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13/08/2003
-
08h56
da Folha de S.Paulo
Numa sociedade marcada pelo poder e a sedução da imagem, utilizar-se desse paradigma para fazer arte é uma espécie de "pacto com o demônio". O artista plástico Vik Muniz vem se utilizando dessa estratégia há algum tempo, ao apropriar-se de imagens conhecidas, seja da história da arte (série do chocolate), ou de situações e pessoas comum (série do açúcar) e reconstruindo-as com materiais inusitados.
"Trabalho com o inconsciente coletivo da nossa época. É uma função demoníaca, pois o observador vai achar que já viu tal imagem, mas ao se aproximar, percebe que é outra coisa", conta.
A partir de hoje, Muniz apresenta mais um desdobramento desse seu pacto. Agora, sua matéria-prima são soldadinhos de plástico, café e insetos coloridos. É o caso da fotografia "A Rosa Branca". De longe, parece ser uma flor comum, mas, de perto, vê-se que ela é construída com pequenos insetos de plástico. "Vi em meu jardim como as flores são infestadas de insetos", diz o artista.
Nem sempre as fotos de Muniz são construídas de forma tão antagônica. "Trabalho entre a conformidade e a total contradição", diz o artista. Na categoria conformidade, "Largo de São Francisco" é um bom exemplo. Muniz se utilizou de uma fotografia de Militão de Azevedo, que retratou São Paulo no final do século 19, e a refez com grãos de café, o símbolo do enriquecimento paulista. Pode parecer um tanto óbvio usar o café para falar sobre São Paulo, mas sem dúvida cabe perfeitamente dentro do pacto de Muniz.
Ainda na mesma categoria, o artista mostra três fotografias inspiradas no belicismo norte-americano. Pequenos soldados de plásticos formam imagens de um cavalo, de um índio e de um adolescente que lutou na Guerra Civil.
Duas inovações estão presentes nas novas obras. A primeira é que os elementos que criam as imagens são fotografados em tamanho natural, o que faz com que as obras tenham mais de dois metros de altura. A segunda é que em vez de registrar os trabalhos de frente, como costuma fazer, Muniz faz as fotos de ângulos diferentes, o que gera dimensões variadas nos próprios elementos, como os soldadinhos.
A mostra recebe ainda uma série de desenhos feitos a partir de fotografias coletadas pelo artista em álbuns de estranhos. Aqui, ocorre de fato um verdadeiro festim diabólico --e, por que não, antropofágico. Muniz usa típicas fotos de viagens, como mulheres sentadas num canhão, e as refaz incluindo pequenos detalhes.
O artista se apresenta também no Paço Imperial, no Rio, a partir de amanhã, com a nova série "Retratos de Revista", na qual registra personalidades como Camila Pitanga, Lula e João Ubaldo Ribeiro. "Sou um estudante da mídia. Tenho um fascínio clínico por revistas de celebridades, a idéia de uma pessoa ser muito conhecida é fascinante", diz Muniz.
TRABALHOS MONÁDICOS E "FOTOGRAFIAS"
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 3032-7066)
Quando: abertura hoje, 20h; ter. a sex., das 10h às 19h, sáb., das 10h às 17h; até 13/9
Quanto: entrada franca
Leia mais
Los Carpinteros desenham e modelam espaço
Vik Muniz apresenta obras que apelam para o poder da imagem
FABIO CYPRIANOda Folha de S.Paulo
Numa sociedade marcada pelo poder e a sedução da imagem, utilizar-se desse paradigma para fazer arte é uma espécie de "pacto com o demônio". O artista plástico Vik Muniz vem se utilizando dessa estratégia há algum tempo, ao apropriar-se de imagens conhecidas, seja da história da arte (série do chocolate), ou de situações e pessoas comum (série do açúcar) e reconstruindo-as com materiais inusitados.
"Trabalho com o inconsciente coletivo da nossa época. É uma função demoníaca, pois o observador vai achar que já viu tal imagem, mas ao se aproximar, percebe que é outra coisa", conta.
A partir de hoje, Muniz apresenta mais um desdobramento desse seu pacto. Agora, sua matéria-prima são soldadinhos de plástico, café e insetos coloridos. É o caso da fotografia "A Rosa Branca". De longe, parece ser uma flor comum, mas, de perto, vê-se que ela é construída com pequenos insetos de plástico. "Vi em meu jardim como as flores são infestadas de insetos", diz o artista.
Nem sempre as fotos de Muniz são construídas de forma tão antagônica. "Trabalho entre a conformidade e a total contradição", diz o artista. Na categoria conformidade, "Largo de São Francisco" é um bom exemplo. Muniz se utilizou de uma fotografia de Militão de Azevedo, que retratou São Paulo no final do século 19, e a refez com grãos de café, o símbolo do enriquecimento paulista. Pode parecer um tanto óbvio usar o café para falar sobre São Paulo, mas sem dúvida cabe perfeitamente dentro do pacto de Muniz.
Ainda na mesma categoria, o artista mostra três fotografias inspiradas no belicismo norte-americano. Pequenos soldados de plásticos formam imagens de um cavalo, de um índio e de um adolescente que lutou na Guerra Civil.
Duas inovações estão presentes nas novas obras. A primeira é que os elementos que criam as imagens são fotografados em tamanho natural, o que faz com que as obras tenham mais de dois metros de altura. A segunda é que em vez de registrar os trabalhos de frente, como costuma fazer, Muniz faz as fotos de ângulos diferentes, o que gera dimensões variadas nos próprios elementos, como os soldadinhos.
A mostra recebe ainda uma série de desenhos feitos a partir de fotografias coletadas pelo artista em álbuns de estranhos. Aqui, ocorre de fato um verdadeiro festim diabólico --e, por que não, antropofágico. Muniz usa típicas fotos de viagens, como mulheres sentadas num canhão, e as refaz incluindo pequenos detalhes.
O artista se apresenta também no Paço Imperial, no Rio, a partir de amanhã, com a nova série "Retratos de Revista", na qual registra personalidades como Camila Pitanga, Lula e João Ubaldo Ribeiro. "Sou um estudante da mídia. Tenho um fascínio clínico por revistas de celebridades, a idéia de uma pessoa ser muito conhecida é fascinante", diz Muniz.
TRABALHOS MONÁDICOS E "FOTOGRAFIAS"
Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 3032-7066)
Quando: abertura hoje, 20h; ter. a sex., das 10h às 19h, sáb., das 10h às 17h; até 13/9
Quanto: entrada franca
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