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04/08/2003 - 10h52

Gil propõe intercâmbio entre rappers e repentistas

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, propôs na sexta-feira a rappers paulistanos um programa de intercâmbio com repentistas nordestinos. A proposta foi lançada na abertura do festival "Agosto Negro", na Prefeitura de São Paulo, durante solenidade com Gil e representantes do movimento local de hip hop.

Afirmando que os rappers norte-americanos desenvolvem a técnica do improviso e que os brasileiros ainda não aprenderam a fazê-lo, Gil promoveu uma votação entre os presentes. Queria saber se eles aceitariam viajar para Campina Grande (PB), com apoio do Ministério da Cultura, para um encontro com repentistas da Casa do Cantador.

Presente na mesa, o rapper Thaíde, um dos iniciadores do hip hop em São Paulo, respondeu a Gil em forma de improviso, contestando que os rappers daqui não dominassem a técnica.

"Com relação a vocês as pessoas ainda não sabem. Acham que vocês não têm essa parte da mente desenvolvida", respondeu o ministro, que diante da votação positiva se comprometeu a viabilizar o encontro entre o "rap" e o "rep".

Thaíde leu em voz alta o protocolo de intenções que o movimento entregava ao MinC, em nome da Comissão Força Hip Hop. O documento propõe ações integradas entre o ministério e comunidades ligadas ao hip hop.

"Vou mandar protocolar. O MinC se sente estimulado em ver vocês finalmente começando a acrescentar às suas linguagens a linguagem documental, que sacramenta a ligação entre vocês e o Estado, entre vocês e a política", disse Gil.

Houve exposições da prefeita Marta Suplicy, do secretário municipal de Cultura, Celso Frateschi, do coordenador de Juventude da Prefeitura, Alexandre Youssef, e de vários representantes da cultura hip hop.

Manifestações dos rappers evidenciaram a novidade do contato oficial com instâncias municipais e federais de governo. "Os manos e as minas, quem diria, a gente aqui nesta casa. Satisfação, satisfação", disse Rappin" Hood, que defendeu que o hip hop precisa crescer também em qualidade.

Pioneiro dançarino de break, Nelson Triunfo foi chamado à mesa pelo rapper Xis e deu testemunho parecido. "No começo jogavam creolina na calçada para não podermos dançar na rua. Tomei muita porrada da polícia, fui preso várias vezes, mas resistência é resistência", afirmou.
O secretário Frateschi sublinhou a intenção do governo de utilizar eventos como o "Agosto Negro" como meios de inclusão social e desenvolvimento cultural. "O que queremos fazer é quase uma catequese ao viés: permitir que a cidade aprenda a cidade, não que sua elite imponha uma cultura à cidade, como sempre foi", disse, conclamando os rappers a que "ocupem seu espaço institucional nos conselhos regionais de cultura".

Gil discursou valendo-se de batuques na mesa, trechos de rap de sua autoria ("o povo sabe o que quer/ mas o povo também quer o que não sabe", fez a platéia repetir) e filosofia oriental.

Classificou os rappers como uma nova geração ("eu sou da outra geração") e pregou o "respeito a cada uma das muitas correntes, sem fundamentalismos, sem hegemonias, sem que cada corrente queira ser a dona da verdade".

Cobrou à comunidade hip hop a lembrança de sua raiz brasileira e aconselhou: "Vocês têm que ser humildes. Dorival Caymmi já era seu pai, antes de vocês. Não percam a humildade. Cuidado".

Daí abriu caminho à proposta de união entre rap e repente, que encerrou o evento. O debate acabou não se caracterizando como tal -ao final, pessoas da platéia protestaram: "Cadê o debate?".
 

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