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10/08/2003 - 04h51

Livro - lançamento: Em "Diário", jornalismo sério também é bonito

CLÓVIS ROSSI
Colunista da Folha de S.Paulo

O que primeiro chama a atenção no livro "Diário de Bagdá" é que se trata de um livro de rara beleza.

O leitor convencional tem todo o direito de achar politicamente incorreto falar de beleza a respeito de uma obra que trata da guerra. Guerra nunca é uma coisa bonita. Tem também o direito de achar que é fútil pensar em beleza quando se fala de jornalismo sério.

Mas "Diário de Bagdá" prova que:

1-) Imagens bonitas podem, às vezes, falar mais sobre a crueldade do que pilhas de sangue.

2-) Jornalismo sério pode ser bonito, não apenas no texto, mas no seu aspecto gráfico.

A beleza das imagens se deve, como é óbvio, ao notável Juca Varella, um dos fotógrafos mais brilhantes de um país que é pródigo em grandes profissionais da área. Mas se deve também (ou principalmente?) ao casamento de imagem e texto.

Pena que, nos últimos muitos anos, vicissitudes econômicas tenham limitado profundamente o uso, pelos jornais brasileiros, de duplas repórter/fotógrafo na cobertura de eventos internacionais.

A Folha, Sérgio Dávila e Juca Varella romperam a regra. O leitor do jornal ganhou, como ganhará agora o leitor do livro, uma espécie de edição ampliada, corrigida e melhorada dos textos a quente enviados de Bagdá e das fotos idem.

Não é um casamento fácil. Reportagem tem um forte componente subjetivo, até arbitrário. Um relato pode nascer do impacto causado nos sentidos de um repórter por sons, cores, caras, gentes, cheiros. O impacto será diferente em cada repórter.

Quando dois deles se juntam para o mesmo relato (em texto e foto), conseguir sintonizar cada impacto não é trivial.

A beleza do livro está dada também pelo resgate de uma verdade simples, mas que corre o permanente risco de ser sepultada por toneladas de teorias sobre a comunicação: jornalismo é, antes e acima de tudo, o ofício de contar bem boas histórias.

Boas histórias estavam disponíveis em cachos na Bagdá em guerra. Contá-las bem é que são elas. Dávila e Varella o fizeram. Primeiro, porque são profissionais de talento, o que já haviam comprovado em trabalhos anteriores. Segundo, porque escolheram a beleza do básico, do simples.

Para Dávila, tratou-se de contar a história pelo ângulo dos bombardeados (o que, de resto, fornece o subtítulo do "Diário"). Já seria uma escolha importante e correta. Mas acho que os dois fizeram mais que isso.

Explico: é lícito supor que 99% ou mais dos brasileiros não têm a mais remota idéia do que seja Bagdá. Nem mesmo guias turísticos básicos estão disponíveis em português, a julgar pela bibliografia nessa matéria (em inglês) a que os dois tiveram que recorrer.

É igualmente lícito supor que porcentagem idêntica de brasileiros não tenha a mais tênue vivência de uma guerra. Pois bem: a TV transformou Bagdá e a guerra em assunto virtualmente hegemônico à época. Mas puxando, quase sempre e quase todos, por outros ângulos: político, geopolítico, armas de destruição em massa, terrorismo e Saddam Hussein, até "choque de civilizações".

O trabalho básico de contar como é Bagdá, como é Bagdá em guerra e como vivem os bagdalis, esse foi o foco de Dávila/Varella, com o que conseguiram a proeza (jornalística e também mercadológica) de juntar a fome (por informações) com a vontade de oferecê-las ao público brasileiro.

O resultado esteve nas páginas desta Folha e está agora no livro. Só tem um defeito: me mata de inveja, porque, em vez de escrever a resenha, queria mesmo é ter escrito o livro.

Diário de Bagdá - A Guerra Segundo os Bombardeados
Autores: Sérgio Dávila (texto) e Juca Varella (fotos)
Editora: DBA
Quanto: R$ 59 (144 págs.)

 

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