjada em muitos festivais, testou a resistência de seus atores (Fernanda d'Umbra chegou a se envolver em cinco espetáculos em quatro dias), com sua mistura de um texto criado para o jogo dos atores e de marcas surpreendentemente sofisticadas.
Assim, em "Nossa Vida Não Vale um Chevrolet", um inesquecível duelo de improvisos entre os atores-diretores Mário Bortolotto e Jairo Mattos era entremeado por um enterro sugerido apenas pela postura dos atores, em uma solução essencial que remete ao diretor inglês Peter Brook.
Novidades
Entre as novidades, a Cia. Livre, fiel ao seu despojamento, criou duas peças curtas do dramaturgo alemão Franz Xaver Kroetz, com os atores mostrando a passagem de tempo ao deslocar os poucos elementos do cenário.
Ambos os textos, "Cidade Alta" e "O Ninho", que formam uma sequência temática que faz lembrar as peças didáticas brechtianas, flertam com o naturalismo ao construir a narrativa por cenas curtas e cotidianas, contando com a entrega total dos atores. Eucir de Souza, o marido comum às duas peças, faz valer sua sensibilidade e contenção, e Tatiana Thomé impressiona pelo modo como se torna vulnerável em cena. Raquel Tamaio, que também é a diretora de "Cidade Alta", faz a mulher da segunda peça caindo às vezes no melodrama.
Além disso, um ritmo muitas vezes ralentado e a perigosa presença de uma televisão em cena, que contagia com eficácia excessiva sua mediocridade, impedem os espetáculos de decolar.
No extremo oposto, "Partida", do Teatro da Conspiração, evoca a violência e a marginalidade da periferia dispensando todo recurso realista. A diretora Solange Dias lança mão de recursos da tragédia grega, com coro e coreografia elaborados, sem perder a linguagem cotidiana nos diálogos. Um desafio corajoso, infelizmente comprometido pela fragilidade do elenco, que se aplica com energia, mas faz soar ingênuo um texto declamado.
De toda forma, na corda bamba entre o muito que se há para dizer e os poucos recursos que existem para isso, os artistas presentes ao festival sempre podem contar com a presença maciça e o olhar atento do público da cidade -outro diferencial que torna o festival de teatro de São José do Rio Preto imprescindível.
3º FESTIVAL INTERNACIONAL DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Quando: de 17 a 27/7
Quanto: de R$ 2,50 a R$ 10, ou grátis.
Informações: pelo tel. 0/xx/ 17/ 3215-1830 ou no site www.festivalriopreto.com.br
Especial
Veja a programação e acompanhe o Festival Internacional de Teatro de Rio Preto
Peças são marcadas por economia de meios
SERGIO SALVIA COELHOda Folha de S.Paulo, em São José do Rio Preto
Com ausências importantes de última hora e uma programação bem menor no horário alternativo (o lugarNenhum tem sido um caçula bem mais comportado do que já foi a marca de distinção do evento), o 3º Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto escapa do esvaziamento graças às marcantes participações estrangeiras e a um painel representativo do teatro em tempo de recessão.
Excetuando-se a esperada superprodução "Os Sete Afluentes do Rio Ota" e o cenário vistoso de "A Lavanderia", produção da cidade, os espetáculos têm sido marcados por uma economia de meios, valendo-se sobretudo do talento dos atores e da criatividade da cenografia.
Assim, sobrevivem os mais flexíveis. O Teatro da Vertigem reencontrou seu "Paraíso Perdido" na bela Basílica de Rio Preto, e a companhia Cemitério de Automóveis, forjada em muitos festivais, testou a resistência de seus atores (Fernanda d'Umbra chegou a se envolver em cinco espetáculos em quatro dias), com sua mistura de um texto criado para o jogo dos atores e de marcas surpreendentemente sofisticadas.
Assim, em "Nossa Vida Não Vale um Chevrolet", um inesquecível duelo de improvisos entre os atores-diretores Mário Bortolotto e Jairo Mattos era entremeado por um enterro sugerido apenas pela postura dos atores, em uma solução essencial que remete ao diretor inglês Peter Brook.
Novidades
Entre as novidades, a Cia. Livre, fiel ao seu despojamento, criou duas peças curtas do dramaturgo alemão Franz Xaver Kroetz, com os atores mostrando a passagem de tempo ao deslocar os poucos elementos do cenário.
Ambos os textos, "Cidade Alta" e "O Ninho", que formam uma sequência temática que faz lembrar as peças didáticas brechtianas, flertam com o naturalismo ao construir a narrativa por cenas curtas e cotidianas, contando com a entrega total dos atores. Eucir de Souza, o marido comum às duas peças, faz valer sua sensibilidade e contenção, e Tatiana Thomé impressiona pelo modo como se torna vulnerável em cena. Raquel Tamaio, que também é a diretora de "Cidade Alta", faz a mulher da segunda peça caindo às vezes no melodrama.
Além disso, um ritmo muitas vezes ralentado e a perigosa presença de uma televisão em cena, que contagia com eficácia excessiva sua mediocridade, impedem os espetáculos de decolar.
No extremo oposto, "Partida", do Teatro da Conspiração, evoca a violência e a marginalidade da periferia dispensando todo recurso realista. A diretora Solange Dias lança mão de recursos da tragédia grega, com coro e coreografia elaborados, sem perder a linguagem cotidiana nos diálogos. Um desafio corajoso, infelizmente comprometido pela fragilidade do elenco, que se aplica com energia, mas faz soar ingênuo um texto declamado.
De toda forma, na corda bamba entre o muito que se há para dizer e os poucos recursos que existem para isso, os artistas presentes ao festival sempre podem contar com a presença maciça e o olhar atento do público da cidade -outro diferencial que torna o festival de teatro de São José do Rio Preto imprescindível.
3º FESTIVAL INTERNACIONAL DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Quando: de 17 a 27/7
Quanto: de R$ 2,50 a R$ 10, ou grátis.
Informações: pelo tel. 0/xx/ 17/ 3215-1830 ou no site www.festivalriopreto.com.br
Especial
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