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21/08/2003 - 03h50

Coleção de gravações ressuscita histórias do The Fevers

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Nos anos 60, The Fevers eram um dos principais conjuntos de acompanhamento dos astros da jovem guarda (ou iê-iê-iê), Roberto Carlos à frente. Nos 70, se tornaram um dos grupos pop mais bem-sucedidos do Brasil, em termos comerciais. Nos 80, vários de seus ex-integrantes viraram diretores e produtores de grandes gravadoras.

Dois deles continuam nos Fevers, que hoje acumulam 38 anos de vida. Passada a febre de sucesso, os que se tornaram diretores hoje atuam como produtores independentes.

É uma história frequente nos bastidores da indústria musical, que pode ser visualizada agora com a edição em CD de uma coleção com todos os discos dos Fevers, gravados entre 1966 e 1976.

Como integrantes de conjuntos de apoio ou grupos de apelo popular, eles não chegam a constar das listas de astros da MPB ou de músicos de qualidade reconhecida. Dissolvidos seus grupos, tornaram-se peças centrais na engrenagem da máquina de fazer sucesso.

"Os Fevers faziam parte do movimento, mas não eram da primeira linha da jovem guarda", avalia hoje o ex-saxofonista Miguel Plopschi, 55.

A história do grupo foi excêntrica: enquanto a jovem guarda se dissolvia, em 68, os Fevers saíam para a fase de maior sucesso comercial, com hits próprios e dezenas de covers de rocks internacionais (vertidos ao português ou cantados em inglês mesmo).

Liebert Ferreira, 56, baixista dos Fevers de 65 até hoje, explica o porquê: "Os discos estrangeiros demoravam a chegar ao Brasil. Nós gravávamos os maiores sucessos internacionais e lançávamos antes aqui".
Têm em comum rejeitar o rótulo "brega". Diz Plopschi: "Nós gravávamos a música da moda, versões do que estava nas paradas do mundo todo e portanto não podiam ser chamados de bregas".

O ex-guitarrista Pedrinho da Luz, 58, adiciona: "Existe o brega "bregaço" e o brega de classe. Peninha é brega? Não é. Caetano Veloso só fez sucesso na vida quando cantou "Sozinho", do Peninha".

No palco e atrás dele

Pelos Fevers passaram nomes como o romeno estabelecido no Brasil Plopschi e o pernambucano radicado carioca Michael Sullivan, que vinha do conjunto Renato e Seus Blue Caps e virou vocalista dos Fevers nos 80.

Foi nessa década que Plopschi virou diretor artístico da RCA (hoje BMG), alavancando inédito sucesso comercial para Tim Maia, Gal Costa, Sandra de Sá, Fagner, Alcione, Lulu Santos, Lobão etc.

Tim cantava "Me Dê Motivo" e "Leva", ele e Gal emplacavam "Um Dia de Domingo", Sandra de Sá sacudia "Joga Fora no Lixo", Alcione ia de "Nem Morta", Rosana estourava "Nem Um Toque".

Todas eram compostas por Sullivan em parceria com Paulo Massadas (egresso do conjunto do organista iê-iê-iê Lafayette). Os dois ainda produziam os discos milionários de Xuxa.

Outros Fevers conheceram a febre do sucesso nos bastidores. Pedrinho da Luz foi diretor artístico de Sidney Magal e Peninha nos 70. Liebert Ferreira produziu Reginaldo Rossi por 20 anos.

Em inglês

Tal prática extravasou nos 70 para o hábito de cantores brasileiros se lançarem como supostos ídolos estrangeiros ocultos sob pseudônimos, como Morris Albert (do hit "Feelings") e Mark Davis (Fábio Jr.). Ivanilton, dos Blue Caps, virou Michael Sullivan e emplacou "My Life" (76).

Sullivan, 53, relembra: ""My Life" vendeu 1 milhão de compactos. Compus 1.200 músicas, vendi 60 milhões de discos como produtor, até 95". E comenta a reação adversa que o rótulo Sullivan-Massadas ainda suscita: "Quando você faz muito sucesso, vira vilão, é normal. O que faço é pop, popular, mundial. Sempre fiz com música o que gostava de fazer".

Atribui à experiência de músico de bailes sua versatilidade: "Toquei Little Richard, Pink Floyd, Roberto Carlos, Martinho da Vila. Anisio Silva e João Gilberto eram para mim a mesma coisa, um cantando bolero e outro bossa nova".
 

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