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03/08/2003
-
12h17
da Folha de S.Paulo
O sucesso pode ser o maior inimigo do artista. Eric Rohmer disse uma vez que, quando um de seus filmes faz sucesso, logo faz outro sem nenhuma chance comercial, pois nunca quis tornar-se prisioneiro de seus êxitos.
Walter Salles fez muito sucesso com "Central do Brasil", e isso quase o obrigou a tentar fazer outro "Central do Brasil". Não é razoável pedir isso, e é normal que seus filmes seguintes não tenham tido a mesma repercussão.
Agora esperamos seu trabalho sobre Che Guevara. Talvez seja um recomeço. Assim é também em "O Primeiro Dia". Estamos no Rio, na virada do ano de 1999 para o de 2000. Não muda o século, não muda o milênio (história de o milênio começar no ano 1), mas não há passagem simbólica mais forte do que essa --é quando se espera que tudo mude.
Aqui há dois personagens básicos: uma mulher de classe média, abandonada pelo marido (ou namorado), e um triste marginal. Suas histórias correm paralelas: classes diferentes, mundos diferentes. Algo fará com que se encontrem, no topo de um prédio, à meia-noite. A rica e o pobre. A cultivada e o bronco. A bela e a fera, enfim. Pois com frequência Salles parece querer enunciar uma fábula. Aqui a moral sugere uma trégua de classes, ou pacto social, como se diz.
Veio o ano 2000 e desmoralizou Nostradamus. Veio o século 21. Excluídos e incluídos acham-se igualmente distantes. Capital e trabalho não se deram as mãos como no "Metrópolis" de Fritz Lang. Aliás, o capital se esvai, e o trabalho desaparece.
Estamos em 2003, e o primeiro dia da nova era, da regeneração prometida em "Central", ainda não chegou. Estamos esperando esse dia, assim como que Salles reencontre o sucesso (ou que chute o pau da barraca e desencane disso).
"O Primeiro Dia"
Quando: Canal Brasil (1h30).
"O Primeiro Dia" anuncia era que não chegou
INÁCIO ARAUJOda Folha de S.Paulo
O sucesso pode ser o maior inimigo do artista. Eric Rohmer disse uma vez que, quando um de seus filmes faz sucesso, logo faz outro sem nenhuma chance comercial, pois nunca quis tornar-se prisioneiro de seus êxitos.
Walter Salles fez muito sucesso com "Central do Brasil", e isso quase o obrigou a tentar fazer outro "Central do Brasil". Não é razoável pedir isso, e é normal que seus filmes seguintes não tenham tido a mesma repercussão.
Agora esperamos seu trabalho sobre Che Guevara. Talvez seja um recomeço. Assim é também em "O Primeiro Dia". Estamos no Rio, na virada do ano de 1999 para o de 2000. Não muda o século, não muda o milênio (história de o milênio começar no ano 1), mas não há passagem simbólica mais forte do que essa --é quando se espera que tudo mude.
Aqui há dois personagens básicos: uma mulher de classe média, abandonada pelo marido (ou namorado), e um triste marginal. Suas histórias correm paralelas: classes diferentes, mundos diferentes. Algo fará com que se encontrem, no topo de um prédio, à meia-noite. A rica e o pobre. A cultivada e o bronco. A bela e a fera, enfim. Pois com frequência Salles parece querer enunciar uma fábula. Aqui a moral sugere uma trégua de classes, ou pacto social, como se diz.
Veio o ano 2000 e desmoralizou Nostradamus. Veio o século 21. Excluídos e incluídos acham-se igualmente distantes. Capital e trabalho não se deram as mãos como no "Metrópolis" de Fritz Lang. Aliás, o capital se esvai, e o trabalho desaparece.
Estamos em 2003, e o primeiro dia da nova era, da regeneração prometida em "Central", ainda não chegou. Estamos esperando esse dia, assim como que Salles reencontre o sucesso (ou que chute o pau da barraca e desencane disso).
"O Primeiro Dia"
Quando: Canal Brasil (1h30).
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