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18/08/2003 - 08h30

Gramado quer privilegiar a arte em vez do glamour

da Folha de S.Paulo

Com a exibição no Palácio dos Festivais, nesta noite, da produção paulista "De Passagem", longa-metragem de estréia de Ricardo Elias, começa a competição entre cinco filmes brasileiros inéditos no 31º Festival de Gramado - Cinema Brasileiro e Latino.

O privilégio ao ineditismo é um primeiro passo da organização de Gramado no objetivo de obter da Fiapf -Federação Internacional das Associações de Produtores de Filmes, que regulamenta os festivais internacionais- a classificação "A", reservada às mostras que sediam estréias.

O crítico Luís César Cozatti, integrante do comitê de seleção dos filmes que competem em Gramado, diz que o objetivo do festival é "servir de alavanca para mostrar o inédito, o experimentalismo, trabalhos artísticos que vão além do mero comercialismo".

A intenção esbarra em pelo menos dois empecilhos. Há anos Gramado consolidou um perfil de "festival de estrelas". E as estrelas, como se sabe, pertencem muito mais ao universo da TV do que propriamente do cinema.

Resulta daí o fato de que o tapete vermelho por onde circulam astros da telenovela acaba sendo o mais ressaltado aspecto dos dias de festival.

Arte x glamour

"Essa é uma tensão permanente [entre a consistência artística e a frivolidade do glamour]", diz Cozatti. "Queremos garantir qualidade em primeiro lugar. Depois, vêm as concessões, que são inevitáveis e podem ser feitas. Mantido o critério estético, a programação pode e deve ganhar espaço até na revista "Caras'", afirma.

O segundo obstáculo à meta dos curadores de destacar a criação artística que ultrapasse o "comercialismo" está na escassez da oferta de produções com esse perfil.

Apesar da onda de entusiasmo do público [os lançamentos nacionais já alcançaram a marca de 10 milhões de ingressos vendidos em 2003, contra um total de 7,2 milhões durante todo o ano de 2002] e da crítica com a qualidade dos filmes brasileiros recentes, o curador diz ter observado que "apenas a produção de documentários está numa média de alto padrão".

É de esperar, portanto, altos e baixos na seção ficcional, que peneirou cinco filmes entre 50 considerados.

Em categoria à parte, quatro filmes documentais competem nesta edição da mostra. Entre eles está "O Prisioneiro da Grade de Ferro", filme de Paulo Sacramento sobre a vida de presidiários no Carandiru, que venceu neste ano o festival É Tudo Verdade e representará o Brasil na seção Novos Territórios do próximo Festival de Veneza (de 27 de agosto a 6 de setembro).

Exemplo

Quanto ao quinteto de longas latinos -também inéditos em circuito comercial brasileiro- que completam a disputa de títulos de ficção, Cozatti diz tratar-se do "crème de la crème".

Sobre o espanhol "Los Lunes al Sol" (Segundas ao Sol), de Fernando León de Aranoa -que também será exibido hoje, antes de "De Passagem"-, o curador diz: "O Brasil devia se mirar nesse exemplo. Ele não tem medo de pegar o touro à unha, no caso, a mazela do desemprego, e fazer disso não um panfleto político, mas mostrar seu efeito erosivo na vida das pessoas".

"Los Lunes al Sol" foi indicado pela Espanha ao Oscar de melhor estrangeiro em 2003, numa decisão que preteriu "Fale com Ela", de Pedro Almodóvar.

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